Glosa de Domingos Barroso
As conchas das mãos nunca estão vazias.
No mínimo estão cheias de nada
e mesmo o nada é poesia.
Tenho poesia no corpo todo,
nos olhos doentes de tanta luz,
nos pés gretados de tantos caminhos,
nas botas, nas unhas, nos cabelos
que caem e renascem a cada dia.
Leio o poema com os olhos,
sinto o poema com os dedos
com o nariz, com os ouvidos e com a língua.
Leio o poema com os cinco sentidos.
As folhas caem, mas, antes de cair, bailam
no ar, valsam suaves ou rodopiam endiabradas.
As folhas têm alma: a nossa alma.
Os versos são formas lúdicas ou são o corpo do amor,
mas a dor do poeta, esse palhaço, quem saberá?
O poema é livre como o voo do pássaro
e se queima no fogo das imagens iluminadas.
Ninguém escreve ou lê impunemente um poema.
Poesia se escreve com sangue pulsando nas palavras
e inundando a forma fecha, de concha, do poema.
O meu bordão flori a cada verso que eu escrevo.
Planto o meu bordão na rocha no meio do deserto
e não brota água, mas sangue convulso.
Escrever é uma dança imóvel à espera da revelação.
(Um abraço, Domingos, do amigo Brandão.)
Um comentário:
Tá vendo? Mais uma pérola poética.
Por isso que digo Poesia nunca é demais. Poesia é Tudo.
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