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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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domingo, 29 de agosto de 2010

Roberto Campos- por Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes


Mais uma vez, tenho visão oposta a do amigo Armando Rafael no tocante a opinião sobre uma personalidade. Refiro-me ao artigo “Roberto Campos, o incompreendido”, divulgado no Cariricult em 04.01.2009. Com relação ao economista morto, destaco dois aspectos positivos, ambos colhidos em entrevista dada por ele à TV cultura: o “mea culpa” levado ao ar pela citada tv na qual reconheceu que, ao longo da vida pública, só ter dado importância à Macroeconomia, desprezando a microeconomia que se ocupa das pessoas, famílias e pequenas atividades econômicas. A segunda, a confissão de que tinha mudado sua visão sobre a sociedade. Chegou a estas conclusões, segundo ele próprio, após as campanhas eleitorais, quando entrou em contato direto com a população e viu de perto suas dificuldades. Se mudou, é porque estava errado. Com efeito, o Sr. Roberto Campos era homem dos grandes negócios, para não dizer negociatas. A mais visível delas foi o Banco União Comercial, criado, presidido e quebrado por ele em 1974. Causou enorme prejuízo ao Brasil, pois o governo assumiu milhões de dólares contraídos por ele no exterior, o Banco Central ficou com a dívida junto aos credores internos e o Banco Itaú ficou com os ativos cobráveis, tornando-se um dos maiores do país. Funcionários aposentados do BC ainda hoje comentam as pressões, perseguições e ameaças que os componentes das comissões de inquéritos foram vítimas para “aliviarem” a responsabilidade do acionista principal, que recorria a suas ligações com altos mandatários da ditadura. O ex-ministro também teve participação em outros “desastres” financeiros, com a mesma estratégia, deixando o “rombo” com a sociedade, tirando o corpo fora.O Sr. Roberto Campos foi seminarista e saiu não por falta de vocação e sim porque os superiores detectaram ausência de virtudes necessárias a um sacerdote. Deixando o seminário, tentou ingressar no serviço público, mas não obteve aprovação nos três concursos públicos a que se submeteu. Graças ao domínio de idiomas que aprendeu no seminário, ingressou no serviço diplomático, sem concurso, e foi servir em posto nos Estados Unidos, onde tentou o título de Doutor em economia sem conseguir aprovação para sua tese. Por intermédio da amizade com o Sr. Eugênio Gudin, a quem assessorou, foi introduzido no mundo das finanças e chegou ao gabinete do ministro da fazenda, onde de fato ocupou cargos no segundo escalão. Afirmar que foi o criador do BNDES, Banco Central, BNH é exagerado. Participou do grupo de trabalho que criou o BNDES mas não era nem o chefe da equipe. Quanto aos outros dois, como ministro, assinou a Lei que deu vida aos órgãos, como os demais auxiliares de Castelo Branco. O BC se originou de projeto de Lei do Deputado Ulisses Guimarães, apresentado em 1954. O BNH saiu das idéias de Sandra Cavalcante, seu primeiro presidente. O FGTS, por sua vez, saiu também no governo de Castelo Branco, como moeda de troca pelo fim da estabilidade do emprego após 10 anos na empresa e de outros direitos trabalhistas criados por Getúlio Vargas. A propósito, RC foi autor de um dos maiores arrochos que os funcionários e assalariados já sofreram no Brasil, entre os anos de 1964/1966, substituiu a prática de repor as perdas salariais com a inflação por fórmula cruel que levava em conta a inflação futura, projetada por ele sempre abaixo da realidade.O papel de Roberto Campos durante o governo de João Goulart mostra bem o seu caráter. Nomeado embaixador nos Estados Unidos com a missão de renegociar a dívida e conseguir novas linhas de crédito, não cumpriu a atribuição e aderiu à conspiração golpista, permanecendo no cargo, usufruindo-se das vantagens. Outro com dimensão maior, discordando do Presidente, pediria demissão. O que ele fez tem outro nome: traição. Além do mais, existem episódios obscuros que jamais fariam parte da biografia de um cidadão exemplar. Um deles a briga com uma garota de programa enganada por ele, que terminou lhe desferindo facadas. Existe pelo menos mais um caso nesta mesma linha, mas que não consegui confirmação. De resto, o liberalismo que ele pregou durante certo tempo, redundou na crise de 2008, a mais abrangente desde a de 1929. Assim, conhecendo a formação de Armando e sabendo do seu gosto pela história, suponho que, para escrever o artigo, consultou apenas resumos do livro de memórias de Roberto Campos. Afinal, livro de memórias é aquele que a pessoa fala bem dele mesmo.

4 comentários:

Armando Rafael disse...

