Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Quirinos


“ Porque eu vim pôr em dissensão
o homem contra seu pai, a filha
contra sua mãe, e a nora contra sua
sogra; e assim os inimigos do homem
serão os da sua própria casa.”
Matheus 10:35-36





--- Padre Quirino foi arrastado para o hospício!
Esta notícia estapafúrdia ecoou na praça principal de Matozinho e, como um eco, reverberou por toda a cidade. Difícil acreditar numa loucura daquele tamanho. A reação da mor parte das pessoas era de total incredulidade , só podia ser mais uma fofoca de D. Filó, injetando veneno mundo a fora como uma cascavel de quinze guizos! Aos poucos, no entanto, as diversas versões da história foram confluindo para um ponto comum e -- aparadas as rebarbas e os penduricalhos acrescentados, de língua a língua -- , a notícia, infelizmente, procedia. Há de se convir que , na verdade, parecia muito improvável o ocorrido. Primeiro pela personagem ímpar que era o Padre Quirino, uma figura séria, compenetrada e que, a maior parte da vida, sempre fora mais cérebro que coração. Depois, pela fonte original, bem pouco fidedigna: Fubuia. Ele havia sido a única testemunha do fato ocorrido. Buscando, madrugada a dentro, uma bodega renitente que ainda lhe desse abrigo, testemunhara o fato: o padre retirado à força da casa Paroquial, enfronhado numa camisa de força, sendo arrastado para dentro de uma ambulância, por vários homens : alguns vestidos de branco e outros metidos numas batinas pretas. Confirmada a aparente história fantasiosa de Fubuia, a Vila caiu numa consternação profunda. Haviam aprendido a amar os dois padres Quirinos que viveram em Matozinho. Dois Quirinos? Que história mais atrapalhada é essa? Bem, paciência, vamos explicar detalhadamente, antes que vocês resolvam também meter este escritor no mesmo manicômio.
Pasmem leitores! Apesar do nome esdrúxulo , Matozinho conheceu dois padres Quirinos. Por incrível que possa parecer, para embananar ainda mais a história, estes dois quirinos eram, na verdade, uma só pessoa. Sei que parece coisa da Santíssima Trindade, mas vamos esclarecer definitivamente as coisas. Uns quinze anos antes do fato , o triste desenlace testemunhado por Fubuia, chega a Matozinho o Padre Quirino , recém ordenado e assumiu o cargo de pároco da cidade. Sério, rabugento, o pastor controlava seu rebanho com mão de ferro. Apesar da pouca idade, formara-se à luz da igreja alemã. Impingia penitências homéricas aos confidentes, não dava comunhão a mulheres vestidas de calça comprida ou com decotes e aos amancebados; enxotava meninos danados da igreja como se fossem vendilhões do templo. Nos sermões, pregava contra a ameaça do comunismo, do protestantismo, contra o uso de camisinhas, pílulas. Tinha , por outro lado, uma opção toda especial pelos ricos. As más línguas já haviam observado as diferenças marcantes das exéquias nos enterros de abastados e miseráveis. Segundo D. Filó, no batizado do neto do Cel Sinfrônio Arnaud, Quirino demorou tanto nas orações que quando banhou o menino já estava no tempo de crismá-lo. Politiqueiro, uniu-se ao prefeito Sinderval Bandalheira e , no período eleitoral, subia no palanque e transformava seus sermões em comícios pró-Bandalheira. Quirino cobrava ainda o dízimo dos fiéis e atrelava os serviços da paróquia à adimplência dizimal. Casamentos, missas, batizados, crisma, encomendações só para quem estivesse em dia . A paróquia parecia até um Plano de Saúde. O certo é que Quirino progrediu, contavam-se muitas fazendas já no seu nome, carro novo e várias casas alugadas na rua , pelo sacristão, comentavam serem suas. Boca-torta, o acólito, era apenas um laranja. Quirino tinha enorme prestígio junto ao bispado e à Cúria da capital. Durante dois anos, inclusive, foi enviado a Roma com fins de estudar Direito Canônico, havia propaladas histórias de que futuramente seria bispo. Durante a Ditadura Militar, Quirino fizera-se um grande informante da polícia e havia dedurado muitos estudantes, inclusive tendo sido o responsável direto pela prisão de Toinho Araguaia, um professor de história que perseguido escondeu-se na Casa de um tio em Matozinho, tenho ficado entocado até que a notícia chegou aos ouvidos de Quirino, durante a confissão de uma beata.
