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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Uma “praça” no meio do caminho – José Nilton Mariano Saraiva

Em razão da inoperância, do marasmo e da pasmaceira que tem caracterizado as últimas administrações do Crato (de uns 40 anos e até os dias atuais), na cidade surgiu a idéia de se usar e se valer do tal “turismo religioso” como instrumento ou forma de catapultá-la da estagnação, alavancar seu crescimento, dar-lhe algum sinal de vida, coloca-la sobre os trilhos do progresso e, enfim, fazê-la menos fantasmagórica do que se nos apresenta hoje, evitando sua transformação numa “cidade-dormitório”, como tudo está a indicar.
O “turismo religioso”, para os menos desavisados, é o ato de – com fé, na fé, pela fé e bota fé nisso – fazer a cabeça e se meter as duas mãos e os dois pés no bolso dos romeiros, com irrefreável e inaudita vontade, extorquindo-lhe e explorando-lhe até não mais poder, mesmo que, ao fim e ao cabo, se torne necessário arrancar-lhe a própria pele, sugar-lhe o sangue, esfolá-lo vivo em praça pública ou, simplesmente, despachar-lhe só com o couro e o osso às suas origens miseráveis.
Para viabilizar tão “revolucionário” projeto, chegou-se à conclusão que a opção seria a construção (quanto “ão”, não ???) de uma imensa estátua de um desses
“santos” disponibilizados na vasta coleção da Igreja Católica (tem santo pra todo dia da semana), preferencialmente um daqueles dotados de maior apelo popular. Tanto isso é verdade que, muito embora a padroeira da cidade do Crato seja Nossa Senhora da Penha (pouco menos conhecida e, tudo indica, sem prestígio junto aos afilhados), optou-se por Nossa Senhora de Fátima (essa, sim, de forte chamamento popular, muito embora não tenha a ver com a cidade, como Penha).
O raciocínio era de uma simplicidade franciscana: se na cidade vizinha, a estátua de um (ainda hoje renegado pela Igreja) mero “candidato a santo” (mas que vai chegar lá, sim, por critérios midiáticos-mercantis) atrai milhares de devotos, rende mundos e fundos e foi capaz de formar muitas fortunas pessoais e projetá-la muito além de suas fronteiras, um santo “de verdade”, com pedigree reconhecido e chancelado pelo Vaticano, nos renderia cem vezes mais e em menos tempo (e não venham com hipocrisia de dizer que não era bem isso o planejado).
No entanto, a coisa começou a “fazer água” ainda na sua fase preliminar ou de definição da melhor localização para erigi-la: é que os gênios (e bota genialidade nisso) consultados, inapropriadamente optaram por uma área às margens da rodovia que liga as duas cidades, inviabilizando, assim, a entrada, visita ou o transito das combalidas, indefesas e pobres “vítimas” (romeiros) pelo centro da cidade do Crato, onde presumivelmente gastariam seus parcos recursos com alguma coisa, útil ou inútil (refeições, estatuetas, bottons, fitinhas, outras lembrancinhas da santa, lanches e por aí vai). Afinal, é essa ou não a estratégia usada aí mesmo na cidade vizinha, sem dó nem piedade, doa a quem doer ???
Pra piorar a situação (e pegando carona no velho e surrado bordão “só no Crato mesmo”), descobriu-se que tinha uma “praça” no meio do caminho da “nossa” santa. Em outras palavras: coincidentemente, a construtora responsável pela construção da estátua de Nossa Senhora de Fátima seria a mesma que, lá atrás, teria sido criada (a toque de caixa) com o objetivo primeiro de fazer aquela dantesca e horrorosa reforma da Praça Siqueira Campos, onde, comprovadamente, houve uso de material de qualidade pra lá de duvidosa e preço aviltante e superfaturamento de demais itens (comenta-se), beneficiando não se sabe quem. Ora, se pra reformar uma praça da dimensão diminuta da Siqueira Campos gastou-se (ou desviou-se) uma fortuna (“falam” em quase 200 mil reais), quanto seria gasto (ou desviado) de uma obra de maior porte, de estrutura bem mais complexa ??? Quem tinha interesse em tamanha maracutaia ??? O certo é que, como parece não ter havido acordo para a divisão das “sobras”, a coisa esfriou de vez.
Assim, criado o impasse, nossa “santa” não subiu e nem nos levou aos céus (como esperado), e só restaram - frias, desnudas e apocalípticas - as fundações da estátua daquela que seria a nossa redentora, coincidentemente junto ao “esqueleto” (também em razão de mutretagens), daquele que um dia sonhamos que seria o suntuoso shopping onde desfilariam nossos filhos e netos (e do qual muito nos orgulharíamos), a testemunharem, lá no horizonte, a estátua de um não santo e renegado pela Igreja, mas que conseguiu trazer progresso e desenvolvimento para a cidade vizinha.
A descoberta dessa possível maracutaia seria mais um milagre de Fátima ???

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