- Claude Bloc -
Nunca gostei muito de estar em meio a multidões. Gosto de (re)conhecer rostos, nomes, sorrisos. Gosto de adivinhar olhos, olhares. Por isso fico feliz quando perambulo pelas ruas de Crato. É lá que me sinto em minha terra, junto ao meu povo, gente que me fala e me sorri como se me conhecesse de sempre, como sempre, para sempre.
No Crato tudo faz sentido: inverno ou verão. É o chão que amo, que pode ser tocado com meus dedos, com a sola dos meus pés e que, nesse momento específico, consegue fazer sentir-me em casa, sem mais nem menos. Tudo é, enfim, coisa percebida, sentida, conhecida. Sinto, então, na essência desse mútuo cativar - terra, chão, pessoas queridas - que todas as cores desejam abrir-se aos meus olhos, à sempre nova experiência de retornar e assim de novo poder voar. (Por que não?).
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Quando estou em Crato, minha vida segue pelas ruas a querer deixar-se caminhar sem tempo, para ver, escutar, cheirar a brisa da serra, o frio da madrugada, as peculiaridades que só conhece quem ama seu torrão.
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Cada vez que vou ao Crato acrescentam-se muitos nomes à lista habitual dos seres que me são confiados pela amizade e fico, cada vez que retorno, a esperar o milagre. Um qualquer. Um voltar definitivo, uma oportunidade decisiva, uma acolhida incisiva e determinante... Mas essa crença só tem sentido quando se revela a essência deste terreno fértil. É uma crença que não abandono e que me impele para frente com o pulsar da esperança.
Muitas vezes chego ao meu limite nessa paciente espera. Mas sei que não posso manter minha máquina sempre acelerada, sem fim, sem números, sem rosto. Sei que o tempo tem de ter o seu tempo, cada fruto o seu tamanho e seu nome. Mas sei também que quero estar onde a mão toca e sente, onde os olhos se cruzam, onde o risco se arrisca... Onde a paciência é virtude para se conhecer, plantar, saber esperar, colher, amar, cuidar... E assim posso ficar no centro, na margem, no fim de cada gesto preciso, mesmo que lento, acompanhando o ritmo das estações.
É por essas e outras que gosto de estar no Crato. Sempre gostei. Porque Crato lembra o amor em gestação. Um amor que se renova a cada ano, que constrói, que acolhe, que floresce. Assim e sempre assim amo o Crato, cheia de pressa, mas profundamente, pois não quero mais ter saudades de uma primavera para depois não a ver chegar.
2 comentários:
Claude,
Muito bonito este seu amor ao Crato.
Até mais tarde!
Lindo Claude!
Abraços
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