Estudante de 14 anos consegue ler 300 páginas em uma hora e chega a devorar até sete livros em um dia.
por Allan de Abreu, de São José do Rio Preto
Crédito: Rubens Cardia/Folhapress
Em 51 minutos, você faz a parada do almoço, assiste à metade do filme Salt com a bela Angelina Jolie ou, dependendo da sua conexão, faz o download de um arquivo de 700 megas pela internet. Luís Antonio Gonçalves Netto lê um livro de 274 páginas. Foi esse o tempo que o estudante de 14 anos levou para terminar Rota 66, de Caco Barcelos, diante da perplexa reportagem de Galileu. E não pense que foi truque. Ao final da leitura, aconchegado no sofá de sua sala, resumiu a história, explicou passagens e destacou os trechos de que mais gostou. Descontado o tempo para virar as folhas, Luís gastou em média 9 segundos para percorrer cada página de texto — este repórter demorou mais de 40 para terminar o mesmo trecho.
O estudante é tido como exemplo de leitura e começou a dar palestras na escola onde estuda, a Esquema Universitário, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Mas não foi sempre assim. Até dezembro do ano passado, quando cursava o 9º ano (antiga 8ª série) do Ensino Fundamental, era um aluno mediano. Só lia por obrigação o que era pedido em aula, a uma velocidade comum (60 páginas em uma hora), e começou a tirar notas baixas no colégio. Foi quando o pai propôs um “castigo”: se tirasse alguma nota vermelha, teria de ler dez livros nas férias.
A nota vermelha apareceu: ele errou o nome das 13 colônias da América do Norte, e por pouco não ficou de recuperação em história. Mas o tropeço serviu para despertar a habilidade até então desconhecida. “Meu pai chegou com os dez livros, e peguei O Código Da Vinci, de Dan Brown. Comecei a ler e não conseguia parar.” O desafio continuou com Marley e Eu, de John Grogan, O Livreiro de Cabul, de Åsne Seierstad, e Fortaleza Digital, também de Dan Brown. Ao final das dez obras, já conseguia vencer 100 páginas em uma hora.
O “treinamento” continuou acelerado — até o fechamento desta edição, ele dizia ter devorado 342 obras, 120 delas só nas férias de julho, quando chegava a completar sete por dia. “Leio de tudo, romance, história, autoajuda. E nunca deixei de terminar um livro”, diz. Nas suas preferências literárias estão Jorge Amado, Machado de Assis, Agatha Christie e Jô Soares. “Não existe livro ruim, só uns que não são tão bons.” Entre as façanhas, Luís afirma ter lido as 1.417 páginas de A Grande Guerra pela Civilização, do jornalista inglês Robert Fisk, em 5 horas, e a Bíblia de cabo a rabo em 6 horas (com um intervalo de 30 minutos para o almoço). Como ele consegue fazer isso? “É provável que tenha uma memória fotográfica excelente, acima da média do ser humano. Por isso identifica e absorve rapidamente as palavras”, afirma Luiz Celso Villanova, professor do departamento de neurologia da Universidade Federal de São Paulo.
“No começo eu espiava para ver se ele não pulava página. Não dava para acreditar que alguém conseguisse ler tão rápido”, afirma o pai, o vendedor Luís Evandro Gonçalves. Mas o estudante, que move os olhos em velocidade altíssima para a esquerda e para a direita durante a leitura, garante não perder uma linha. Sua concentração impressiona. “A gente pode chamar, fazer barulho, que ele não tira o olho do que está lendo”, diz a mãe, a dona de casa Maria do Carmo Moraes Gonçalves. Luís mostra que está “aquecido”. Se no início do ano demorava uma hora para chegar à primeira centena de páginas, com Rota 66 atingiu a marca em pouco mais de 18 minutos. “Nunca tinha lido nada desse autor. É o que faz Profissão Repórter na Globo, não é? Vou pedir para o meu pai comprar um livro dele.” Mais um título para a estante do quarto, abarrotada com cerca de 400 obras.
Tanta leitura facilitou a escrita, e Luís diz ter melhorado em redação. Atualmente, escreve um livro, um suspense policial. Como escritor, no entanto, o desempenho é outro: em um mês, foram apenas três páginas. “É muito mais difícil”, diz. Apesar do gosto pela leitura, ele leva uma vida normal de adolescente: sai com amigos, vai ao cinema, se arrisca no videogame. Não sem antes ler algum livro, o que, diz, é “sagrado” após o almoço. “Leio pelo menos um. É quase um vício.”
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI166286-17773,00-LEITURA+DINAMICA.html
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