Não te direi
que estou bem
que os meus olhos brilham
que mastigo com cuidado
que bebo água regularmente.
Direi apenas que escrevo feroz
com receio que a carne da presa acabe.
Tem tanta hiena por perto.
Abutres sobrevoam minha auréola.
Praticamente é Carnaval.
Vejo na baba que escorre
pelo canto da boca de Sátiro.
Como já mencionei,
nesse tempo de folia,
desço à masmorra
e planto flores
e adubo bem os jarros.
Não te direi que sofro.
Desconheço algo em meu peito
que não seja vazio.
E vazio, consultando meu Oráculo,
não é tristeza é uma espécie de dedo sem unha.
Ou coisa que o valha.
Se disesse que pressinto minha morte,
acreditarias?
Morte, conforme meu Oráculo,
não é vazio nem tristeza nem dedo sem unha.
Morte é um corpo baqueado,
sem vida e sem luz.
Mas com dentes rangendo
e urina saindo da bexiga
como pensar em morte,
não é, filha?
Não te direi
que estou bem
ou que estou mal.
Digo apenas que estou pastando enlouquecido
com medo que o verdejante pasto acabe.
Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
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