Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Nadando em águas claras – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Numa noite úmida de fevereiro, sentindo-me inadaptado à cidade grande e seus inúmeros rostos estranhos, vi-me, como que de repente, envolvido por uma onda acolhedora que me lançou no meio de um mar de águas mornas, claras e aconchegantes. Meu corpo flutuava livremente, sem necessidade de nenhum esforço para me manter na superfície daquela água deliciosa. Ao meu lado, uma multidão de rostos desconhecidos também flutuava. O sentimento de cada um daqueles banhistas parecia fundir-se ao meu, num processo de unificação sobrenatural. Inexplicável descrever com precisão a emoção que sentíamos. Um bem estar invadia nossas almas e, aquele prazer inesquecível, que toda criança experimenta num banho de piscina, era comum a todos os companheiros daquele inacreditável passeio aquático. Um velhinho simpático se aproximou de mim sorrindo. Então comentei com ele:
– Que banho maravilhoso! Sinto-me outro homem. – Ele então me perguntou:
– Você não sabe onde está?
– Não. – Respondi. E enquanto a brisa nos transportava suavemente para a praia, ele me disse:
– Você morreu. Estamos na vida eterna.
– Que bom! – Exclamei com alegria. – Agora vou rever meu pai e minha mãe que estão aqui. – Ao que fui imediatamente contrariado pelo bom velhinho:
– Já faz mais de dez mil anos que estou aqui e ainda não encontrei nenhum conhecido.
– Também pudera. Há dez mil anos, a população do mundo não era nem duzentos mil habitantes. Agora não, eu conheci muito mais gente que já morreu que o senhor. – Disse-lhe eu todo convencido, enquanto sem que nos déssemos conta, estávamos na praia. Era uma estreita faixa de terra espremida entre aquele lago mágico e um alto que nos lembrava o morro do nosso Seminário. Na encosta dessa pequena elevação uma multidão incalculável se espremia olhado para o topo da montanha. De repente vi duas mocinhas conhecidas lá do Crato, que estudavam em João Pessoa e haviam morrido num desabamento da casa em que moravam, numa noite de grande chuva. E disse para o meu amigo:
– Está vendo? Já encontrei duas conhecidas. Aquelas duas moças são lá do Crato. – disse-lhe em tom de vitória. Ele retrucou imediatamente:
– Aquelas duas moças têm dois mil anos que morreram. Elas viveram na época de Cristo. Não podem ser do Crato, porque essa cidade ainda não existia. – Completou o amigo. Em seguida ele acrescentou:
– É hora de Jesus chegar.
Aquele velhinho transpirava bondade por todos os poros e me transmitia uma segurança e bem estar nunca d’antes experimentado. Ajeitei-me nas pontas dos pés para poder melhor visualizar o Mestre, ansiosamente esperado. O meu bom companheiro explicava que todos os dias, àquela mesma hora, o Senhor vinha nos visitar. De repente um forte clarão surgiu por trás de uma nuvem e a multidão toda se agitava. Jesus estava chegando! À medida que Jesus se aproximava do morro, um vento forte balançava nossos cabelos e refrescava o forte calor daquela noite. O clarão aumentava de intensidade fechando nossos olhos automaticamente. Fiz um esforço enorme para abrir meus olhos. Precisava ver Jesus. Naquele exato momento, a luz fluorescente do banheiro fora acesa e o tiquetaque do despertador me lembrava um novo dia de muito trabalho.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

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