Os matozenses terminaram se acostumando com a fleugma quase britânica de Quirino e aprenderam a amá-lo , mesmo percebendo que no evangelho do nosso pároco, havia sido feita uma pequena correção : era mais fácil uma agulha entrar no fundo de um camelo do que um rico entrar no céu. Tanto que toda Matozinho se preocupou muito quando soube do acidente ocorrido com Quirino, quando seu carro sobrou numa curva, próximo à capital. Foram mais de três meses de orações pelo restabelecimento do padre que passara mais de um mês , em coma, na UTI . A vila só respirou aliviada quando soube que Quirino, uns seis meses depois do capotamento, estava voltando à sua paróquia.
Matozinho recebeu-o em festa, com retreta de banda cabaçal e salva de fogos de Juvenal fogueteiro. Só passada uma semana é que descobriu a verdade: o pároco era novo, se tratava do mesmo, mas de um outro : o segundo Quirino. A pancada no toitiço mudara o homem. Chegou bem mais liberal. Acabou com as restrições às vestimentas das mulheres e às brincadeiras dos meninos na missa. Passou a combater, abertamente, os maus políticos e a denunciá-los no púlpito. Nos sermões, pregava a igualdade entre os homens e que havendo amor, tudo era permitido. Casar mais de uma vez , por que não? Deus não haveria de desejar a infelicidade eterna de ninguém. Casar pessoas do mesmo sexo? Por que não? O amor é que importa, dizia ele, todos fomos feitos à imagem e semelhança do Criador e o amor pleno não tem limites , nem fronteiras de qualquer tipo. Os casais deviam determinar eles próprios o número suficiente de filhos para criá-los dignamente, assegurava. Passou, também, a viver, abertamente, com uma religiosa: Irmã Jovelina. O celibato era contra a natureza de Deus, ele dizia, apenas uma invenção para manter o patrimônio da Igreja. Se Deus quisesse o homem sozinho não teria extirpado aquela abençoada costela de Adão. Buscou ainda uma grande aproximação com outras igrejas da Vila, principalmente os kardecistas, a umbanda, os evangélicos. Quirino falava que todos trilhavam caminhos diferentes, a procura do mesmo objetivo e que, portanto, tinham que ter uma convivência fraterna . Quirino II ensinava aos fiéis a se relacionarem diretamente com o Criador: Deus está em tudo , meus filhos, na montanha, na pedra, no rio, na árvore, em vocês próprios, em tudo existe um templo montado para a celebração e adoração do divino. Ninguém precisa de intermediários! Quirino doou todos os seus bens aos pobres e miseráveis e citava Matheus : “ Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre, em vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de alparcas, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento.”
Consta que após a brusca transformação em de Quirino II , a Diocese mandou alguns padres para investigar a sua estranha conduta. Os matozenses, se aprenderam a amar o Quirino I, passaram à adoração ao Quirino II. Ainda hoje lembram quando em pleno sermão da Missa do Galo, ele prometeu que na semana seguinte iria ao Cartório passar um imenso terreno da sua igreja para o assentamento de mais de cem famílias da Serra da Jurumenha. Elas viviam como posseiros, miseravelmente. Dois dias depois, coincidentemente, Fubuia, testemunhou quando o arrastaram para o manicômio, sob a justificativa de que endoidara de vez.
O certo é que não mais se teve notícia do Padre Quirino. Alguns dizem que ainda se encontra interno num manicômio da capital; outros sustentam que não resistiu ao tratamento e já deixou o mundo dos vivos. Fubuia , no entanto, mantém sua própria versão. Naquele dia mesmo, uma luz fortíssima envolveu toda a ambulância, na saída da cidade e Padre Quirino , como Elias, alçou vôo aos céus, numa grande carruagem de fogo.

J. Flávio Vieira


O PASSADO DO MELHOR PRESENTE, NAS FOTOS DE CONCEIÇÃO ALMEIDA.

