Diário do Nordeste
Quinta 2/9/2010
Maria Cândido tinha 49 anos e era uma artista reconhecida nacionalmente
MIGUEL PORTELA
2/9/2010
A escultora foi atropelada ao ir pegar o certificado do prêmio que conquistou no Salão Nacional de Cerâmica
Juazeiro do Norte. A arte do Cariri está de luto, com o falecimento de uma de suas maiores escultoras, Maria Cândido, integrante de uma família que traz como tradição a atividade de esculpir no barro. A grande marca do seu trabalho ela mesmo traduzia, que era o amor que sentia de cada peça moldada, fruto da imaginação fértil e criativa da artista. Aos 49 anos, Maria Cândido morreu de forma repentina, vítima de atropelamento a um quarteirão da sua casa. Se dirigia à casa de sua mãe, na tarde do último dia 25 de agosto, para pegar a correspondência vinda de Curitiba. Era o certificado do prêmio que conquistou na sua participação no 4º Salão Nacional de Cerâmica, realizado no Paraná. Várias homenagens estão sendo prestadas a artista.
A artista foi um dos destaques das edições especiais do Caderno Eva, "Mãos que fazem história", que abordaram a vida e o trabalho de artesãs de todo o Estado.
Pela terceira vez consecutiva em que participou do concurso do Governo do Paraná, Maria Cândido arrancou a premiação de primeiro lugar pelo seu inconfundível trabalho. Quando saiu de casa, preparava mais um dos seus temas, a dança do sapo, ao retornar concluiria. Mas esse não pôde ser finalizado. Seu filho, José Cândido Rafael, como tantos outros descendentes da família, desde criança esculpe no barro. Herdou da mãe, os dotes que vêm desde a matriarca, Maria de Lourdes Cândido.
Ainda sob o impacto da morte prematura da filha, Maria de Lourdes lembra com carinho dos brinquedos que fazia, quando começou em tempos muito difíceis da vida, a esculpir as peças, que projetaria mais tarde as artistas nacionalmente. Nesse período, Maria Cândido foi aprendendo com a mãe. "Ela ficava feliz com cada trabalho. Se pudesse não venderia nenhuma peça. Todas ficariam em sua casa", diz dona Lourdes.
São pelo menos uma 30 peças que ficaram em casa. As outras eram comercializadas, e levadas para exposições em várias partes do Brasil. Em Fortaleza, o último trabalho em exposição da artista teve a renda revertida para uma instituição voltada para crianças e adultos com Aids. "Ela sempre estava concorrendo, participando dos eventos", diz José.
Uma sala com os trabalhos que restaram de Maria Cândido será montada em casa, como forma de render homenagem à escultora. Os temas de quadrilhas, lapinhas, reisado, encantos inspirados na mais singela forma de viver, o retrato do cotidiano e a religiosidade estão entre os principais motivos temáticos para elaboração dos trabalhos da artista. A família numerosa das Cândido se especializou e hoje consegue chegar com o seu ofício em vários estados do Nordeste e Sul do Brasil.
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