Nos tempos eletrônicos desta hora, para onde estirar a vista, distâncias imensas deixaram de limitar as estradas humanas. Querem claridade, haja claridade no primeiro botão detrás da porta. Ambiente climatizado, só estirar o braço e acionar a chave. Saber das horas, e enterrar as unhas no teclado para acender o celular. Emergência, acionar o telefone. Uma música feliz, façam-se os sucessos do momento. Notícias quentes, o plantão da televisão. Segue, assim, o esplendor das maravilhosas máquinas, a ponto quase de virar sonho eletroeletrônico de noite querer ir ao banheiro e mover o clone virtual para atender às necessidades. Carros, máquinas, comunicações, diversões, viagens, compromissos, encomendas, saúde, clima, educação, amizades, família, gama infinita de ordens cumpridas nos apelos da técnica.
O aperfeiçoamento tecnológico causa espanto às gerações que agora buscam apressadas novidades do progresso em passeios de fim de tarde. Automóveis falam. Deficientes dirigem. Casas obedecem. Palestrantes ensinam à distância. Médicos operam na tela do computador. Crianças brincam de engenharia antes mesmo de falar. Pais recorrem aos filhos na compra de seus instrumentos de consumo quais clientes procuram monitores para tirar quantias financeiras. Aviões desbravam estratosferas como rotineira pesquisa. Resultado das mudanças, por debaixo da aparência, norteando o futuro, corre todo tempo um rio de fenômenos inimagináveis pelas artérias da sociedade.
Ninguém alimenta desejos de retornar ao período em que não existiam as facilidades modernas. Banho quente no inverno era de cuia, e lembrar que os imperadores, na Idade Média, por exemplo, nada sabiam do que revelou a ciência desta fase atual. Visões do paraíso nunca chegaram tão perto, prazerosas, quanto nestes dias dos circuitos elétricos utilizados.
No andar do comentário, bem aqui, afloram as conclusões dos argumentos em duas alternativas. Ou querer interpretar a ingratidão das pessoas que dispõem de tudo e ainda reclamam de barriga cheia. Ou agir qual criança a quem o triste vira festa, no açúcar do presente.
Corretos da política, no entanto, veem poucos motivos de euforia nos aparelhos carregados nos fios da parede, porquanto exigem melhoria no sistema geral. A saúde pública precisa cumprir o seu papel e servir melhor a população. As ruas andam carcomidas de buracos e valas arriscadas. Uma injustiça social crônica insiste divide as populações, também nos países ditos ricos. O ensino discrimina e realimenta exclusões sociais, invés de resolver o vazio da conscientização das massas. Poucos têm muito e muitos têm quase nada. Violência, drogas, prostituição infantil, trânsito caótico, angústia, eis algumas das mazelas de solução precária por parte da técnica, a depender do desenvolvimento da mentalidade dos seus usuários, sinal do quanto resta para realizar neste chão comum, tarefa que cabe a todos nós, sem nenhuma exceção.
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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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quinta-feira, 14 de abril de 2011
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3 comentários:
Emerson,
Estive um pouco ausente e hoje me deparo com esta crônica inteligente, cheia de reflexões.
Como sempre esbanja talento com estas letrinhas em forma de palavras.
Gostei muito!
Abraço!
Sim, Edilma, notei sua ausência. O carinho de tuas observações toca de perto na inspiração do que produzo.
Abraço.
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