EU ERA UM ANJO
Eu era um anjo.
As asas me doíam no dorso cansado.
Os pássaros do sol
descansavam nos meus ombros.
Eu era um espantalho no milharal.
As palavras caíam dos meus bolsos.
Não havia mais nada a dizer,
eram palavras gastas pelo uso.
As árvores balançavam ao vento.
Os pássaros caíam como folhas secas.
Eu me deitei no húmus aconchegante
com as feridas expostas.
CIÊNCIA
Estou só no universo.
Estou nu, exponho-me.
Ninguém me vigia,
ninguém dá por mim.
Penso quem sou,
infindavelmente.
Um campo de trigo,
dourado ao sol,
espera-me.
Ouço o moinho do tempo,
ensurdecedor.
Deus sabe-me,
mas, sábio, cala.
Um comentário:
José Carlos,
Esses dois últimos poemas teus sobretudo, tocaram-me em profusão.
Pelo que apresentas como tangível e pelo que se insinua nas entrelinhas.
Maravilha!
Claude
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