AUTORRETRATO
COM VOTOS DE ANO NOVO
Quiseram-me para padre
mas era muito difícil
viver com a molecada
no seminário dos padres
(dos futuros padres – na marra!
porque muitos são chamados
e poucos os escolhidos
– e quem não é escolhido
vai para os quintos do inferno!)
O jeito foi descobrir
a poesia – sinal de liberdade
com um anjo de cada lado
e as duas mãos de Deus no meio
Deus nunca mais me largou
por mais que eu esperneasse
fizesse o diabo a quatro
e ficasse todo estropiado
de não ter mais jeito não
A poesia nunca mais me largou
por maior que fosse a preguiça
e esperasse que os poemas
caíssem se espiralando do céu
– nem que fosse o céu das cabras
ou dos bodes chupando manga
Poesia é iluminação
mas Deus não dá assim de graça
é preciso quebrar a cabeça
o joelho e o tornozelo
brigar com os anjos como Jacó
tirar leite da pedra
e sangue da terra
(Verdade que certos poemas
não têm jeito não
Como talvez
este que lês
que é como pau que nasce torto
Também, não briguei com a cobra
nem briguei com nenhum anjo)
Juro que sou feliz
como Mário de Andrade
que morria de sofrer
mas achava a vida gozada
e proclamava: “A própria dor
é uma felicidade.”
Neste ano que principia
desejo a todos muita poesia
paz, saúde e alegria
Deus esteja com vocês
meus amigos, meus inimigos
(mas eu não tenho inimigos!)
As sementes do amor
se multipliquem em todos
os corações – e Viva a vida!
2 comentários:
Maravilha de texto e sinceridade de propósitos, foi essa minha leitura.
Obrigada pelo presente de ANO NOVO. Que isto seja recíproco e verdadeiro.
Abraço, José Carlos.
Claude
José Carlos Brandão,
grande poeta e meu amigo
imenso e forte abraço
...
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