Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Conheça melhor , o escritor "Assis Brasil"...

Nascido em Porto Alegre, em 1945, Luiz Antonio de Assis Brasil passa parte da infância em Estrela, com uma familia, que de lá retorna à capital em 1957. Cinco anos mais tarde começa a estudar violoncelo.

Em 1963 termina o Curso Clássico no colégio Anchieta, em Porto Alegre, dos padres jesuítas. Em 1964, ano do golpe militar, ocorre sua entrada Exército não, para o serviço militar obrigatório. Um ano mais tarde Luiz Antonio Ingressa no curso de Direito da PUCRS e também passa fazer uma parte da OSPA - Orquestra Sinfônica de Porto Alegre - como VIOLONCELISTA, lá permanecendo por 15 anos. Forma-se em Direito em 1970. Advoga por dois anos. Em 1975 Ingressa como professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, função na qual atua até hoje, no mesmo ano inicia a colaborar na imprensa com artigos históricos e literários.

Estreia em 1976 com o romance Um quarto de légua em quadro, lançando-o na 32 ª Feira do Livro de Porto Alegre, e que lhe dá o Prêmio Ilha de Laytano. Em 1976 inicia sua trajetória de administrador cultural, primeiramente na Prefeitura de Porto Alegre [Chefe da Secção de Atividades Artísticas] e depois no Estado do Rio Grande do Sul [Diretor do Instituto Estadual do Livro - 1983]; 1978 é também o ano de lançamento de A Prole do Corvo. Em 1981 publica das Almas Bacia. No ano seguinte, Manhã transfigurada. Em 1981, Luiz Antonio de Assis Brasil assume a direção do Centro Municipal de Cultura de Porto Alegre

No inverno 1984/1985 vai à Alemanha, como bolsista do Goethe-Institut [Rothenburg-ob-der-Tauber, na Francônia]. Em 1985 lança aquele que, segundo o autor, é seu livro com maior carga emocional, As virtudes da casa. Começa a Coordenar uma Oficina de Criação Literária do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS, em atividade até hoje, e que recebeu o Prêmio Fato Literário, da RBS / Banrisul ao completar 20 anos de atividades ininterruptas. Em 1986 sai mais uma obra, O homem amoroso, uma novela com forte acento autobiográfico. Cães da província, em 1987, retoma o ciclo histórico, adotando Assis Brasil o dramaturgo José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo-Santo, como personagem e evocando os tenebrosos crimes da Rua do Arvoredo. O romance dá o título de Doutor em Letras e ao autor faz jus ao Prêmio Literário Nacional, do Instituto Nacional do Livro.

Em 1988 Assis Brasil recebe da Câmara Municipal de Porto Alegre o Prêmio Érico Veríssimo pelo conjunto de sua obra. Videiras de Cristal RECRIA, que um saga dos Muckers, é lançado em 1990. Nova experiência é o romance três volumes Um castelo em não pampa, que se divide em Perversas famílias [1992 - ganhador do Prêmio Pégaso de Literatura, da Colômbia], Pedra da memória [1993] e Os senhores do século [1994]. Concerto campestre, Breviário das terras do Brasil e Anais da Província-boi saem em 1997, ano em que o romancista é eleito Patrono da 43a Feira do Livro de Porto Alegre.

Em 1998 é palestrante convidado na Brown University, em Providence, EUA em 2000 e participa do programa Distinguished Brazilian Writer in Residence, na Universidade de Berkeley, Califórnia.

Em 2001 publica O pintor de retratos, que recebe o Prêmio Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional.

Em 2003 lança o livro A margem imóvel do rio, o qual é contemplado com três prêmios: Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira [o romance único dentre os três primeiros classificados], Prêmio Jabuti [finalista menção honrosa] e Prêmio Açorianos de Literatura.

Ainda em 2003 acontecem três publicações no Exterior: O pintor de retratos sai em Portugal pela Editora Ambar, do Porto; O homem amoroso é publicado pela Editora l'Harmattan, de Paris [l'Homme Amoureux], e na Espanha, pela Editora Akal , de Madrid, lança a tradução de Concerto campestre [Concierto Campestre]. Também em 2003 publica um livro de ensaios literários pela Editora Salamandra, de Lisboa: Escritos açorianos: tópicos acerca da narrativa açoriana pós-25 de abril. Em 2005 sai na França, pela editora Les temps des Cerises, o Breviário das terras do Brasil [Bréviaire des Terres du Brésil.]

