Atrás de seus olhos
minha mãe guarda
os meus cabelos cortados.
Eu estava morta
ou de há muito partida.
Atrás de seus olhos
as coisas estão muito bem postas:
gavetas, papel de seda,
laços de fita.
Eu olhava por seus olhos e via
assim translúcidos,
os ossos de sua face,
móveis, diáfanos,
dissolvendo-se em névoa.
E lá estavam, estendidos sobre panos dobrados,
meus longos cabelos de criança
(que meu pai amava)
cortados para que eu não ficasse raquítica
e porque não cuidava bem deles:
não queria lavar,
não prendia que prestasse,
não queria desembaraçar.
(A não ser que ela o fizesse,
dia de sábado, usando óleo “Suave”,
para não doer.)
Publicado em A Impossível Transcrição (de tudo fica a poesia).
Nuances. Foto de MVítor.
minha mãe guarda
os meus cabelos cortados.
Eu estava morta
ou de há muito partida.
Atrás de seus olhos
as coisas estão muito bem postas:
gavetas, papel de seda,
laços de fita.
Eu olhava por seus olhos e via
assim translúcidos,
os ossos de sua face,
móveis, diáfanos,
dissolvendo-se em névoa.
E lá estavam, estendidos sobre panos dobrados,
meus longos cabelos de criança
(que meu pai amava)
cortados para que eu não ficasse raquítica
e porque não cuidava bem deles:
não queria lavar,
não prendia que prestasse,
não queria desembaraçar.
(A não ser que ela o fizesse,
dia de sábado, usando óleo “Suave”,
para não doer.)
Publicado em A Impossível Transcrição (de tudo fica a poesia).
Nuances. Foto de MVítor.
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