O MENINO NASCEU
O menino nasceu ao meu lado.
Um halo de luz fendia as trevas,
Vinha do alto e se expandia.
O galo arrebentou a garganta.
O cavalo cantou as palavras do poema.
Uma frágil parede nos separava do mundo.
O cavalo escarva o chão soltando fogo pelas ventas:
Era o meu poema queimando a noite.
O sangue inundava o quarto.
A caçamba do tempo vem do fundo do poço,
transbordando água limpa e fresca.
Trago o estigma na fronte.
Sou lavado pelo batismo do menino.
Vejo os ossos brancos sobre a pedra.
O menino ergue a chave com a mão pequena
E me abençoa.
O POEMA DO MILAGRE
Sou uma pedra no meio da casa
Com os ossos do cão cruzados em cima.
Quando chegará o inimigo?
Sentaremos juntos, conversaremos, sorriremos?
Comungaremos a minha casa antes de nos estranharmos?
A minha mãe chora atrás da porta,
A cabeça coberta com o pano da dor.
Um espinho me penetra nos olhos com o poema do milagre.
O nome do menino me queima a língua.
Os olhos do menino estão em brasa e iluminam a noite.
A casa cai com a luz.
As flores voam, as pétalas são gotas de fogo.
A mulher entrega o menino ao estrangeiro.
O velho ergue o menino nos braços e canta.
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(poemas de Natal, 2007)
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Um comentário:
Teus contos são presentes de Natal.
Obrigada, Brandão !
Abraço fraterno.
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