rNão deu. Mas poderia. Entre dar e não dar os olhos afiados dele eram dardos que dão feridas. Mas ele dá flores para esconder os espinhos que picam agora, para tempos depois relembrar todas as mágoas de um remoto tempo qualquer.
Ela nem compreendeu o humor da frustrada aerobiose. Uma morena linda, da cintura com desejo de abraço, nem se fala do que logo abaixo ou acima se endoidece. Passou rápido num exercício de aperfeiçoar o corpo ainda mais; como se fosse possível.
Falava do exercício aerobiótico carregando todo o ar que o ambiente tinha. Ao lado segui-lhe o companheiro. Um sujeito alto, com excesso de tecido adiposo, roliço de cima a baixo. Ela falava e ele nem balançava a cabeça para confirmar todo aquele exercício.
A cada palavra de estímulo ao esforço, mais suores esguichavam dos poros dele. E o exercício tem um efeito colateral opositivo: tanto pode abrir o sorriso quanto enevoar o cenho. Ela era uma gazela querendo mais, ele um elefante em busca de uma poça de água naquele deserto de preguiça.
Ela tentava aumentar o ritmo e ele mais se irritava. Primeiro não comentava nada do que ela, com entusiasmo, pregava e como continuasse, ele começava a soprar com as bochechas flácidas a gerar um barulho de fole na forja do metal.
Até que ela percebeu o ritmo dele diminuindo. Prestou atenção na face e ele era todo desagrado. Percebeu o desencontro dos dois e ficou amuada. Calou-se, diminuiu o ritmo dos passos para acompanhá-lo e a excitação de músculo passou para um diálogo interno sobre tudo o mais que se passava a redor.
Foi aí que uma senhora, aparentando uns noventa anos passou célere por eles e se afastou num ritmo de exercício de fazer inveja. Quase que ela acelera involuntariamente, mas teve que suportar a frustração de acompanhar o companheiro.
De repente viu um homem de sunga, quase fio dental, num mar de obesidade, com sandálias japonesas no duro calçadão de pedras portuguesas. Nem deste conseguiram diminuir a distância. Num ritmo de causar irritação o homem de sunga se mantinha à mesma distância. Como ela desejava que ele sumisse nalguma transversal da praia.
No limite da renúncia ao seu exercício aeróbico ela viu uma criança de cinco anos, empurrando o seu carrinho e a babá ao lado, ultrapassar os dois e lentamente se afastarem. Foi aí que tudo desabou: ela sentou-se na borda do calçadão num choro convulsivo.
O companheiro não entendeu nada. E ela vertendo em lágrimas a aerobiose do frustro exercício.
3 comentários:
Não foi de propósito. Embora a frustração do evento até poderia caber ao título, mas foi algum comando que esbarrei aqui no teclado que postou o texto. O título é: Execício Aeróbico.
Desculpem continuo errado: Exercício ao invés de Execício.
Agradeço a quem retornou com o "r" antes subtraído.
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