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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 10 de maio de 2010

LEMBRANÇAS DE FESTAS JUNINAS .....por Rosa Guerrera


Tenho por hábito adormecer com o rádio ligado .É uma velha mania , impossível de mudar.
Hoje acordei escutando velhas marchinhas juninas e fiquei por muito tempo relembrando os tempos idos quando eu saia vestida de matuta numa quadrilha qualquer do subúrbio onde nasci..

Naquela época rajadas de pistolas coloridas, traques de massa, diabinhos, estrelinhas , bombinhas e bichas de rodeio enchiam as nossas praças e avenidas .E no ar se espalhava aquele cheirinho gostoso de pólvora queimada. .

Eitha tempo bom ! Não porque eu fosse bem mais jovem , mas porque havia folguedos mais leves e sadios mesmo quando brincávamos de roda ou assavamos milhos nas brasas de uma fogueira .E as musicas, essas eram lindas demais. Havia romantismo nas letras e a gente as cantava com o coração. Quem não lembra daquela marchinha que dizia :” Com a filha de João / Antonio ia se casar / mas Pedro fugiu com a noiva/ na hora de ir para o altar “... ou ainda aquela outra : “ Ai São João/são João do carneirinho /você é tão bonzinho / fale lá com São José /peça pra ele me ajudar/peça pra meu milho dar vinte espigas em cada pé./ E o danado é que senti saudades hoje dessas velhas festas juninas . Afinal a tal da saudade quando bate dentro do peito da gente , ninguém consegue evitá-la .E essas musicas tocadas de manhã cedinho me fizeram dar um giro no meu ontem. Não que eu me considere “ velha “, porque tenho consciência que sou muito mais vivida do que velha , e depois segundo dizem :
“ velha é a lua ... e todo mês aparece nova no céu”.

Digamos que sou uma irreverente romântica de coração rebelde e de uma autenticidade muitas vezes cruel até para comigo mesmo. Se hoje não saio vestida de matuta numa quadrilha de um pé de serra é porque não possuo mais a agilidade dos verdes anos , mas que o meu coração continua forrozando dentro do meu peito , isso eu tenho certeza que ele ainda faz .
Quantas musiquinhas juninas escutei hoje pela manhã , nem lembro mais!.

Só sei que em todas eu revi o quintal da minha casa onde minha avó acendia sempre uma fogueira em homenagem aos Santos do mês de junho , lembrei todos os vestidinhos de matuta que minha mãe fazia para mim ,as adivinhações da faca na bananeira ,a pamonha , a canjica , o milho cozinhando num grande caldeirão e o espocar dos fogos iluminando o céu.
Lembranças ! Lembranças !
Hoje só resta mesmo cantar : “ Ai que saudades eu tenho / das noites de São João / das noites tão brasileiras / das fogueiras / sob o luar do sertão “.......

Um comentário:

Rialva Lopes disse...

Amei o texto. Relembrei os tempos de minha infancia em uma vila de um suburbio do RJ. Ao lê-lo, foi como revivesse os bons momentos que se foram. Muita paz, Rialva Lopes (professora, pedagoga e atuante como agente auxiliar de creche no municipio do RJ)