Acordei cedo nesse domingo nublado. Chove desde ontem, a chuva do Cajú como frisou Emerson Monteiro. Molhou ai no Crato e amenizou um pouco o calor que rondava a velha "Mauricéia Desvairada" (o Recife). Um silêncio inusitado na minha rua, talvez pra combinar com a atmosfera de preguiça geral. Passando pelo corredor me deparo com os quadros pintados por minha mãe. Detenho-me nos traços firmes de suas pinceladas de aluna dedicada em seus 86 anos de vida. Mãos que nos afagaram, acalentaram e que vez ou outra brandia uma chinela em merecidos corretivos. Na verdade sobrava sempre para meu irmão Ricardo que sempre foi um raio nas “prezepadas”. Eu só levei uma, o resto corria em volta da mesa e ela não me alcançava. As minhas irmãs eram de uma doçura só, como o são até hoje as meninas daquela época: educadas com esmero. Rua José Carvalho de tantos amigos, brincadeiras mil (peteca, amarelinha, mata-mata, pião, triângulo, etc) e namoricos, flertes, quadrilha no São João, a banda do mestre Azul, o Cine Moderno pertinho de nós. “Old Good Time” disse o Beatle Paul McCartney”. Mas permitam-me retornar ao assunto porque falar sobre esse período de nossas vidas dá um livro de bom tamanho e que já iniciei escrever, Eu tenho a impressão que os Duarte e os Monteiros, as bandas familiares combinaram Genes muito peculiares no que diz respeito à saúde e aparência física. Eu me espanto com minha mãe. Inevitavelmente sou levado a fazer comparações com pessoas da mesma idade e até mais jovens e que não apresentam a força, a saúde, a lucidez e a disposição assim como ela. Gosta de viajar, de festas. Às vezes fico observando ela sentada a tarde lendo a Veja, o Jornal do Commercio ou um bom romance, quando não, palavras cruzadas. Mas sobre a sua produção (singelas evidente) na arte do pincel, encontram-se a maioria nas galerias da “família”, em Crato, Juazeiro, Recife, Brasília, Potengi, Petrolina, Fortaleza, quer dizer, uma “pintora” quase nacional, porque artista mesmo só a tia Telma e Edilma Saraiva. Por coincidência a tia Telma e a minha mãe têm uma amizade antiga, foram inclusive colegas de colégio. As duas são jovens senhoras com a diferença de consagrações. A Telma de reconhecido talento nacional e internacional, minha mãe, a “consagração familiar”.
Nilo Sérgio Monteiro
4 comentários:
Grande mulher. Grande artista.
Abraços em Dona Zélia !
Nilo,
Parabéns pelo texto suave e belo!
Abraços: Liduina.
Meus anjos da guarda!
Tenho três.Me ensinaram no catecismo que anjo não tem sexo.
Descubro surpreso que alguns deles têm sim!
Socorro e Liduina, vou avisar ao Senhor Bispo do Crato.
bjos
Dr. Nilo Sérgio,
Que delicadeza de sua parte encerrar o seu texto maternal com alusões a minha mãe Telma Saraiva e tambem a mim.
Obrigada pela atenção as nossas aptidões artisticas.
E a Sra. Zelia o meu incentivo as aulas de pintura o meu afetuoso abraço.
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