Outras palavras
(Claude Bloc)
A cidade vibra, efervesce, canta e cantamos junto, pois se a gente se fecha, as palavras ficam murchas e vão secando e descendo pelas paredes, pelos vãos, perdendo-se no abstrato da nossa existência. Depois, batem bruscas nas janelas e de encontro a elas para depois se desfazerem em silêncios de pó!
São momentos. E meu sonho interior é assim: agreste e quieto e tenta varrer para longe esse pó que sufoca a cidade e que assola os pensamentos soltos.
Por isso, arrumo tudo num cantinho, sopro as lembranças e pouco a pouco se enche de alegria esse deserto interior que a cidade não mostra.
Sinto, então, que tenho que dar vida às palavras. A essa inquietação que começa a tomar conta de mim. A essas palavras serenas e adormecidas, montinhos de quase pó, prestes a se desfazerem para começarem a ganhar vida.
E as palavras começam a ficar viçosas e a andar novamente pela calçada, pelo pensamento. Toco-as, sinto-as e ficamos a sós. A essa altura tudo em volta deixa de existir. Estamos ali: somente eu e as palavras. Eu a cuidar delas, a regá-las, a embelezá-las, tentando fazer a mistura certa, nas proporções certas. Pensamento me fazendo cócegas nos dedos, palavras escorregando pelo gargalo da caneta, pela franqueza do lápis e colorindo o branco da página.
Finalmente as palavras eclodem. A aridez que varria o interior da cidade transforma-se num riacho fresco e fértil. Sumiu o silêncio. Em frente ao azul da chapada os “soldadinhos”. Misturo-me com eles, eu e as palavras, e nos sentamos no risco que desenharam no ar. Balançamos as pernas de um lado para o outro como crianças felizes, contemplando o vale. Damos as mãos e começamos a sorrir. Os pássaros passam voando e sorriem para nós: as palavras e eu.
2 comentários:
Claude,
fala da sua cidade com amor e reencontros felizes, tudo misturado ao seu sentimento mais puro por este torrão.
Escreve de maneira especial e pessoal descrevendo as palavras como um ser que anda nas calçadas e tem vida própria. Esse é o seu diferencial, a poesia caminha sempre nos seus escritos.
Palavras... e mais palavras...
Beijo!
Uau!!! Edilma, adorei seu comentário, sobretudo porque sei que não é gratuito e não tem a intenção de me agradar. Não precisamos disso.
Abração,
Claude
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