-- 1 --

Joaquim Arraes de Alencar Pinheiro Bezerra de Menezes -- ou simplesmente Joaquim Pinheiro -- é uma pessoa educada, um bom caráter, lhano no trato (é filho do casal César Pinheiro este descendente direto do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro e de dona Almina Arraes Alencar, irmã do grande político Dr. Miguel Arraes).
Ou seja, Joaquim tem "pedigree".
Ele é um vitorioso profissional no ramo financeiro, hoje aposentado (após brilhante carreira) no BNB e no Banco Central do Brasil.
Tenho-o em alta estima e dele sempre recebi manifestações de respeito.
Tudo isto não impede termos pontos divergentes, o que não diminui nosso bom relacionamento.

Há um ano escrevi o articuleto abaixo. Joaquim contra-argumentou. Li e respeite sua opinião e se reproduzo abaixo meu escrito daquela época é unicamente para que os leitores do conceituado Blog Cariricatura vejam os dois lados.
Grande abraço a todos,
Armando

Armando Rafael disse...

-- 2 --

Roberto Campos, o incompreendido - por Armando Lopes Rafael

“A idéia de “esquerda” e “direita” desgastou-se a tal ponto que hoje só serve para fins obrigatórios, isto é, para acusar de “politicamente incorretos” aqueles que são a favor do que julgamos ‘correto’.”
Roberto Campos.

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Há nove anos – no dia 9 de outubro de 2001 – morria Roberto Campos. Diplomata (foi embaixador do Brasil em Washington e Londres) economista, político (foi senador, deputado, ministro) e um dos homens mais inteligentes entre os nascidos neste Brasil.

Menino pobre nascido em Mato Grosso, Roberto Campos foi seminarista, diplomou-se em Filosofia e Teologia, mas, vendo que não tinha vocação religiosa deixou o Seminário. Fez mestrado em Economia na Universidade George Washington e estudos complementares na Universidade de Columbia, em New York. Ingressou em 1938, no Itamaraty onde foi brilhante diplomata de carreira.

A maioria dos jovens brasileiros não o conhece. Nunca ouviu falar nele. Mesmo os mais maduros – incluindo aí os têm formação universitária – desconhecem que foi Roberto Campos quem criou o Banco Central, o BNDES, o FGTS e o Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Como escritor – pertencia à Academia Brasileira de Letras – ele deixou, dentre outras, uma obra, “Lanterna na Popa”, com 1.415 páginas.

Mas, uma virtude nele me chamava a atenção: a de visionário. Anos antes da falência do socialismo na União Soviética e nos regimes da Cortina de Ferro, Roberto Campos já previa o fracasso da economia estatizada e defendia para o Brasil a abertura do mercado, a privatização de muitas estatais deficitárias e superadas em relação às concorrentes da iniciativa privada.

Armando Rafael disse...

-- 3 --

A queda do Muro de Berlim provou – anos mais tarde – que ele tinha razão. Mas, naqueles anos, o “Patrulhamento ideológico”, no Brasil, era ainda mais forte do que hoje. (Patrulhamento Ideológico é o policiamento feito nas redações de jornais, revistas, emissoras de televisão, sites da Internet e universidades públicas contra matérias que venha contestar as idéias da velha esquerda. Esse patrulhamento existia – e ainda existe – em órgãos onde predomina uma maioria que não se conforma com a liberdade de expressão (garantida na nossa Constituição) e assim boicotam matérias de outras pessoas que pensam diferente de idéias preconcebidas e superadas no tempo e no espaço).

Nas décadas 60, 70 – em face do “Patrulhamento Ideológico” – Roberto Campos tornou-se a “opção preferencial” das esquerdas que só o chamavam de “Bob Fields”. Sobre isso ele costumava dizer: "São três as raízes da nossa cultura: a cultura ibérica, que é a cultura do privilégio; a cultura africana, que é a cultura da magia; e a cultura indígena, que é a cultura da indolência. Com esses ingredientes, o desenvolvimento econômico é uma parada..."

Armando Rafael disse...

-- 4 –

Mesmo assim, arrostando incompreensões, Roberto Campos tornou-se o principal ideólogo neoliberal do Brasil.Sua última aparição pública foi na votação do impeachment do Presidente Collor. Roberto Campos chegou, numa maca de hospital, pois já estava bastante debilitado, atendendo ao pedido do seu amigo pessoal Ulysses Guimarães, que afirmou:

– “seu voto será um voto moral. Muitos o acompanharão em respeito a sua coerência”.

Roberto Campos depois diria:
-- “Quando cheguei ao Congresso, queria fazer o bem. Hoje acho que o que dá para fazer é evitar o mal."

Pertinho da morte, Roberto Campos escreveu:
“O imbecil é aquele que nunca muda. Mudei e aprendi. Muitos dos meus críticos nem mudaram nem aprenderam".

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Acima o meu articuleto que teve uma elegante discordância do amigo Joaquim Pinheiro.

Armando