Conversa
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Conversa (3)
A descoberta do fogo, as Grandes Navegações, todos os avanços da ciência já tiveram sua pertinência questionada: incertezas e sacrifícios fazem parte da narração das conquistas. Há um custo humano em todas as expedições que provocam superações e mudanças: erros e tragédias se intercalam com acertos e alcances. Na literatura que trata das aventuras marítimas, o limite do comportamento humano está posto em questão.
São versos do sobrevivente de naufrágio Luís de Camões, no Canto IV, 97, em sua obra “Os Lusíadas”, de 1569, através do personagem Velho do Restelo:
Que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente ?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Debaixo dalgum nome preminente?
“História Trágico-Marítima”é um livro com narrativas portuguesas de náufragos sobreviventes de embarcações que pretendiam alcançar as Américas, a Ásia e a África, entre os anos 1500 e 1600.
As histórias foram compiladas no século XVIII, por Bernardo Gomes de Brito, e publicadas em Portugal, em dois tomos, em 1735 e 1736.
A “História Trágico-Marítima” foi editada no Brasil em 1963,
e reeditada, em 1968, por Lacerda Editores/Contraponto.
O livro “Moby Dick”, do autor inglês Herman Melville (1819-1891), clássico da literatura do século XIX, narra o enfrentamento, no mar, de um experiente navegador e uma baleia. Uma disputa quase filosófica, promovida pelo acaso, entre seres diferentes da natureza. A origem desse romance é o naufrágio, no Pacífico, do navio baleeiro Essex, que em 1820 afundou com cerca de 20 homens a bordo. Também o livro “No Coração do Mar”, de Nathaniel Philbrick, publicado no Brasil, em 2000, pela Editora Companhia das Letras, reconstrói o depoimento de um sobrevivente dessa tragédia, que conta os erros cometidos e a experiência da tripulação do barco, cujo naufrágio foi provocado pelo ataque de baleias. Natanael Philbrick é pesquisador em Nantucket (da Nantucket Historical Association), ilha da costa leste dos Estados Unidos de onde partiu o Essex, que durante muito tempo foi o maior centro baleeiro do mundo.
Também o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) escreveu “Mar Portuguêz”
sob inspiração do esforço humano para promover travessias:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão resaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Mas nelle é que espelhou o céu.
(Bojador é o nome de um cabo a noroeste do continente africano,
onde naufragavam muitas embarcações que tentavam alcançar a Ásia.)
foto de Fernando Pessoa
por Sônia Lessa
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