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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Vida itinerante de uma bancária (V)- por Socorro Moreira


Fevereiro de 1979

No Banco do Brasil, quando um funcionário desejava acertar as suas contas ou queria mudar sua rotina, pleiteava uma adição. Num tempo limitado, a partir de três meses, ganhávamos diárias, que representava a duplicação do salário.
Foi divulgado que por ocasião da inauguração da Ag. De Lábrea,(AM) existiriam vagas para adição. Fortaleza enviaria três funcionários. A lista de concorrentes era expressiva.
Numa noite de pleno Carnaval, na AABB, cruzei com o Gerente Maia, e confessei-lhe: “olha, eu estou precisando desta oportunidade!”.
Quarta-feira de cinzas, meu nome constava na lista dos indicados.
Dois dias depois estava voando para Manaus, em seguida para Porto Velho (Ro), de onde finalizaríamos o percurso para Lábrea, num avião pequeno ,mono- motor. Encontramos-nos, os adidos, na expectativa daquela aventura. Éramos 12, incluindo a implantadora.
Quando nos acomodamos na aeronave, o silêncio era mortal. Sobrevoar a selva Amazônica, sem a segurança técnica, nos atemorizava.
Uns 40 minutos depois estávamos aterrissando, na terra prometida. Fim do mundo, civilização primitiva. A cidade construiu um hotelzinho para nos receber. Saímos à noite, em grupo, para o reconhecimento da cidade e pessoas. Cervejinha, com sal e limão, nas bordas da lata.Nunca gostei de cerveja, optei pelo guaraná Baré (deliciosos!). Auxiliadora, a implantadora, mineira, tocava um violão maneiro. Minervino, potiguar, gostava de cantar.
Rômulo Rolim, irmão do Jair, pertencia ao grupo de adidos.
O tempo não passava. Os dias me pareciam infinitamente longos.
Curtíamos e sofríamos: a chuva diária , o pôr-do-sol deslumbrante, as picadas de carapanã, as pescarias e banhos no Purus, a natureza exuberante,  as viagens para Porto Velho, Humaitá, e Letícia , na Colômbia, aproveitando o tempo de estadia. Nas pequenas viagens, nos cotizávamos e pagávamos os fretes de avião.
As vezes tínhamos dinheiro no bolso, e nada para comprar. Salvavam-nos as castanhas do Pará, o leite condensado, e a polpa de cupuaçu. A economia básica era borracha e madeira. Nada de agricultura e Pecuária.
O maior desafio meu, como bancária, foi elaborar a primeira folha de pagamento da Agência. Fiz os cálculos minuciosos, em cima da CIC, e trabalhei os “espelhos”, numa NCR.
A cidade era festiva. Dançávamos carimbó , quase todos os dias, no clube social.
Diziam do alto índice de lepra, na região, mas  conseguimos não nos apavorar.
Quando cumprimos o tempo  mínimo previsto, respirei aliviada pela não renovação.do contrato. A experiência tinha sido muito forte.Às vezes achava que havia morrido, e estava ora no céu, ora no inferno, ora no purgatório.
À volta, na parada em Manaus, enchemos as nossas malas de coisinhas importadas. Presentes pra todos os amigos e familiares!
Cortei meus cachos, pintei o cabelo de vermelho, e encarei Fortaleza com um novo visual... Quase ET!
Um ano depois, me despedia em definitivo de Fortaleza, transferida para o Cesec de Juazeiro do Norte, recém inaugurado. Era o ano de 1980!

2 comentários:

jair rolim disse...

Socorro só quem é do Banco entende o que é pegar uma CIC (coletania de instruçoes circular) e fazer uma folha de pagto do pessoal de uma Agencia. Nao deixar erros a fim de evitar uma rebordosa de uma auditoria. Passar esse tempo longe da família, fazendo a mesma rotina que poderiamos estar fazendo em nossa cidade. Mostrar conhecimento e capacidade para os colegas daquela agencia uma vez que vamos suprir deficiencia de pessaol. Tamb´lem estive adido em Natal por um periodo de 6 meses. É uma boa experiencia, porém tem seus sacrificios. Romulo me falou que ficou logo apavorado e passava mais tempo bebendo cana que trabalhando. Imagino que você tenha enfretado um verddeiro inferno. No final vale a experiencia. Estou adorando sua lembranças, ja ja vai chegar nas partes boas que voce passou pelo banco.
Um abraço
Jair Rolim

socorro moreira disse...

Estas siglas estavam esquecidas por mim. Em toda experiência vivemos o lado obscuro e o lado luminoso.

Abraços, Jair !