Nem leia o que segue. Enderaça-se ao blog de fotografias do Pachelly Jamacaru. Veja o ensaio que ele fez com Nova Olinda. Depois, se quiser, venha ouvir a minha conversa. Talvez não necessite, o ensaio é mais importante assim como você também.
O Pachelly escreve tateando, tendo cuidado de não ferir sentimentos. Pessoalmente, ele é calmo, mas em absoluto é zen. Tem uma tensão controlada em seu porte, que se evidencia pelo tempo que leva até se aproximar de alguém. Chega de leve, sem querer invadir e não se incomoda se antes o seu recato pudesse ser interpretado como indiferença.
Quando argumenta, não ri. É muito sério quando forma suas sentenças de pensamento. E franze o cenho diante da contestação às suas idéias. Mas nisso, eis seu paradoxo: é muito atento com o que diz o outro. Em resumo, Pachelly Jamacaru é um artista, vivendo como artista, discutindo arte e tem uma voz mansa que não representa em absoluto a sua arte.
Este ensaio sobre Nova Olinda é arte, pois ir àquela cidade e fotografá-la com os macetes e ângulos da moda pode não ser. Mas o Pachelly fotografa, o que se encontra lá, como se ele desse uma "arrumada" na composição. Esta coisa de mostrar uma ordem cênica no mundo é quase que lampejo, dura segundos e muitos poucos têm a mente atenta o suficiente para captá-la.
Escolho quatro fotografias, mas poderia pegar aquela de Seu Expedito Seleiro, em seu eterno sonho de Lampião, o mito são as alpercatas do cangaço e Pachelly nem fotografou a espingarda toda, mas o olhar de riso do artesão diz muito bem do seu segredo comercial. Tantas outras, mas quatro me foram marcantes como representativas das demais: a Casa Grande, a Bodega, a Oficina e A Sala em que a idosa ver televisão.
Ele fotografou a Casa Grande de um modo inteiramente diferente com que a vemos em imagens. Entende-se, ela fica numa rua larga e muito visível ao transeunte, foi escolhida como símbolo do projeto do Alemberg e por isso sempre se evidencia como imagem solitária. Mas o Pachelly foi lá e a fotografou de um modo nunca visto: um pedaço da cena, entre outras, por trás dos troncos evidenciados das árvores, cuja folhagem não mostram as cores, mas as folhas e flores do jardim embaixo a substituem.
A bodega é um ensaio sobre a cor: a bicicleta vermelha descansada no balcão amarelo, ambos tomando parte substancial do olhar, mas se desdobrando em misturas de cores primárias nas paredes e prateleiras. Sobre a garupa da bicicleta um cesto parece dialogar com a mesma cor do piso.
A oficina é um ensaio abstrato. Pode pegar qualquer grande pintor abstrato que verás esta mesma proposição artística. Tudo na composição faz sentido, desde aquela peça vermelha no centro da imagem, como todas as formas que fragmentam conceitos nos três cantos do olhar, ficando mais clara esta fragmentação dada a certeza conceitual da moto bem evidente e à frente de tudo. Satisfeito? Tem mais, uma banheira azul que certamente serve para testar o furo na câmara de ar, no ponto lateral à esquerda do olhar, como se dialogasse com o pedaço avermelhado antes descrito.
A sala tem muitos significados. Primeiro a própria sala. Ela é azul. A cor do céu. Céu cuja trilha é feita com as guardas e guias de santos pela parede. Tem um santuário e claro que a solenidade dos membros da família em fotografias espalhadas pelas paredes. Como a fazer a ligação entre o céu e o altar da terra, ainda se põe o olhar num tecido vermelho que emoldura a parte inferior da foto. A esse molho todo, acrescente o efeito da iluminação, dando à cena seu tom mais sublime. Mas eis um mais agudo do lampejo de Pachelly: a senhora, idosa, muito certo que autora da fé, se encontra de costas para o nosso olhar, atenta a um outro "céu", aquele da televisão e sua presença dominante na casa das pessoas.
