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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Uma questão de idade – Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Há trinta e sete anos, recém-casados, eu e Carlos fomos morar na cidade de São João d’Aliança em Goiás, distante cento e cinqüenta e dois quilômetros de Brasília. Nessa época, Carlos trabalhava na construção da estrada São João d’Aliança a Alto Paraíso. São João d’Aliança era uma cidade antiga de uma única rua. Alugamos uma casa e como Carlos trabalhava o dia todo, eu ficava muito sozinha. Antes que pudesse me dar conta que seria difícil ter amigas nessa pequena cidade, duas mulheres com idade de mais ou menos sessenta anos, nossas vizinhas, vieram nos fazer uma visita. Elas foram tão acolhedoras, tão educadas que me senti grata pela delicadeza delas. Apesar da diferença de idade minha e de Carlos, para as nossas novas amigas, pois eu tinha vinte e três anos e Carlos vinte e sete, nos alegramos em ter pessoas tão boas morando perto de nós. Assim ganharíamos experiência com elas e, elas se alegrariam com a nossa juventude.

Moramos apenas dois meses nessa cidade, mas foi o suficiente para reconhecer o quanto as nossas amigas eram bondosas, como a maioria das pessoas que moram em cidades pequenas. Fomos convidados por elas para passar um domingo em Alto Paraíso, uma região montanhosa, cheia de vales e muito verde, onde elas tinham uma irmã que morava lá. À medida que subíamos a serra, ficávamos maravilhados com a beleza de um rio que descia ordenadamente. Era uma visão radiante da natureza. Fomos muito bem recebidos pela família das nossas amigas. Lá chegando, elas nos ofereceram papa de milho. Olhando a mesa repleta de pratos cheios de uma papa amarela, eu logo desconfiei que fosse canjica e aceitei. Carlos disse que não queria. E eu sabendo o quanto ele gosta de canjica, perguntei por que não aceitou e expliquei o que era. Ele respondeu: “É canjica? Então eu quero!” Rimos muito e explicamos a elas que aquilo que elas chamavam papa de milho, na nossa terra é canjica.

Ainda hoje lembro com carinho dessas duas mulheres maravilhosas que nos trataram tão bem e, supriram a falta que sentíamos dos nossos familiares. Com essas lembranças agradeço a Deus por ter colocado no nosso caminho essas pessoas de bem. Tem gente que vem ao mundo para distribuir bondade e sempre são recompensadas pelas Bênçãos Divinas.

Relembrando os fatos ocorridos em épocas passadas, notamos como a nossa percepção do tempo muda à medida que os anos passam. Há mais de quinze anos estávamos conversando com uma prima de Carlos sobre esse período em que moramos em São João da Aliança. Então sem pensar, fui dizendo para ela, que lá nós só tínhamos como amigas duas velhinhas de sessenta anos. Entretanto não foi no sentido de desvalorizar minhas amigas, mas para ressaltar a nossa diferença de idade. Mesmo assim a prima de Carlos, quase que me crucificou, pois essa era a idade dela. Tive muito trabalho para consertar meu erro. Fui explicar que com vinte três anos, achava que pessoas com mais de sessenta anos já eram velhas. Mas com minha idade do momento já não pensava assim. O certo é que fui perdoada e hoje tenho muito cuidado quando o assunto é idade. Aprendi a lição, pois viver é um eterno aprendizado.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

10 comentários:

socorro moreira disse...

Bravo, Magali !
Já temos material para o próximo livro.


Saudades.
Voltem logo !

Anônimo disse...

É mesmo Socorro, já temos que pensar no próximo. Todos estamos esperando outra festa daquela no próximo ano. Foi tudo maravilhoso! Vocês trabalharam com competência.

Um grande abraço


Magali

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

A região de Alto Paraaíso é um dos locais mais bonitos do Brasil. As cidades são antigas com muitas casas em estilo colonial. Qualquer dia visitaremos aquela região tão bonita quanto o nosso Crato, para relembrarmos os tempos dificeis do inicio de nossas vidas, porém muito felizes.

Stela disse...

Magali
Gostei muito deste relato e da forma como você tratou do assunto, com leveza e simplicidade. Fazer amizades com jovens ou com velhos é sempre uma experiência enriquecedora.
Xêros.
Stela

Anônimo disse...

Obrigada Stela. O seu comentário me alegrou bastante.
Reencontrar todas vocês foi muito bom.

Um grande abraço.


Magali

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Boa idéia Carlos. Vamos viajar por esse Brasil afora!

Abraços.

Magali

Edilma disse...

Magali,

Como foi bom encontrar voce e Carlos no Crato. Confirmei ao vivo a pessoa maravilhosa que és numa mistura do seu pai e da sua mãe. Voce é pura bondade! Carlos me revelou um lado brincalhão e bem humorado em perder a seriedade. E fiquei feliz com o presente recebido por voces dois.
Adorei o texto, parabens!
Que Deus continue abençoanado suas vidas...
Saudades!

Anônimo disse...

Edilma, assim como você, adoramos o encontro. Você é uma pessoa especial! Espero que a nossa amizade iniciada se solidifique mais.
Quem sabe qualquer dia quando Claude estiver em Fortaleza, poderemos marcar um almoço aqui em casa para nos reencontrarmos.
Obrigada por ter gostado do meu texto.

Um grande abraço.

Magali