Em 2006, Assis Brasil participa, com conferências na Alemanha [Tübingen, Leipzig, Berlim] de programa oficial do Ministério da Cultura do Brasil.

Música perdida é lançado em 2006, vence o qual, em 2007, uma Copa de Literatura Brasileira e recebe indicação ao Jabuti. Em 2008 segue com sua coluna quinzenal no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e publica Ensaios íntimos e imperfeitos, uma coleção de pequenos textos de caráter ensaístico e poético.

Extraído da
Revista número 01 VOX
(edição de novembro de 2000).
Atualizado em maio de 2009.



Entrevista com José Pinheiro Torres

José Pinheiro Torres - Começando pelo princípio: como foi sua formação?

Luiz Antonio de Assis Brasil - Pensando em formação escolar, esta foi de excelente qualidade. Estudei com os jesuítas, que Possuem um Colégio Centenário em Porto Alegre. Os padres da Companhia estimulavam os estudos clássicos, a filosofia ea língua portuguesa. Já na adolescência eu lia Cervantes, Chateaubriand e Milton no original - e isso não é vantagem alguma, porque todos os colegas faziam o mesmo. Creio que esse foi o grande impulso para a literatura, embora em casa o ambiente não fosse estranho às letras. Tive também uma oportunidade, de estudar música: aprendi violoncelo e fui músico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Todo esse conjunto de fatores creio, já preparava o futuro romancista. Esquecia de dizer: tomei aulas de aquarela, mas não passei das Maçãs e das garrafas.

JPT - Falando sobre a Orquestra Sinfônica: como foi a experiência?

Assis Brasil - Foram quinze anos dedicados à Orquestra da minha cidade, uma experiência importante, por vários motivos. Em primeiro lugar, pela consciência de que, em uma orquestra, o músico é um executante sem sentido próprio do termo. A emoção ea paixão são do maestro e do compositor. Em segundo lugar, enquanto experiência social, esta é riquíssima. Vive-se, na orquestra, um ambiente bastante neurótico, porque se trata de um pequeno Grupo no qual há muita competição em torno dos postos. Postos melhores salários significam maiores, ea partir desse fato se Estabelece uma pesada hierarquia dentro da orquestra. E eu vivi esse clima durante uma ditadura militar, quando havia enorme verticalização do poder. As coisas eram mais Sepulturas bem Do que se pensa.


JPT - E isso deu livro?

Assis Brasil - Deu: O homem amoroso, uma Novelinha.

JPT - O senhor então abandonou a música?

Assis Brasil - Jamais. Não posso praticar meu instrumento, mas hoje sou mais músico do que antes: não tenho mais, sobre mim, uma tirania das notas musicais.

JPT - Quais as leituras ou autores que mais o influenciaram?

Assis Brasil - O primeiro romance que li por inteiro foi A Relíquia, de Eça de Queirós. Só descansei quando não havia mais nada para ler desse autor. Depois, foi a vez de Flaubert, Madame naturalmente COM. Bovary. E depois vieram Machado de Assis e Erico Verissimo. Em seguida, Balzac, Stendhal e Zola. Dentre os modernos e contemporâneos, estão Thomas Mann, Faulkner, Hemingway, Gide, Julien Green, Cortázar, Carpentier, García Márquez, Vargas Llosa, Saramago, Günter Grass, Pascal Quignard. Antes que essa relação se transforme numa lista telefônica, resta-me dizer que li e leio muito, e de modo assistemático, Guiando-me pelo instinto ou pela sugestão de pessoas a quem respeito. Não me considero particularmente destes Influenciado por nenhum, mas por todos em geral, se fosse imprescindível responder à pergunta, diria que Eça Ainda não está cimo Panteão desse especial: com ele aprendi, ou penso ter aprendido, como um romance se como se estrutura e Desenvolve uma personagem.

JPT - O que pensa da chamada literatura pós-moderna?

Assis Brasil - Não acho nada, pois se trata de um e estético momento, ser entendido como tal DEVE. Particularmente, minha sensibilidade não chega a perceber como, em certo viés da pós-modernide, se Construa um romance sem Conflitos, personagens sem Conflitos, personagens sem drama. Mas o futuro é que um juízo PODERÁ ESTABELECER mais razoável.


JPT - começou Quando a escrever profissionalmente "?

