Georg Trakl, 1914 (foto da Web)
OS POETAS SUICIDAS
Os poetas que eu amo são poetas suicidas.
Amaram demais a vida.
A corda tensa arrebentou.
Eu vomito quem não é quente nem frio, disse o Senhor,
e os poetas suicidas acreditaram.
Amaram desesperadamente a vida,
consumiram-se, queimaram-se no fogo da paixão.
Georg Trakl viu a guerra, os mortos, o sangue,
sentiu a fraqueza humana diante de tanta vida para viver,
tomou ópio e cocaína e outras drogas querendo sempre mais vida:
morreu de amor à vida.
Paul Celan viu as câmaras de gás, os fornos crematórios, as pilhas de cadáveres
e sobreviveu, o que era demais para a fraqueza humana,
e cantou a fraqueza e a dor, o desespero e o abismo transcendental,
até que um dia o fio se rompeu.
Ana Cristina César viu a noite, o poço, a borda do abismo cotidiano,
comeu a sua cota de sola de sapato, bebeu a sua cota de fel,
conheceu a morte e a morte era boa,
a morte era a única coisa boa.
Os poetas suicidas amaram demais a vida.
Eu sou diferente: tomo um gole d’água na borda do poço
contemplo as estrelas refletidas no fundo,
a lua pálida como a minha face
e penso ter descoberto a minha identidade.
Eu amo os poetas suicidas porque não vêem,
como eu, indiferentes,
os dedos marcados na borda do poço.
(2007)
____________
2 comentários:
Parabéns, pela postagem !
Vc viu o anúncio sobre o livro do Cariricaturas? Sua participação é esperada .
Grande abraço!
Grande Brandão!!
superlativo nos versos
e no fonemanome.
Melhor ver com indifença
as marcas de dedo nos copos...
(batom já é demais!)
Não se mate Carlos, a vida é assim:
um dia dá
no outro manda a conta!
Postar um comentário