Mais um gole de café
- Claude Bloc -
Sentei-me à mesa diante de um café fumegante. Belisquei o bolo-mármore, sem me deter no sabor. Os pensamentos estavam dispersos. O fato de não haver mais ninguém na casa deixava-me circunstancialmente apática. Na realidade, eu estava adiando o momento de me pôr a escrever. Gostaria de estar inspirada. De recolher o fruto e o sumo dessa convivência solitária com minha pessoa, esses “flashes” episódicos que me vêm quando me torno espectadora de lembranças que se repetem sem a noção do essencial para mim.
Tomo mais um pouco de café em goles lentos. Curvo a cabeça por sobre a xícara enquanto rabisco mentalmente qualquer coisa. Estou sem assunto. Vasculho o ambiente em busca de palavras e idéias que preencham aquele vazio. Um suspiro reflete meu enfado. O café já esfriou. O bolo continua quase intacto.
Repouso minha mão no queixo e fecho os olhos por breves momentos. Reabro-os devagarinho tentando absorver a atmosfera daquele espaço. Olho para a janela quase com ternura. Ajeito o grampo no cabelo, limpo o farelo de bolo no canto da boca...
Levanto-me impassível. Corro os olhos pelo jardim, além da porta. Observo o sol brincando pela grama. Pérolas de luz cintilam na borda da piscina evaporando-se na brisa morna. Agora, ponho-me a observá-lo diretamente. Nossos olhos se encontram. Ele me perturba e eu vacilo. Seu rosto inteiro se ilumina num sorriso. Palavras se escondem pelas sombras da varanda, pelos recantos da casa, como um poema. Puras e cristalinas, retinem na minha memória.
Ele, esse sol lá fora, invade meus versos e se solta. Tomo mais um gole de café e fecho a porta.
Claude Bloc
3 comentários:
Daniel Boris (Jacques) disse...
Lubisoma da meia noite, depois desse gole de café vou dormir,pois já é 1:23 hs da manhã,mas vou te dar um conselho!Quando não é tempo das cigarras, eu escuto até música de grilo,para ter inspiração.
Beijos
16 de setembro de 2010 01:24
Edilma disse...
Claude,
Esse jaques não existe !
Me arrancou uma boa gargalhada na madrugada.
Somos 3 Lubisonas da meia noite, Eu, você e Socorro.
Até amanhã irmão.
Boa noite !
16 de setembro de 2010 01:35
E o sol (deixa de ser apenas ente luminoso ou mero brincalhão na grama) passa a devanear contigo:
cúmplice do ato poético.
Maravilha.
Carinhoso abraço.
Obrigada Domingos, sempre tão arguto no pinçar das emoções...
Abraço,
Claude
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