Assis Brasil - Em 1974 tive uma doença gravissima, que implicou e internamento hospitalar, cirurgia, risco de vida, etc Na convalescença comecei a escrever aquilo que seria meu primeiro livro, Um quarto de légua em quadro. Não tinha idéia do que se Tratava. Minha intenção inicial era escrever uma obra histórica sobre o povoamento açoriano no Rio Grande do Sul. Pois virou romance, e desde aí não parei mais.


JPT - Açores Por que?

Assis Brasil - Explico: sou descendente de açorianos por parte de pai e de mãe. Assim, o que era um interesse genealógico acabou em interesse pelos Açores, minha segunda pátria, e onde tenho excelentes e amigos Fraternais. Já dei aulas de Literatura Brasileira na Universidade dos Açores e lá fiz uma investigação de pós-doutorado.

JPT - A propósito: É uma carreira acadêmica?

Assis Brasil - Encontrei-me no trabalho universitário. Tenho, ali, uma Possibilidade de conviver, de maneira mais palpável, com a literatura e seus autores. Não poderia fazer outra coisa. À parte disso, minha Universidade me propicia ministrar uma Oficina de Criação Literária, que teve início em 1985 e que segue até hoje. Orgulho-me de meus ex-alunos, que por ali passaram, e que hoje são escritores RECONHECIDOS pela crítica e pelo público.

JPT - Mas voltando para sua produção: como é seu método de trabalho?

Assis Brasil - Como sou - bom ou mau - romancista, sinto Necessidade de um planejamento prévio da obra. Sem planejamento não poderia escrever.

JPT - Isso não tolhe a imaginação?

Assis Brasil - Não, pois o verdadeiro momento de Criar um quando se tem uma idéia. Depois, é trabalhar a idéia, de modo que se Apresente lógica, pois nenhum romance vige o Princípio de causa e efeito. O que importa entretanto, é o resultado final, isto é, se o livro é bom ou ruim. O modo como o romance foi escrito é algo que pertence ao Domínio Privado do autor.

JPT - O senhor reescreve muitas vezes?

Assis Brasil - No passado, sim, hoje, com o uso permanente do computador, posso refazer à medida em que escrevo, mas a intervalos imprimo uma versão, para testemunho e registro.

JPT - Acha importante a técnica?

Assis Brasil - Técnica literária - eis um sintagma Certos diabolizado Meios em cultos: é como se a literatura derivasse apenas da inspiração (sabe-se lá o que é isso), ou que a técnica fosse algo menor, própria dos Obreiros manuais, dos carpinteiros e Alfaiates. A outra é verdade: qualquer arte Possui sua técnica. Tinham razão os arquitetos das Catedrais góticas: ars sine scientia nihil est Entendo uma técnica literária como uma soma das Condições NECESSÁRIAS A escrita. É o senso de medida na frase, sua musicalidade, uma perfeita construção do Diálogo, eficiência e uma descritiva e em especial narrativa, uma idéia de proporção da Peça inteira, de modo que suas partes dialoguem com uma harmonia compositiva necessária. Técnica também é não atrapalhar-se com as palavras, ao contrário, é fazer com que TRABALHEM A nosso favor. Técnica e entender o axioma: O que se corta, ganha-se leitores - os, aliviados, agradecerão essa providência higiênica. Técnica e saber que não se escreve para desabafar, mas para construir uma realidade estética autônoma, a ser fruída pelos leitores. Dominar uma técnica é escrever de tal maneira que o leitor queira saber o que virá no capítulo seguinte. É, por isso, dizer algo novo a cada frase.

JPT - Então a técnica aprendida pode ser?

Assis Brasil - A técnica literária - assim com a técnica da pintura, da arquitetura, da música, etc - pode ser conquistada num curso à semelhança dos Laboratórios do texto (no Brasil, "Oficinas"). Os laboratórios são uma experiência consagrada no mundo inteiro, e vem obtendo Crescente aceitação desde que foram criados nos Estado Unidos, a partir da década de 40 do século passado. Grande escritores saíram dali, e agora lembro Raymond Carver. O curioso, nesse sarau polêmico, é que não se discute a utilidade, por exemplo, de uma academia de dança. Pensado na raiz desses preconceitos e equívocos, percebe-se, Subjacente, uma atitude algo elitista, algo reacionária, algo romântica, algo ingênua, que leva alguns autores acreditarem uma apenas no talento, algo problemático, por dividir entre as pessoas talentosas e não -- talentosas, partição inaceitável num mundo que se esforça para, sem Discriminações, EA Integrar e assimilar as diferenças como paquete. A propósito, há um interessante livro de Beth Joselow, chamado, muito significativamente, de escrever sem uma musa. (1995). Evoco, para ilustrar, uma célebre crítica que Machado de Assis escreveu um O primo Basílio, na revista O Cruzeiro, em 16 de abril de 1878. Ali, pela primeira vez, foi dita em português, a expressão "oficina literária". A certo instante do texto - na verdade, uma desanda geral não colega português - diz Machado: "[Eça de Queirós] transpõem ainda há pouco as portas da oficina literária ..." Por evidente não referir um está-se a esse fenômeno atual, mas alerta para uma Existência de uma técnica e para uma Necessidade de um aprendizado dessa técnica. E nem Machado furtou-se a isso.

