Já prestei atenção que o meu filho
tem uma rixa pessoal, uma espécie
de queixume, antipatia, atrito diário
com o simples tubo de pasta dental.
Logo ao acordar atinge o objeto no estômago.
Deixa uma marca profunda,
uma cratera no meio.
De noite (enraivecido por ter que ir pra cama)
pega de jeito o miserável tubo de pasta dental
pelo pescoço e espreme até que eu ouça os gemidos
do ser inanimado, da coisa simplória que nos acompanha
(meu deus) quanto tempo desde
os primeiros dentes à superfície.
Ao dormirem todos (meu filho sonha)
dirijo-me ao banheiro e peço desculpas ao amigo
pela truculência do meu anjinho um tanto zombeteiro.
Ajeito, engomo, estico
aperto bem a tampinha branca.
O tubo de pasta dental lança-me de volta
aquele sorriso resignado de que "tudo ok,
é só uma criança"
Um comentário:
Muito legal, Domingos. Criativo, divertido. É isso: a poesia das coisas corriqueiras da vida.
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