eu perdi o meu chapéu
quando o vento lá da serra
carregou com sua força
e foi parar no Grangeiro
mas chapéu é pra cabeça
que não pode levar sol
se não pensar
ele enfeita
se pensar demais,
explode !
tiro o chapéu pra poesia
pintura e fotografia ...
o músico tira o chapéu
pra cantar loa na feira
caí vintém,
e até cruzeiro
só não acho que é real
o cache do violeiro.
chapéu- de- couro é bolo
que a minha vó bem fazia
mistura de milho e açúcar
canela , ovo e manteiga
uma pitada de erva doce
a mistura mais perfeita
botava na frigideira
e dividia em pedaços
pras netas bem comportadas
que não falavam besteiras.
vovô usava chapéu
que vinha do Panamá
comprado com muito gosto
Eu ficava com a caixa
pra esconder meus tesouros
tinha até fita encarnada
anel com pedra de vidro
carmim, e frasco de cheiro
espelho , e um 3 x 4
que eu ganhei do namorado
oferecido no verso
"pra que você não me esqueça"!
Tudo passa
até o cheiro
tudo morre em janeiro
ou em qualquer fevereiro
mas renasce a esperança
do novo em caixa grande
e da pequena intenção
brota em todo coração
um sonho pra vida inteira !.
Abro a caixa do passado
e sacudo a esperança
pincelo o seu desbotado
e deixo da cor da folha
o manto do agasalho
vejo estrelas que esperam
olhares que se despregam
pra voltar no fim do ano.
deixo a palavra na pauta
pros versos de mais adiante
E por ser de madrugada
chamo a lua da "calçada"
mas ela não me responde !
voce também , dos repentes ...
vá pra calçada e encomende
uns versos de violeiro !
Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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