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"

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sexta-feira, 3 de junho de 2011

A unidade nacional brasileira - José do Vale Pinheiro Feitosa

As pessoas mais importantes são aquelas com as quais dialogamos. Não interessa se concordando ou discordando. Sobretudo dialogando.”


Quando descobri o espírito monarquista do Armando Rafael, algumas outras pessoas que conhecia pensavam iguais. O Armando concentra-se tanto no assunto que já trocamos e-mails específicos sobre aquilo que fere ou não fere no confronto de idéias. Uma questão importante e recorrente no pensamento do Armando é a idéia da unidade nacional e de certa hombridade moral que conduz exatamente a isso: a harmonia nacional.

Seguindo uma corrente de estudiosos da região, com influência dos Institutos Históricos Geográficos, centrados no Rio e espalhados pelo Brasil, estas pessoas guardaram fatos, personagens e a cronologia do tempo de nascimento das províncias e das cidades. Sem elas muitos documentos e muitas publicações brasileiras teriam se perdido. Especialmente não teria nascido uma literatura sobre eventos regionais.

Uma vez colocado este princípio argumentativo vou apresentar duas teses para manter uma dinâmica que garanta que os assuntos colocados são todos importantes e que aqueles que mais expõem, merecem a atenção dos demais. A primeira tese é que a unidade brasileira, assim como a expansão territorial dos EUA se deveu à formação de uma elite americana centrada nas fazendas que produziam para o sistema mercantil e para a formação de capitais na revolução industrial.

A segunda tese é que o sistema monárquico em si pouco teve a ver com esta unidade, a não ser por algumas instituições típicas do mercantilismo e pela herança imperial de três grandes nações: Portugal, Espanha e Inglaterra. No caso destas nações embora tenham os apogeus em séculos diferentes, todas estiveram na formação da expansão colonial do continente americano.

Sobre a primeira tese a dinâmica partia da necessidade que as economias européias tinham em manter a estrutura produtiva americana para garantir a expansão das suas. Então não havia efeito desagregador externo a não ser no campo de idéias que aprofundavam o interesse da burguesia mercantil e industrial. Nestes termos a manutenção ou superação da monarquia era muito mais gestão do Estado do que da sociedade (a base econômica da sociedade).

Sobre a segunda tese é de se considerar que os movimentos de manutenção da unidade nacional foram todos resolvidos pelas elites coloniais. Mesmo no momento mais crítico dos movimentos separatistas, todos ocorreram no período da regência e todos foram resolvidos pelas lideranças oriundas da terra. Um exemplo que é muito bem explorado pelo Armando é o da revolução republicana de 17 quando a solução no Crato se faz com o concurso de Leandro Monteiro, um típico colono brasileiro.

4 comentários:

Armando Rafael disse...

Meu caro José do Vale:

Como sempre, lúcidos seus argumentos... inegável sua inteligência.

Sabendo da sua admiração pela visão marxista na história, permita-me lembrar ao caro amigo, com o respeito que você merece, que os historiadores da atualidade – na sua quase totalidade – admitem que a manutenção da forma de governo monárquica entre nós, a partir da gesta de Pedro I em 7 de setembro de 1822, contribuiu decisivamente para a manutenção da integridade do nosso território continental. Não fora isso, o Brasil teria se esfacelado em pequenas republiquetas, como aconteceu na América espanhola. Ilustrativo o caso da América Central.

Concordo com você quando escreve: “os movimentos de manutenção da unidade nacional foram todos resolvidos pelas elites coloniais”. Apenas acrescentaria “e das elites do Império”.

Embora seja também verdade que esses movimentos liderados pela elite não ficaram indiferentes às camadas mais simples da população, pois contaram com o apoio da maioria do povo (aquela época chamado “povinho”, hoje denominado dentro da influência da esquerda, dominante nos dias atuais, como “povão).

(continua)

Armando Rafael disse...

( 2 )

A esse respeito, o ilustre intelectual cratense José Denizard Macedo de Alcântara, assim se expressou na apresentação do livro “Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”, editado pela Secretaria de Cultura do Ceará, à época que o prof. Denizard era o titular da pasta. A ver.

"Um bom atendimento dos fatos exige que se considere a realidade histórica, sem paixões nem preconceitos. Ora, dentre os dados da evolução histórica brasileira há que se ter em conta o seguinte:

a) a sociedade brasileira plasmou-se em mais de três séculos à sombra da monarquia absoluta, com todo o seu cortejo de princípios, hábitos, usos e costumes, não sendo fácil remover das populações esta herança cultural, tão profundamente enraizada no tempo;

b) daí o apego aos Soberanos, a aversão às manobras revolucionárias que violentavam suas tradições éticas e políticas, os reiterados apelos de manutenção da monarquia absoluta, que aparecem, partidos de Câmaras Municipais - os órgãos públicos mais aproximados das populações - mesmo depois que Pedro I pôs em funcionamento o sistema constitucional de 1826;

c) o centro de gravidade desta sociedade eminentemente rural era sua aristocracia territorial, única força social de peso na estrutura nacional, repartida em clãs familiares, e profundamente adita ao Rei, de quem recebia posições públicas e milicianas, além de outras benesses, sentimento este que mais se avolumara com a transmigração da Família Real, em 1808, pelo contato mais imediato com a Coroa e bem como pelos benefícios prestados ao Brasil no Governo do Príncipe Regente;

d) sendo insignificante a sociedade urbana, era mínima a capacidade de proselitismo da vaga liberal que varria o mundo ocidental na época, restringindo-se a uma minoria escassa embora ativa e diligente”.

Até aqui Denizard Macedo.

(continua)

Armando Rafael disse...

( 3 )

Por oportuno, transcrevo abaixo uma conclusão a que chegou o nosso antigo e saudoso mestre, monsenhor Francisco Holanda Montenegro, sobre o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, este ilustre ascendente da família Pinheiro da qual você herdou o nome e DNA:

"... a relevar o nome do mais ilustre dos cratenses, o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, o nume tutelar dos Bezerra de Menezes do Cariri. Ele se tornou grande, primus inter pares, pela retidão de caráter, pela nobreza de sentimentos, pela vida exemplar de que era dotado. Homem de Deus, espírito límpido e transparente, franco, sincero, leal. A par de sua honestidade, corriam parelhas a prudência, o equilíbrio e o bom senso."

(Monsenhor Francisco Holanda Montenegro, in "As quatro sergipanas". Edição da Universidade Federal do Ceará, Coleção Alagadiço Novo. Fortaleza, 1996. p.62).

Cordial abraço:
Armando Lopes Rafael

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Caro Armando,

Não usei a análise marxista no que toca a contradição de classes. Apenas salientei as Américas como uma "criação" do mercantilismo e do capitalismo nascente. Não havendo grandes contradições nesta fase da história, explica-se a unidade de grandes nações nas Américas: como o Canadá, EUA, México, Brasil e até a Argentina que resultou de uma fusão e não de um esfacelamento. Aliás, considerando os originais e multáveis territórios das nações européias, países como Peru, Colômbia e Venezuela são imensos. Enfim, a idéia seria considerar que a elite brasileira estava mais solidamente afinada ao projeto do mercantilismo e da revolução industrial nascente do que uma mera lealdade à coroa Portuguesa. É tanto que a partir do século XVI a colônia fica forte apesar da decadência de Portugal e da forte e sempre crescente influência inglesa.

É muito bom esta troca de visões. Agradeço pela sua pronta contribuição.