Por que as “confissões” de Claude Bloc sobre o natal são esteticamente importantes nestes anos? Quando uma crise profunda abala os centros de maior referência para a cultura brasileira: os EUA e a Europa Ocidental?
O primeiro é que uma coisa é você criar um texto para amainar o espírito, com as brumas de tons róseos e as frases encadeadas de um verdadeiro complexo de Poliana. A vida não é um jardim de encantos, especialmente a vida como projetada na atual sociedade.
Mas igualmente por não ser a vida este jardim ela também não cai no inexorável destino como muitos crêem a partir dos dramas gregos e de Shakespeare. As linhas de desencontro que urdiram a trama do drama poderão ser modificadas de outro modo. Não é o destino o senhor da vida.
Por isso mesmo a literatura da modernidade e da pós não suportam a aceitação como regra e nem a conservação como destino. Num mundo em que tudo muda, é preciso criar a estética da vanguarda, iconoclasta, que tanto denunciasse o status quo, como mostrasse o ralo por onde aquela realidade superada se esvaía.
É o que escreveu Claude em “Meu tesouro de Natal”, mostrando as peças brilhantes deste bem. O leitor se abre para o título e para as imagens da família. Uma perfeita imagem do que se tornou sagrado com o nascimento do cristianismo: a família.
E ele, o leitor, com o sorriso sereno da visão que se destaca é agarrado no contra pé e nem se dar conta do que disse a Claude. Ela fala do vazio que a vida urbana e as migrações trouxeram. Ao invés do sonho de natal ela fala da dispersão, das formas não hierarquizadas de se juntar, num egocentrismo em que nada se ordena como o sol do natal e o cortejo do sistema planetário.
Cada família nuclear é o seu próprio centro. E cada família nuclear não vai muito além dos pais e dos filhos. Em qual escala ficam avós, tios, parentes e aderentes? Em nenhuma escala, pois juntá-los já não existe por necessidade.
E ela denuncia muito mais, apesar de procurar compensações que se bastem a si, ela refuta e diz: “Mas não sou nenhuma heroína como possa parecer nesse meu propósito. Não ter com quem trocar sorrisos é um ato doloroso. Muitas vezes sucumbo e me amofino.”
E numa ruptura estética, ela não se deixou aprofundar na solidão do dia irremovível. Ele apenas se tornou outro como são todos os dias e o dia que a ela caberia intervir ela o mexeu de data. Fez do natal o natal dela, das netas e das filhas.
A literatura do insubmisso ao destino cruel e da ação mesmo quando o horizonte se eleva acima da linha tradicional que era.
O primeiro é que uma coisa é você criar um texto para amainar o espírito, com as brumas de tons róseos e as frases encadeadas de um verdadeiro complexo de Poliana. A vida não é um jardim de encantos, especialmente a vida como projetada na atual sociedade.
Mas igualmente por não ser a vida este jardim ela também não cai no inexorável destino como muitos crêem a partir dos dramas gregos e de Shakespeare. As linhas de desencontro que urdiram a trama do drama poderão ser modificadas de outro modo. Não é o destino o senhor da vida.
Por isso mesmo a literatura da modernidade e da pós não suportam a aceitação como regra e nem a conservação como destino. Num mundo em que tudo muda, é preciso criar a estética da vanguarda, iconoclasta, que tanto denunciasse o status quo, como mostrasse o ralo por onde aquela realidade superada se esvaía.
É o que escreveu Claude em “Meu tesouro de Natal”, mostrando as peças brilhantes deste bem. O leitor se abre para o título e para as imagens da família. Uma perfeita imagem do que se tornou sagrado com o nascimento do cristianismo: a família.
E ele, o leitor, com o sorriso sereno da visão que se destaca é agarrado no contra pé e nem se dar conta do que disse a Claude. Ela fala do vazio que a vida urbana e as migrações trouxeram. Ao invés do sonho de natal ela fala da dispersão, das formas não hierarquizadas de se juntar, num egocentrismo em que nada se ordena como o sol do natal e o cortejo do sistema planetário.
Cada família nuclear é o seu próprio centro. E cada família nuclear não vai muito além dos pais e dos filhos. Em qual escala ficam avós, tios, parentes e aderentes? Em nenhuma escala, pois juntá-los já não existe por necessidade.
E ela denuncia muito mais, apesar de procurar compensações que se bastem a si, ela refuta e diz: “Mas não sou nenhuma heroína como possa parecer nesse meu propósito. Não ter com quem trocar sorrisos é um ato doloroso. Muitas vezes sucumbo e me amofino.”
E numa ruptura estética, ela não se deixou aprofundar na solidão do dia irremovível. Ele apenas se tornou outro como são todos os dias e o dia que a ela caberia intervir ela o mexeu de data. Fez do natal o natal dela, das netas e das filhas.
A literatura do insubmisso ao destino cruel e da ação mesmo quando o horizonte se eleva acima da linha tradicional que era.
Um comentário:
José do Vale,
Nunca uma análise sua me tocou tão profundamente como esta. Quem sabe este seja mesmo o meu melhor presente de Natal. Essa consciência de que hodiernamente somos a peças de um todo que já não é o mesmo de antigamente. Os valores mudaram, a dimensão humana mudou e nos vemos enovelados pela nova maré mesmo sem nos darmos conta disso.
Mas você consegue enxergar e nos mostra com clareza como "amainar o espírito" sem necessariamente nos derretermos em frases feitas. Sem proclamar a mesmice.
Obrigada Zé do Vale, pela perfeita leitura de minha alma.
Abraços (ainda) natalinos.
Claude
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