Ele chegava sempre no final da tarde, sem pressa. Andar lento, passadas largas, cabeça baixa e com o seu cobertor debaixo do braço. Tinha um ar sisudo, sempre de cara fechada. Se dizia homem corajoso e responsável no seu trabalho.
Vestia calça azul, camisa clara, kepe de segurança na cabeça e levava o emblema da empresa no peito. Quando por acaso sorria, via-se que lhe faltavam os dentes da frente. Talvez esse fosse um dos motivos de estar sempre sério. Uma figura !
No final do expediente dos funcionários da manutenção, as 17 horas, reclamava se colocassem algum avião no seu canto predileto para dormir. E ficava muito aborrecido quando levavam para os voos de doentes a maca que fazia de sua cama. Eram tantas reclamações ao seu patrão que não podia dormir, que causava o riso de todos.
_ Assim não dá! Levaram minha cama de novo hoje a tarde, como vou dormir sem cama? Eu sou um homem velho, o corpo está cansado, preciso dormir direito. E ainda tem mais essas mouriçocas que não me deixam em paz, tenho que me cobrir todo.
O vigia era um folclore. Não dava conta dos pequenos furtos que aconteciam, como, ferramentas, revistas e comissarias dos aviões ou qualquer objeto que ficasse esquecido na noite do seu serviço.
Certo dia, os pilotos resolveram pregar uma peça no vigia do hangar. Como a maca dos doentes estava fora, o dito cujo se esticou na mesa de trabalho das chapas metálicas que se encontrava bem no meio do hangar para dormir. O seu ronco soava alto e forte entre os aviões, num sono profundo. Os pilotos pegaram as pernas da mesa e bem devagar, levaram o vigia com mesa e tudo para o meio do pátio de manobras. Contaram, 1,2 e 3. Bateram na mesa e gritaram de uma só vez...
_ Seu vigia cadê os aviões ?
Ele espantado, abriu os olhos e viu o céu todo estrelado. Sentou na mesa e disse :
_ Valha me Deus! Roubaram o hangar com avião e tudo!
Um comentário:
Eita, Edilma,
Tu querias um vigia desse em tua casa? (risos)
A história foi ótima!
Abraço,
Claude
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