Sobre origens
Para o prof. Antonio Alves – o Toínho – de Ponta da Serra
Coisas nossas lembrar as origens e a caminhada humanas do estado de natureza para a cultura, do nomadismo ao sedentarismo e nos situarmos nessa história enquanto sociedade.
Historicamente tudo começa lá pelo quaternário, último período da Era Cenozóica, quando o homem, surgido mais precisamente no sul da África, iniciou seu processo de caminhada pela terra em busca de alimentos na qualidade de caçadores-coletores.
Pelo caminho o homem vai se cruzando com outros bandos humanos até mais adiantados, porque deram a largada primeiro. Instaura-se o processo de miscigenação que hoje nos leva a crer não haver “raça” pura na face da terra.
Dizem os especialistas em Antropologia, Arqueologia e Paleontologia, animados pelos historiadores das sociedades primitivas, que já bem adiante, pelo Neolítico, os homens se encontram chegando à América do Norte pelo estreito de Bering, numa dessas marés baixas das Eras Glaciais, e paulatinamente, vão ocupando todo o continente americano, quando já estavam mais aprimorados enquanto espécie - o chamado “Homo sapiens”.
Enquanto a antropóloga Niede Guidon, executiva do Museu do Homem Americano, no Piauí, assume que chegamos por aqui por volta de 60 mil anos, seu colega do México, Juan Comas, registra 22 mil anos como marco de nossa entrada no continente.
Hoje, nova polêmica está em curso quanto às rotas de chegada. Em vez de uma só, pela ponte terrestre do Estreito de Bering, há possibilidade de outra, pela costa americana, através de embarcações. Um recente estudo A História da Humanidade Contada pelo Vírus, de Stefan Cunha Ujvari, Editora Contexto, 2008, dá conta da presença de ovos do Ancylostoma duodenale, aquele do nosso Jéca Tatu, em cropólitos (massa fecal fossilizada) em índios americanos. Esses ovos não poderiam ter migrado pelo gelo, por razões óbvias, dentro do intestino de levas e levas de sapiens.
Bom, mas nós aqui dessas bandas do Ceará, como por todo o interior do Nordeste, somos descendentes de índios da grande nação Cariri, que habitava desde o norte da Bahia até o norte do Piauí, passando por Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Interessante observar que as condições sócio-ambientais permitiram a manutenção de traços bem característicos em nossa população, basta prestar atenção em nosso biotipo. Temos um corpo assim, uma cabeça assim...
No grande Cariri encontramos muitos conterrâneos com feições bem nítidas, na compleição física, da herança cariri. Isto porque nosso cruzamento teria sido recorrentemente entre índios com índios, índios com europeus, já que o estoque negróide pouco se reproduziu por aqui.
Costumes e mais costumes nos saltam à vista ou, de tanto familiar, não nos apercebemos sobre suas origens.
Quem não gosta de uma redinha após o almoço. De uma tapioca, beiju... O uso do cachimbo é bem presente pelas mulheres em comunidades campesinas. As falas de algumas pessoas lembram sons da língua indígena. A cor da pele e dos cabelos. Os trejeitos musicais de bandas de pífanos. E vai por aí...
Então, meus amigos, gostaria de juntar à História do vencedor à do vencido, e lembrar eles também nesse momento de comemorações ancestrais.
Aliás, uma das maiores lembranças em favor dos índios habitantes dessas terras antes da vinda dos europeus, é aquela em que, por ordem da carta régia de 05 de março de 1755 e da lei de 06 de junho do mesmo ano, as autoridades luso-brasileiras fazem chegar aos rincões do Brasil os alvarás de criação de “vilas de índios”, minudenciando os detalhes das instalações físicas até a constituição do governo local. Há um cuidado em manter orientações exaradas desde 1680 em favor da integridade indígena, um sempre apelo da coroa em tornar todas as humanidades vassalas do reino português.
Obedecendo fielmente as orientações de 1755, as primeiras autoridades da Vila Real do Crato foram compostas por seis senadores. Seguindo a carta régia o poder executivo ficou nas mãos de um índio, José Amorim e de um colonizador, o abastado agropecuarista com título honorífico do Estado Português, o capitão Francisco Gomes de Melo. Aliás, como ainda não havia instituída a figura do prefeito por esses tempos, os dois foram elevados ao status de “juízes ordinários”.
Tem uma turma na historiografia local que não vibra com a condição de um índio ter sido também nossa autoridade primordial. Mas é a História que o conduziu àquele mister, muito embora logo, logo, a Câmara do Senado advogue todo o poder municipal para si.Mas aí é outra história...
Nesta foto lhes apresento Rosa Carlos de Melo, residente na Serra do Araripe. Uma índia cariri em tudo, no jeito de ser, de fazer e de falar.
Rosa Carlos de Melo é coisa nossa, e através dela eu saúdo a memória de nossos antepassados.
Convido-os para ouvir pela Rádio Educadora, nesta quinta, às 14 horas, o encanto dos festivais da canção no Brasil, no programa Compositores do Brasil, através também da www.radioecudadora1020.com.br
Bom fim de semana.
Fiquem com a música de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar – BR3 – com Tony Tornado e Trio Ternura, vencedora da fase nacional do 5º. Festival Internacional da Canção, em 1970
Para o prof. Antonio Alves – o Toínho – de Ponta da Serra
Coisas nossas lembrar as origens e a caminhada humanas do estado de natureza para a cultura, do nomadismo ao sedentarismo e nos situarmos nessa história enquanto sociedade.
