Saiba que sou volúpia.
Não há outro conceito.
Os objetos da casa
cheiram ao suor
das minhas sobrancelhas.
E tanto a minha xícara
quanto o teto
exalam volúpia.
Os insetos que vagam
pelas junções das paredes
caminham com meus olhos
esperando o momento apropriado
para cruzarem por minha silhueta
e urrarem de gozo.
Eu faço os insetos do quarto
felizes com meu perfume.
Só poderia ser eu um poeta faminto.
A volúpia é o meu prato predileto:
pele, somente pele.
Meus dedos desatam-se das sandálias
e ao pousarem no chão sentem
um corpo frio de formiga andarilha:
isto é volúpia.
Sobretudo quando o dorso da formiga
curva-se mas não se rompe.
Não há outro conceito.
Não penso em algo grandioso
senão a própria volúpia.
Minha respiração,
meu batimento cardíaco,
meus cílios trêmulos,
minha língua molhada:
é tudo volúpia.
E tento corromper
o que se move
e tento subornar
o inanimado.
por Domingos Barroso
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