Espelho meu...
- Claude Bloc -
- Claude Bloc -
Sou frágil, transparente. Meu espelho é um simulacro da realidade. Apenas recorta-me contra o infinito e sopra ao meu ouvido essa finitude que me atravessa e me distingue. Sinto a cada hora a perda do que fui, sinto a perda de mim mesma nesse complexo mundo; sob essa condição inexorável: a busca constante da plenitude. Mas vivo perdida, confesso. Eu não seria nada sem essa miragem, sem a redenção da minha dor. Por isso, vivo num exílio calculado, olhando os espelhos dos céus e mesmo assim sem conseguir enxergar direito a realidade.
A poesia é minha fuga, minha vida e meu sustento. Como a moldura e o sopro, o barro e o espírito, a vida em si mesma - o desenho, o esculpir das linhas, os contornos que conferem a graça da imagem e a pulsação anônima de um mundo submerso.
A poesia que faço tem, então, a consciência dos meus motivos e de meu destino. Mostra-me a sede que não se sacia, o desejo que não se extingue, e, por isso mesmo, torna a vida possível. Veste-me do deserto, e despe-me do sonho, da revelação dos meus anseios, da paixão e da harmonia de que são feitos os meus dias. E estou lá: onde a alegria está em sono profundo e por isso as coisas todas do meu tempo parecem querer despertar à luz de um novo dia.
Escrevo e teço música e imagens e, ao mesmo tempo, nego essa linguagem que me conduz à foz e à nascente e que se insere sem mistério no meu corpo. Escrevo e o pensamento se enraíza em seu domínio, bem anterior às palavras. Porque primeiro tenho consciência de que houve o toque, a extensão da vista; o movimento, a percepção de tempo e de espaço. Muito antes de ser dito, meu mundo foi tocado, apreendido e captado dentro desse espelho em que me vejo.
Assim, esse mergulho se perde na dimensão da consciência de si mesmo, mas recupera-se para a vida com a intervenção da poesia; e no espelho me devolve a singularidade, a eterna transformação das formas, uma a uma desenlaçadas, areia, nuvem, deserto, espelho, água.
A poesia é minha fuga, minha vida e meu sustento. Como a moldura e o sopro, o barro e o espírito, a vida em si mesma - o desenho, o esculpir das linhas, os contornos que conferem a graça da imagem e a pulsação anônima de um mundo submerso.
A poesia que faço tem, então, a consciência dos meus motivos e de meu destino. Mostra-me a sede que não se sacia, o desejo que não se extingue, e, por isso mesmo, torna a vida possível. Veste-me do deserto, e despe-me do sonho, da revelação dos meus anseios, da paixão e da harmonia de que são feitos os meus dias. E estou lá: onde a alegria está em sono profundo e por isso as coisas todas do meu tempo parecem querer despertar à luz de um novo dia.
Escrevo e teço música e imagens e, ao mesmo tempo, nego essa linguagem que me conduz à foz e à nascente e que se insere sem mistério no meu corpo. Escrevo e o pensamento se enraíza em seu domínio, bem anterior às palavras. Porque primeiro tenho consciência de que houve o toque, a extensão da vista; o movimento, a percepção de tempo e de espaço. Muito antes de ser dito, meu mundo foi tocado, apreendido e captado dentro desse espelho em que me vejo.
Assim, esse mergulho se perde na dimensão da consciência de si mesmo, mas recupera-se para a vida com a intervenção da poesia; e no espelho me devolve a singularidade, a eterna transformação das formas, uma a uma desenlaçadas, areia, nuvem, deserto, espelho, água.
Foto e texto: Claude Bloc
Um comentário:
Belo, belo texto !
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