Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Rua das lembranças - Por Socorro Moreira para Rosa Guerrera


Era uma rua comprida. Padaria numa esquina, e cinema no fim da linha. Na metade do caminho eu ficava, e na casa vizinha eu vivia. Subia umas escadas, tocava a campainha, e uma senhora de sorriso belo , abria a porta. Não entendo até hoje como a minha timidez era vencida. Nem sempre me encontrava com a filha da casa, mas eu sabia onde estava guardada a pilha de revistas que me apeteciam, e compulsivamente devorava. E não tinha fim... Mal terminava uma, a minha fada madrinha, já entrava cantando e assoviando com outra, debaixo do braço. Entre uma história e outra, o som do violão roubava a minha atenção. Cantava e dedilhava aquele instrumento, lindamente! Achava mágico o sotaque, caramelado com a língua italiana, que eu embevecida, absorvia, e em silêncio cantarolava , num dueto mudo : “ tu não conheces Nápoles, tu não sabes o que ela tem ...”. Depois do violão era um contar sem fim de histórias romanceadas – uma Sharazade, da Manoel Borba! Sua poesia, o jeito que expressava os amores vividos, dava-me a impressão que o maior sentimento do mundo, ela já tinha sentido.
Ledo engano... Embora já torcêssemos por finais felizes , o tempo ainda não editara nenhum epílogo.
Quando as férias terminavam, sentia-me inexplicavelmente triste. Fechava-se um círculo, e eu pressentia que uma nova vida começava para mim... E ousei, e vivi, quebrei a cara, e ressuscitei mil vezes, num intervalo intenso de absurdas e doces surpresas.
Quase pronta para o tempo dos registros, eis que... Um mar trouxe de volta, numa garrafa fechada, revistas, daquela época esquecida. As lembranças foram ficando claras, vivas, felizes!
Reencontro e confirmação da amizade.
Éramos as mesmas? A vida continuou, nas paralelas...
Estávamos novamente numa rua da mesma cidade.
Rua pacata
Rua de Rosa
Olhar de caçoada
Riso que desarma.
E a palavra sincera, no mesmo tom de carinho:
“Menina abelhuda , és tu de volta ?”


socorro moreira

3 comentários:

rosa guerrera disse...

Para mim foi realmente uma surpresa enorme reencontrar aquela menina abelhuda , hoje mãe e avó , mas ainda trazendo no seu jeitinho simples a lembrança de tantos anos passados.Socorrinho era na verdade , como se diz na gíria , " um barato ", a maior filona das minhas revistas em quadrinhos. É isso aí amiga , a rua , a antiga casa continua no mesmo lugar , só nós mudamos .Mas, diga-se de passagem , mudamos numa certeza hoje maior de alicerçarmos cada vez mais aquela amizade que começou nos anos 60.Meu abraço com carinho , Rosa

Unknown disse...

FOI MUITO INTERESSANTE SEU BATE PAPO COM SOCORRO, SENTI-ME ENCIUMADO POR NÃO SABER REDIGIR TÃO BEM QUANTO VCS 2 E NÃO FAZER PARTE DESTE PASSADO, POIS, NÃO IDENTIFIQUEI A RUA DAS LEMBRANÇAS. COMO SOU UM PARAIBANO COM CORAÇÃO DE PEQUIZEIRO ARRISQUEI-ME NO CO MENTÁRIO. PARABENS A AMBOS. CARLINDO C. COSTA, ALAGOA GRANDE PB, TEMHO ORKUT E MEU email É: carlindoccosta2009gmail.com

socorro moreira disse...

Carlindo ,
Se a gente see deslocar para o anos 60, muitas ruas do Crato são palcos de lembranças. Voc~e era andante e sentante das praças e bancos. Com os olhinhos cor de esmeralda ( sonho de consumo da meninada), encantava com seu jeitinho de moço bom.
O tempo passou , mas um dia chegou - o dia de resgate !
E todos nós, aos poucos vamos ficando amigos de novo.
Um grande abraço ,
filho lindo de Dona Carlinda - menino da rua da vala !