Manoel Ricardo de Lima, poeta e crítico, oferece-nos um pequeno livro, os anomenos, editado pela editora de casa, com copyleft do autor e projeto gráfico de Fernanda do Canto. Uma escrita que faz pensar, por buscar na leitura crítica da vida cotidiana, repetitiva e vazia, os materiais para a construção de uma poética do banal.
Um pequeno exemplo:
Os humbertos
Manoel Ricardo de Lima
Estes seres do lado de lá do mundo, os
humbertos, têm certeza que carregam em
cada um deles, um a um, o nome de um
rei, e poderiam facilmente rechear a pança
com títulos nobiliárquicos como Humberto
primeiro, Humberto quinto, Humberto nono
etc. Mas não, ferozes e ao mesmo tempo
mansos em seu comportamento ambíguo,
entre a nobreza e a rua, os humbertos não
são nada impassíveis, ao contrário, com uma
passionalidade extremada, ousam a cada vez
que descobrem uma nova possibilidade de
vida escorregar as suas patas e os seus olhos
graúdos até seja lá o que se apresente como
desejo. Se dicotômicos, contraditórios; e se
contraditórios, não esquecem de cuidar de si
mesmos nem dos que gostam como seu mais
ardiloso triunfo.
*
Obs.: A ilustração é do artista Hélio Jesuino.
por Everardo Norões
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