Alamedas
(Os sentidos do tempo)
- Claude Bloc -
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Sim, o tempo passa! Anos passaram ligeiro, impiedosos, às vezes. Vitimam muitas lembranças. É verdade, tudo passa e tanto passa que eu ainda não decorei o meu papel. O que serei agora?
Pois é, já decorei o passado: infância, fantasias, pessoas, encanto, magia... Cheiro! Sim, infância tem cheiro... Cheiro de boneca nova. Cheiro de bombom. Cheiro de café torrado no caco de barro. Rapadura adoçando a boca. Cheiro preso nesse tempo, lá atrás.
A infância também tem cor, sabor... Sabor de comida. De baião-de-dois com pequi, de capote, de tapioca com coco. E as cores? Cores de mato depois da chuva, crescendo verdinho com cheiro de felicidade. Sim, cores do arco íris na alma da gente... Lembranças!
E vem a saudade! Saudade daquela menina que chegava no escritório da fazenda, bem devagarinho, para datilografar nas máquinas de lá. Esboços, nomes “desenhados” com X, poemetos pobres e pueris... Brinquedos tão lindos ela tinha... e a bicicleta que passeava pelos alpendres deixando as marcas das rodas para trás.
E os banhos de açude? Passeios a cavalo, moagem, farinhada? O cheiro das primeiras chuvas, dos primeiros sonhos...
Como falei, o tempo passa. O tempo passa e passou, mas ainda não decorei meu papel. Só meu passado está decorado nessas lembranças. Além de tudo, além de mim, o tempo passa e guarda em suas gavetas nossos afetos. Amizades mantidas, amizades aladas, retomadas. E essas lembranças todas com sabores e cheiros. Novidades e encantos! Passeios nas alamedas do tempo.
Claude Bloc
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