Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 3 de junho de 2011

A Filha do Rio Verde – por Armando Lopes Rafael



Lembro-me bem do meu primeiro livro de leitura. Era um volume fino e comprido, em papel couché, capa grossa e com o titulo “A Filha do Rio Verde”, escrito por Lúcia Miguel Pereira (foto ao lado). Contava a história de uma menina que um dia subira em um peixe e descendo o Rio Verde fora conhecer novas paisagens e descobrir o mundo. Devia ter por volta de 6 a 7 anos quando recebi este livro, dado por meu pai, Antônio Rafael Dias, um entusiasta dos livros, o qual, com o presente, incentivava-me ao hábito da leitura. Coisa que se tornou presente no meu modo de vida até os presentes dias.

Só adulto, senti na plenitude aquele gesto do meu pai. Homem pobre, com muitos filhos para criar, o livro que me presenteara – adquirido numa livraria de Crato, em meados dos anos cinquenta – deve ter custado a ele um bom dinheiro, dado o seu modesto salário. Em troca, restou em mim uma doce recordação que guardei ao longo da minha existência.

Outro dia, recebi um exemplar do Jornal da ANE-Associação Nacional dos Escritores, entidade presidida por José Peixoto Júnior, caririense de Caririmirim (ou Caririzinho) vilarejo localizado no lado pernambucano da Chapada do Araripe. Lá estava publicado um artigo sobre Lúcia Miguel Pereira, a autora de “A Filha do Rio Verde”. Consta no jornal a seguinte informação: “Miguel Pereira, o grande médico brasileiro das duas primeiras décadas do século passado, teve uma vasta prole. Lúcia Vera, ou apenas Lúcia, como ela mesmo se encarregou de simplificar, foi a segunda dos seus seis filhos, precedida apenas pela irmã Helena. Nascida em 12 de dezembro de 1901, era mineira por acaso. Sua mãe, para fugir do calor do verão do Rio de Janeiro, passava uma temporada em Barbacena, quando deu à luz, sem tempo de voltar ao Rio para fazê-lo, como era seu desejo”.

Lúcia Miguel Pereira tornou-se escritora ainda adolescente. Em 1936, escreveu e publicou o livro “Machado de Assis–estudo crítico e biográfico”. Escreveu também uma biografia do poeta Gonçalves Dias, intitulado “Prosa de Ficção”. É autora de quatro livros infantis. O artigo do Jornal da ANE, sobre Lúcia Miguel Pinheiro, foi encerrado assim: “Filha exemplar, companheira perfeita, mãe e avó incomparável, amiga atenta e presente, intelectual e escritora como poucas o Brasil conheceu, a vida de Lúcia Miguel Pereira, encerrada tragicamente, ao lado do seu amado, em 22 de dezembro de 1959, encontrou sua melhor definição na síntese irretocável que sobre ela produziu seu primo e discípulo Antônio Cândido de Mello e Souza: “Lúcia foi um ser de exceção”.
Para mim, na minha meninice, Lúcia Miguel Pereira fez-me descobrir os livros, povoando meus sonhos infantis com a menina Esmeralda montada num enorme peixe, descendo o Rio Verde...

Texto e postagem: Armando Lopes Rafael

3 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Armando,

Estou entrevistando um político do passado, médico, foi Ministro da Saúde de Jango. Quando pequeno o pai o pegou pela mão e o levou até um colégio. Na porta do colégio, antes de entrar ele diz ao filho: meu filho eu vou te dar uma herança que é a única que serve. Que ninguém pode te roubar. Que é a educação. Se esforce para ser bem educado. Em todos os sentidos. Vai está tudo bem. Eu me lembrei do teu pai e do resultado da família, toda educada.

Armando Rafael disse...

José do Vale:
O ministro a que você se referiu é Wilson Fadul?

Quanto ao meu pai, ele legou aos filhos lições de honestidade e de boa convivência e tolerância para com o próximo. Não exagero em lhe dizer que no nosso humilde lar nunca houve espaço para inveja e maledicência.

Foram valores que aprendemos desde a mais tenra infância e que nos acompanharam nas diversas fases de nossas vidas...
Obrigado por suas palavras .

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

É sim. Wilson Fadul. Está com noventa anos. Uma memória espetacular.