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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

COMPOSITORES DO BRASIL


Chorinhos e Chorões

Por Zé Nilton

Segundo o eminente pesquisador da Música Popular Brasileira, José Ramos Tinhorão, no seu livro Pequena História da Música Popular (da modinha à canção de protesto), Petrópolis, Editora Vozes, 1975, o chorinho nasce da polca, gênero muito cultivado a partir do final da primeira metade do Século XIX.

O choro não aparece logo como gênero, mas como “uma forma de tocar” estilizada por músicos populares do Rio antigo.

Do violão, os músicos tiravam tons usando as cordas mais graves, os bordões, que passaram a marcar a música tal qual um baixo, daí a expressão “baixaria” para este tipo de modulação.

“Pois seriam esses esquemas modulatórios, partindo do bordão para decaírem quase sempre rolando pelos sons graves, em tom plangente, os responsáveis pela impressão de melancolia que acabaria conferindo o nome de “choro” a tal maneira de tocar, e a designação de “chorões” aos músicos de tais conjuntos, por extensão.”

Do cavaquinho, saia o saltitante contracanto e a marcação rítmica, quando não o solo choroso que, com o advento da flauta, na segunda metade do Século XIX, estava assim formada a base musical do choro. O pandeiro entra bem depois, quando o violão perde o sentido da marcação e o samba batucado exige a percussão como acompanhamento rítmico.

Tinhorão, como bom marxista, releva esta expressão da nossa música como nascida no seio da baixa classe média do Segundo Império e da Primeira República.

Ele diz que “esta afirmação pode ser comprovada com o simples levantamento das profissões de 300 músicos, cantores, compositores, mestres de bandas e boêmios ligados a grupos de choros, referido pelo carteiro carioca Alexandre Gonçalves Pinto em seu livro de memórias intitulado “O Choro, Reminiscências dos chorões antigos”, publicado em 1936”.

Eu tenho este livro numa reedição do MEC/FUNARTE, de 1978. Uma curiosidade: o autor, Alexandre Gonçalves Pinto convida “o maior cantor e poeta de todos os tempos”, Catulo da Paixão Cearense, para prefaciar sua obra. Este se desculpa e não aceita tal empreitada pelos infindáveis erros gramaticais de toda a sorte encontrados nos originais. Mas aí já é outra história...

Em comemoração ao Dia do Choro, ocorrido em 23de abril pp. que coincide com o dia de S. Jorge, vamos apresentar um pouco da história do choro e tocar algumas de suas mais antigas/novas músicas desse gênero, no Programa Compositores do Brasil desta quinta.

Na sequencia:

Odeon, de Ernesto Nazaré, com Fernanda Takai
Corta Jaca ou “Gaúcho”, de Chiquinha Gonzaga, com Altamiro Carrilho.
Brasileirinho, de Waldir Azevedo, com Baby Consuelo
Um chorinho, de Chico Buarque, com Chico Buarque
Choros No. 1, de Heitor Villa-Lobos, com Turíbio Santos
Ingênuo, de Pixinguinha e Benedicto Lacerda, com Regional de Evandro
João Gilberto (raridade) – Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barros, com João Gilberto
Noites Cariocas, de Jacó do Bandolim, com Jacob do Bandolim
Pedacinhos do Céu, de Jacob do Bandolim, com Ademilde Fonseca
Tico-tico no Fubá, de Zequinha de Abreu, com Roberta Sá
Chorinho nervoso pro Hermeto Pascoal, de Sivuca, com Sivuca
Tua imagem, de Canhoto da Paraíba, com Canhoto da Paraíba

Quem ouvir verá!


Compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri – 1020
Quintas-feiras, de 14 às 15 h.
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Apoio Cultural: CCBN
Retransmitido pela rádio www.cratinho.blogspot.com

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