Deixo sobre a estante
(maldoso que sou)
a xícara com o sumo
do sorvete misturado
ao doce de leite.
De tocaia,
vejo as meninas
despertando
seus olhinhos
de fogo.
Primeiro cruzam
os chinelões,
depois adentram
por fendas
da porta do banheiro
ao tapete de retalhos:
e logo alcançam
o móvel de ferro.
Atentas ao desconhecido
sobem cada prateleira
(livros, adornos,
documentos,
mochila,
miniaturas)
sempre rapidamente
sem tempo pra beijinhos
e conversa.
A dádiva do manjar
escapa da xícara
e lhes atinge
as narinas
com doçura.
Sorvete com doce de leite
é fatal: excelente arapuca
pras meninas (que já se
aproximam da borda da
xícara) .
Oba. De uma vez
mergulharam todas.
Ah, essas minhas
doces criaturinhas.
Afago-lhes as antenas.
Deixo-lhes a se acabarem
lambuzadas e barulhentas.
Quero-as bem gordinhas,
pô-las no meu caldeirão.
por Domingos Barroso
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