As ditaduras não precisam de reflexão quando instaladas. Basta um maluco qualquer dizer o que deve ser feito com o dinheiro que é de todos, uma elite aceitar e um povo calar-se (sob pena de de ser torturado, morto ou expulso). O mais repugnante das ditaduras é a aceitação dela, porque ainda é absurdo que alguém, em sã consciência, consiga viver sob o jugo de um déspota, ou de um grupo deles.
Já a democracia precisa o tempo todo de cuidados, precisa ser repensada todos os dias, tem que estar antenada com as mudanças sociais e de comportamento. As ditaduras odeiam mudanças, porque pra mudar tem que pensar, aceitar a diferença, ter paciência para ouvir também as minorias e reservar um espaço a elas. Ditadores odeiam pessoas que pensam.
Um dos modos mais fáceis de instalar uma ditadura é manter uma nação na ignorância e, é claro, rejeitar suas manifestações sociais, impedir seus avanços, não respeitar as minorias. O outro modo é a força. A ditadura militar quando instalou-se no Brasil, primeiro exilou seus pensadores, depois queimou livros, e, por último, torturou e matou os que pensavam diferente.
A democracia brasileira é muito recente. E se olharmos em volta, estamos cercados de prefeitos, governadores e deputados que apoiaram o golpe militar e a ditadura. Muitos partidos, apesar de terem mudado de nome, sustentaram o regime autoritário.
Mas o grande barato da democracia é sua imensa bondade intrínseca (coisa que ditadores são incapazes de compreender), porque na democracia até os malucos (incluindo ditadores) têm seu direito a voz e voto. Democracia é dar ouvido também aos imbecis. Isso não seria tão ruim e assustador se tivéssemos eleitores com formação histórica e cultural suficientes apenas para rir destas candidaturas. Infelizmente, não é bem assim. Daí, que é preciso estar atento, olhar para a história recente, para que não tenhamos que dizer mais uma vez, depois das eleições, que cada povo tem o governo que merece.
Fábio Brüggemann
Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, Santa Catarina, Brazil
Editor, escritor, roteirista e diretor de alguns filmes, e pai da Luna. Os textos postados neste blogue, com uma ou outra exceção, foram publicados no Diário Catarinense.
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