Historicamente tudo começa lá pelo quaternário, último período da Era Cenozóica, quando o homem, surgido mais precisamente no sul da África, iniciou seu processo de caminhada pela terra em busca de alimentos na qualidade de caçadores-coletores.
Pelo caminho o homem vai se cruzando com outros bandos humanos até mais adiantados, porque deram a largada primeiro. Instaura-se o processo de miscigenação que hoje nos leva a crer não haver “raça” pura na face da terra.
Dizem os especialistas em Antropologia, Arqueologia e Paleontologia, animados pelos historiadores das sociedades primitivas, que já bem adiante, pelo Neolítico, os homens se encontram chegando à América do Norte pelo estreito de Bering, numa dessas marés baixas das Eras Glaciais, e paulatinamente, vão ocupando todo o continente americano, quando já estavam mais aprimorados enquanto espécie - o chamado “Homo sapiens”.
Enquanto a antropóloga Niede Guidon, executiva do Museu do Homem Americano, no Piauí, assume que chegamos por aqui por volta de 60 mil anos, seu colega do México, Juan Comas, registra 22 mil anos como marco de nossa entrada no continente.
Hoje, nova polêmica está em curso quanto às rotas de chegada. Em vez de uma só, pela ponte terrestre do Estreito de Bering, há possibilidade de outra, pela costa americana, através de embarcações. Um recente estudo A História da Humanidade Contada pelo Vírus, de Stefan Cunha Ujvari, Editora Contexto, 2008, dá conta da presença de ovos do Ancylostoma duodenale, aquele do nosso Jéca Tatu, em cropólitos (massa fecal fossilizada) em índios americanos. Esses ovos não poderiam ter migrado pelo gelo, por razões óbvias, dentro do intestino de levas e levas de sapiens.
Bom, mas nós aqui dessas bandas do Ceará, como por todo o interior do Nordeste, somos descendentes de índios da grande nação Cariri, que habitava desde o norte da Bahia até o norte do Piauí, passando por Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Interessante observar que as condições sócio-ambientais permitiram a manutenção de traços bem característicos em nossa população, basta prestar atenção em nosso biotipo. Temos um corpo assim, uma cabeça assim...
No grande Cariri encontramos muitos conterrâneos com feições bem nítidas, na compleição física, da herança cariri. Isto porque nosso cruzamento teria sido recorrentemente entre índios com índios, índios com europeus, já que o estoque negróide pouco se reproduziu por aqui.
Costumes e mais costumes nos saltam à vista ou, de tanto familiar, não nos apercebemos sobre suas origens.
Quem não gosta de uma redinha após o almoço. De uma tapioca, beiju... O uso do cachimbo é bem presente pelas mulheres em comunidades campesinas. As falas de algumas pessoas lembram sons da língua indígena. A cor da pele e dos cabelos. Os trejeitos musicais de bandas de pífanos. E vai por aí...
Então, meus amigos, gostaria de juntar à História do vencedor à do vencido, e lembrar eles também nesse momento de comemorações ancestrais.
Aliás, uma das maiores lembranças em favor dos índios habitantes dessas terras antes da vinda dos europeus, é aquela em que, por ordem da carta régia de 05 de março de 1755 e da lei de 06 de junho do mesmo ano, as autoridades luso-brasileiras fazem chegar aos rincões do Brasil os alvarás de criação de “vilas de índios”, minudenciando os detalhes das instalações físicas até a constituição do governo local. Há um cuidado em manter orientações exaradas desde 1680 em favor da integridade indígena, um sempre apelo da coroa em tornar todas as humanidades vassalas do reino português.
Obedecendo fielmente as orientações de 1755, as primeiras autoridades da Vila Real do Crato foram compostas por seis senadores. Seguindo a carta régia o poder executivo ficou nas mãos de um índio, José Amorim e de um colonizador, o abastado agropecuarista com título honorífico do Estado Português, o capitão Francisco Gomes de Melo. Aliás, como ainda não havia instituída a figura do prefeito por esses tempos, os dois foram elevados ao status de “juízes ordinários”.
Tem uma turma na historiografia local que não vibra com a condição de um índio ter sido também nossa autoridade primordial. Mas é a História que o conduziu àquele mister, muito embora logo, logo, a Câmara do Senado advogue todo o poder municipal para si.Mas aí é outra história...
Nesta foto lhes apresento Rosa Carlos de Melo, residente na Serra do Araripe. Uma índia cariri em tudo, no jeito de ser, de fazer e de falar.
Rosa Carlos de Melo é coisa nossa, e através dela eu saúdo a memória de nossos antepassados.
Convido-os para ouvir pela Rádio Educadora, nesta quinta, às 14 horas, o encanto dos festivais da canção no Brasil, no programa Compositores do Brasil, através também da www.radioecudadora1020.com.br
Bom fim de semana.
Fiquem com a música de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar – BR3 – com Tony Tornado e Trio Ternura, vencedora da fase nacional do 5º. Festival Internacional da Canção, em 1970
Um comentário:
É sempre bom ler os artigos concisos, objetivos e verdadeiros de Zénilton Figueiredo.
Espero que um dia ele reúna em um livro, as crônicas históricas que vem produzindo, preservando-as para os pósteros.
Hoje já podemos chamar Zénilton, merecidamente, de historiador, além do sociólogo e antropólogo e professor que ele já é há décadas!
Postar um comentário