Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Levanta-te desta tempestade - José do Vale Pinheiro Feitosa

Este sentimento de despedida que o dia de finados trás, é, também, o divino relembrar que uma vez tendo existido, para sempre existirá. Como pessoa não me sinto bem com o pesado preto das roupas das viúvas, minha duas avós eram e meu pai também o foi. De algum modo o ritual latino pelos finados oprime a luz e o ar que se respira.

Despedidas que parecem convocar a todos para lhe seguirem. Como uma necessidade de vitimar o próprio desfecho. Como a dizer que se me for sozinho um dia também do mundo serás levado. Este chororô, o carpimento das almas atormentadas pelo inseguro de um mundo que em absoluto existe para a glória de ninguém.

Mas, paradoxalmente, a modernidade nos deu um valor de alegria pelo finados. Esta coisa que marca o tempo entre lazer e trabalho. Obrigações e a vertente colorida do nada por fazer. De caniço e samburá, como dizia uma marchinha de feriado. No grosso da aproximação das provas de finais de ano, vinham o “todos os santo” e o “finados” para soltar o alunado em merecidos dias com gostinho de férias.

Mas não quero falar desse efeito manada dos que se vão. Nem daqueles que ficam, pois quando ficam é que há espaço e tempo para justificar a permanência. As próprias eleições recentes, com seus resultados de alegrias e mágoas, justificam certos sentimentos e atitudes, mas não justificam a razão de cada um, a não ser o efeito manada.

Há uma sutileza nestas coisas radicais. Que não esperamos as tenha. Mas há. Hoje o Pachelly Jamacaru faz isso com a fotografia. Com uma explosão expressiva de uma linguagem dual de luz e escuro, ele simboliza todo o momento deste dia. Ora no estandarte que o crente leva aos túmulos da morte e o fotógrafo capta a alma da luminosidade sobre o pano. Noutra a luz se filtrando através do escuro e explodindo em forma de estrela. Seja o céu iluminado por trás ou no muro.

O Pachelly é quase um indu na concepção do espírito. Ele não é a mera repetição da persona física de quem o foi. O espírito da luminosidade destas fotografias se encontra em vários lugares, seja nas pessoas, amplamente no céu ou na parede inanimada. Uma bela exposição de um artista.

Por último um olhar para ela. Tão calada, por fatos, atos e artefatos. Não existe corte de liberdade com ela e nem por ela. A tempestade do dia é como todas são, acontecem e cessam. Sem dúvida deixam barreiras caídas, mas vicejam o solo de vida. Levanta-te e vem para o pleno da vida em nenhuma das tuas mãos há manchas de ignomínia.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Uma mensagem de renascimento. Símbolica num dia de despedidas( finados).
Mas o tempo passa ...
O lado sombrio e o luminoso coexistem.
Eu encontro luz, nas tuas palavras, e tento decifrar os seus simbolismos. É um exercício que me encanta !

Linda demais, a arte do pachelly.
Interessantre demais, o teu texto.
Posso dormir tranquila !

Abraços.