Quando pensamos na glória do grande mercado de arte, é preciso que na altura dele não se esqueça de grandes artistas, que vivem e criam, continuamente como faz Pachelly Jamacaru.
O Pachelly escreve tateando, tendo cuidado de não ferir sentimentos. Pessoalmente, ele é calmo, mas em absoluto é zen. Tem uma tensão controlada em seu porte, que se evidencia pelo tempo que leva até se aproximar de alguém. Chega de leve, sem querer invadir e não se incomoda se antes o seu recato pudesse ser interpretado como indiferença.
Quando argumenta, não ri. É muito sério quando forma suas sentenças de pensamento. E franze o cenho diante da contestação às suas idéias. Mas nisso, eis seu paradoxo: é muito atento com o que diz o outro. Em resumo, Pachelly Jamacaru é um artista, vivendo como artista, discutindo arte e tem uma voz mansa que não representa em absoluto a sua arte.
Este ensaio sobre Nova Olinda é arte, pois ir àquela cidade e fotografá-la com os macetes e ângulos da moda pode não ser. Mas o Pachelly fotografa, o que se encontra lá, como se ele desse uma "arrumada" na composição. Esta coisa de mostrar uma ordem cênica no mundo é quase que lampejo, dura segundos e muitos poucos têm a mente atenta o suficiente para captá-la.
Escolho quatro fotografias, mas poderia pegar aquela de Seu Expedito Seleiro, em seu eterno sonho de Lampião, o mito são as alpercatas do cangaço e Pachelly nem fotografou a espingarda toda, mas o olhar de riso do artesão diz muito bem do seu segredo comercial. Tantas outras, mas quatro me foram marcantes como representativas das demais: a Casa Grande, a Bodega, a Oficina e A Sala em que a idosa ver televisão.
Ele fotografou a Casa Grande de um modo inteiramente diferente com que a vemos em imagens. Entende-se, ela fica numa rua larga e muito visível ao transeunte, foi escolhida como símbolo do projeto do Alemberg e por isso sempre se evidencia como imagem solitária. Mas o Pachelly foi lá e a fotografou de um modo nunca visto: um pedaço da cena, entre outras, por trás dos troncos evidenciados das árvores, cuja folhagem não mostram as cores, mas as folhas e flores do jardim embaixo a substituem.
A bodega é um ensaio sobre a cor: a bicicleta vermelha descansada no balcão amarelo, ambos tomando parte substancial do olhar, mas se desdobrando em misturas de cores primárias nas paredes e prateleiras. Sobre a garupa da bicicleta um cesto parece dialogar com a mesma cor do piso.
A oficina é um ensaio abstrato. Pode pegar qualquer grande pintor abstrato que verás esta mesma proposição artística. Tudo na composição faz sentido, desde aquela peça vermelha no centro da imagem, como todas as formas que fragmentam conceitos nos três cantos do olhar, ficando mais clara esta fragmentação dada a certeza conceitual da moto bem evidente e à frente de tudo. Satisfeito? Tem mais, uma banheira azul que certamente serve para testar o furo na câmara de ar, no ponto lateral à esquerda do olhar, como se dialogasse com o pedaço avermelhado antes descrito.
A sala tem muitos significados. Primeiro a própria sala. Ela é azul. A cor do céu. Céu cuja trilha é feita com as guardas e guias de santos pela parede. Tem um santuário e claro que a solenidade dos membros da família em fotografias espalhadas pelas paredes. Como a fazer a ligação entre o céu e o altar da terra, ainda se põe o olhar num tecido vermelho que emoldura a parte inferior da foto. A esse molho todo, acrescente o efeito da iluminação, dando à cena seu tom mais sublime. Mas eis um mais agudo do lampejo de Pachelly: a senhora, idosa, muito certo que autora da fé, se encontra de costas para o nosso olhar, atenta a um outro "céu", aquele da televisão e sua presença dominante na casa das pessoas.
Quando pensamos na glória do grande mercado de arte, é preciso que na altura dele não se esqueça de grandes artistas, que vivem e criam, continuamente como faz Pachelly Jamacaru.
Nenhum comentário:
Postar um comentário