"claude"
nas minhas mãos
apenas os vazios das cores
que embelezam as formas da feiúra
nessa cidade sempre mais escura
nos meus olhos
cores pálidas,
em descompasso
com as curvas do meu coração
onde renasce a rua andré cartaxo
com suas noites infinitamente
guardadas em palavras
espalhadas no chão
ou mais que isso:
o tom latente do verso
um esboço em giz pastel
entremeando-se, na paisagem,
num esforço em salvar-me
do que não sou
sem escolha para os sentimentos
sem escolha de agir
contra as armadilhas das sorpresas
no chão
apenas a ausência dos meus passos
colheitas parcas de sonhos amortecidos
a voz de velhos de amigos
que se querem esquecidos
porque o longe, senhores, é inimigo
de quem ama e se vê envolto de abismos
como quem cumpre um destino
nem sede ou fome
apenas o sabor do tempo
desenhos de nomes na fala
silêncios grafites em verso
no meu poema,
verdadeiros pedaços de mim
porque eu sou minha poesia
eu sou a minha rua de menino
e mesmo essa cidade
onde brotam dores nas paredes
e o belo se faz hesitante
num incessante desejo de criar-se
mesmo essa cidade sou eu
de olhos ofuscados de medo
nas minhas mãos
apenas os vazios das cores
numa música que seria
talvez o único remédio
contra a solidão e a tristeza
2 comentários:
Não sei como se sentiu ao ler os textos que mesclei aos seus, mas a mim emociona ler como a poesia flui pela sintonia, pela simbiose das idéias, pelo sentimento uno que passeia pelas linhas dos versos.
Abraço,
Claude
Na primeira vez que você formou o novo poema com as partes que escrevemos, posso falar que me senti, digamos, diante de um espelho. Senti-me do outro lado, justamente pelas razões que você aponta: sintonia, simbiose etc. A resultante, sem dúvida, é um sentimento ímpar.
Uma coisa é uma pessoa ler um poema, sentir um certo estranhamento e gostar. Outra é penetrar direto na sintonia do autor. Talvez seja algo parecido com o mecanismo da compaixão. Mecanismo não é a melhor palavra, mas é o que me veio à mente. Na compaixão, colocamo-nos inconscientemente na posição do outro, sentimos o seu sentir diante de algo, sentimos o peso que o outro sente.
Talvez seja isso.
Abraço...
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