Depois do jantar tinha ponto certo na Siqueira Campos para encontrar os amigos, politicar, falar sobre a cidade e seus governantes, novidades Brasil a fora e o mundo moderno com a sua atualidade.
A noite se estendia e a cidade começava a fechar suas portas. As senhoras guardavam as cadeiras da calçada, os namorados se despediam e aos poucos o silêncio e a paz invadiam ruas e praças. Aqui e ali se ouvia o roncar dos motores de algum carro apressado no rumo para a infidelidade matrimonial noturna. Mas ele continuava ali no meio da noite. Podia contar as estrelas e ver os cometas passarem com rabos de fogo riscando o céu. Dizia que as pessoas não sabiam admirar a beleza da noite, o céu estrelado com sua brisa suave todos os meses do ano e iam dormir deixando para trás a maior maravilha do mundo. Uma noite estrelada. Dificilmente encontrava um companheiro até o amanhecer do dia, a não ser o velho guarda noturno com seu apito cauteloso garantindo a segurança do sono tranquilo.
Era um tempo de paz, não existia o perigo. Quando a fome apertava, somente um lugar não tinha portas a fechadas: o restaurante "O Nenen", onde comia panelada, mucunzá, torresmo e feijoada dizendo que estômago não sabia se era noite ou dia.
Ao amanhecer, voltava para casa e o sono tomava conta do corpo do boêmio incorrigível. A mulher já o tinha posto pra fora do quarto, pois nunca se acostumou com seus horários.
Certa vez, surge bem cedo uma cliente apressada em bater um retrato para um documento importante e já entra gritando alto...
_Seu Julio estáaaaaaaaaaaaa.......
E o netinho corre apressado em busca do avô que ainda não pegara no sono.
_ Diga que não estou !
Rapidamente o menino volta e diz com todas as letras em bom tom...
_ Vovô mandou dizer que não está !
A cliente dá uma risada e fala...
_ Se mandou dizer que não está, é porque está !
E se ouve a voz forte e grave do boêmio vinda lá de dentro do quarto num tom aborrecido.
_ Estou, mas não quero estar !
Edilma Rocha
5 comentários:
Que maravilha !
Penso no meu avô Alfredo, amigo do Seu Júlio...!
Eita, Edilma!
Só se for Seu Júlio mesmo! A cara dele!!!! (rindo muito)
Abraço,
Claude
Socorro e Claude,
Quanta historia ainda temos pra contar da vidinha do Crato, Granjeiro, Serrano, Lameiro, Serra Verde, Assaré, Juazeiro, Guaribas, Dom Quintino, Araripe, e nossa serra verde azulada.
Um dia eu conto....
Tem é coisa...
Beijo !
Edilma,
a prosa mais visual
simples e verdadeira,
acredite, é a mais difícil
de escrever. Porque nasce
em uma fonte mágica.
Tal fonte, creia,
é rara.
Tua escrita uma belíssima descoberta
a cada leitura que faço
da tua alma.
Carinhoso abraço.
Domingos Barroso,
Só você mesmo para descobrir tal fonte na minha alma.
Obrigada pelo carinho !
Abraço !
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