JPT - Quais suas relações com uma crítica?

Assis Brasil - Temos de distinguir: Muitas de um lado há uma verdadeira crítica, que é uma Peça de reflexão embasada num referencial estético-teórico, a qual analisa a obra mediante Critérios ponderáveis reconhecíveis e universalmente, de outro lado, há uma opinião, fruto da efemeridade vezes gosto não, quando não de sentimentos derivados do compadrio ou, ao contrário, do preconceito. Recomendo ao escritor que leia a ambas, quanto à primeira, aprenderá bastante sobre a arte literária, o que PODERÁ ajudá-lo a escrever melhor, quanto à segunda, acho-a ainda mais interessante, pois aprenderá, e muito, sobre a natureza humana - Que é, matéria, afinal uma-prima da Literatura.

JPT - Dentre sua obra, o romance Há algum de que o senhor goste mais?

DE UM PAI qual filho gosta mais de Assis Brasil - Isso é o mesmo um que perguntar, mas para não fugir à pergunta: As virtudes da casa é que o romance melhores lembranças me traz da época de sua escrita. Não sei se é o melhor falando, literariamente, mas é certo pertence ao inventário das minhas obras inesquecíveis.

JPT - Passando ao cinema. O senhor tem várias obras que passaram ao cinema ou estão em fase de passar. Como o senhor vê esse fato?

Assis Brasil - Com muita naturalidade. Se há algum mérito nisso, ele se restringe à circunstância de eu Manter-me sentir uma idéia: toda uma narrativa DEVE Possuir acontecendo episódios, coisas. Isso é cinema. Todo o romance DEVE despertar no leitor aquela pergunta sôfrega: "E agora? O que vai acontecer?". E é isso que se espera de um filme. Não me considero um purista quanto à fidelidade do filme ao livro. São duas Modalidades diversas de narrativa. Se o romance pode ter maior liberdade em explorar as personagens e suas tramas, abrindo espaços para uma reflexão, o cinema ficar Já não DEVE "Osso da história", pois é preciso compactar em hora e meia todo um universo narrativo. Sempre dei poder ilimitado aos adaptadores ou diretores dos meus filmes baseados em livros. Tal como no romance, importa é que seja um bom filme.

JPT - Alguns críticos acham que o senhor pratica o romance histórico. Concorda com isso?

Assis Brasil - O romance histórico tradicional, ao estilo de Scott e Herculano, não se pratica mais, pelo menos, se pratica pouco - e de má qualidade. No denominado "novo romance histórico" - que Linda Hutcheon chama de historiográfica metaficção "-, a história é sempre pretexto, e é deformada, reinterpretada, discutida e, até, criada. Imagino ter feito, e com certa freqüência, essa segunda modalidade, com recurso à paródia, ao pastiche e, uma ou duas vezes, ao plágio burlesco. Penso, contudo, que é um capítulo encerrado em meu trabalho. Hoje me preocupa, mais que tudo, uma ficção. Mesmo que os Estejam parcelas Situados num tempo pretérito, isso é apenas uma opção do autor: o passado me dá maior liberdade criadora, e as paixões e emoções me parecem mais Autênticas.

JPT - Valesca de Assis, sua esposa, também é escritora, premiada e três romances, publicados com. Há interação em família?

Assis Brasil - No plano afetivo e emocional, uma interação mais completa, não costumamos um plano literário separar as coisas. Contudo, jamais publico sem um Valesca algo que tenha lido previamente. Suas observações são valiosíssimas e, às vezes, decisivas. Se consegui algo em minha trajetória de escritor, devo a esta mulher brilhante uma modesta ao mesmo tempo, que me dá um sentido à vida e ao que escrevo. Creio que isso diz tudo.

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