Wladimir Soares

Há toda uma geração de artistas brilhando na música popular brasileira. Muitas vezes esse brilho torna-se ocasional e dura pouco. Na hora de se mencionar os artistas importantes da MPB, os nomes citados são os que brilham há mais de 30 anos. Os nossos ídolos ainda são os mesmos. A fotógrafa Conceição Almeida guardou todos os negativos das importantes fotos que ela tirou registrando o nascimento de alguns desses ídolos. E mais uma vez ela abre o baú e traz essas relíquias ao Photozofia no mês de fevereiro em exposição da história fotográfica da MPB dos anos 70.

Conceição é um dos seres privilegiados que estava no lugar certo na hora certa. No começo de sua carreira, Conceição era fotógrafa de gravadoras e revistas. Sua missão: registrar o aparecimento de novas estrelas, de Raul Seixas a Marina, de Cazuza a Simone, de Zé Ramalho a Zizi Possi. Conceição não registrou o nascimento de estrelas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina porque ela não é tão precoce assim. Mas, nos seus guardados Conceição tem fotos preciosas dessa turma que compõe a seleção titular da MPB. Impossível não se emocionar diante de tanta preciosidade.

Com esta exposição documental e descontraída Conceição se inspirou numa exposição de Linda Mc Cartney em Londres nos anos 70, com uma apresentação despojada esteticamente mas com conteúdo precioso. Salta aos olhos a simplicidade que reinava no período de ouro da moderna MPB, um deleite a espontaneidade de Chico Buarque trocando de camisa para as lentes de Conceição. Impossível não se encantar com o despojamento de Caetano Veloso em sua fase mais andrógena, que logo iria encontrar mais ressonância em Ney Matogrosso, também aqui exposto. E a beleza plástica do beijo assexuado entre Gal Costa e Sonia Braga revela ainda mais o talento e o senso de oportunismo da grande fotógrafa. Nove entre dez artistas que começaram seu reinado nos anos 70 foram captados pela objetiva da fotógrafa que já fez exposições individuais no MIS, Museu da Imagem e do Som com o seu acervo de Raul Seixas o que levou a Revista Rolling Stones fechar a sua edição em homenagem aos 20 anos de morte de Raul com suas fotografias em capa e interior da revista e revelar a atemporalidade da expressão do artista. Conceição soube ter paciência para aguardar o momento certo para expor suas fotos. Revelando ao mundo seu acervo, Conceição também inscreveu seu nome no panteão de importantes e famosos.

CONVITE !


Pandora - por Socorro Moreira




Um velho baú foi aberto com facilidade. Nem foi preciso forçar a fechadura. Embora enferrujada, cedeu ao primeiro tato. Um cheiro esquisito espalhou-se no ar. Os feixes de alfazema já tinham perdido a validade, e o baú estava completamente lotado de quinquilharias e/ou preciosidades... Impulsivamente, todos mergulharam suas mãos, pensamentos, olhares, naquele achado. Não podiam perder tempo... O jeito era explorá-lo. Os objetos eram todos identificáveis: um missal de madrepérola, terço de prata, pacote de cartas amarradas com fita de cetim azul, álbum de retratos, caderno de canções, livro de receitas, caixinha de música, um leque, brincos descasados, um crucifixo de prata e uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças. Era a caixa de Pandora, com todas baratas e lagartas, em saltos olímpicos, ora despertadas! Na parede, um relógio centenário tictaqueava insistente. Um cheiro delicioso de café, no ar se espalhara... Chega Brigite, gata preta, de olhos verdes... Visão cinematográfica! Ela, e a rosa cor da tarde, esperando o luar de Janeiro ... No fundo, todos são loucos!-Eu, minha gata e o meu cachorro!

O Carnaval das nossas saudades - por Socorro Moreira


Na minha infância, dançar carnaval era pecado mortal. Meu pai comprava lança-perfume, e a gente aspergia no povo da rua, até o tubo secar... Até o cheiro ficar fora do ar!
Os corsos eram fantásticos. Corria para as esquinas... Era o desenho animado dos meus contos de fadas! Nos jipes e automóveis sem capotas, cabia mais gente, do que se podia contar! Máscaras... Elas permitiam a mistura, no mesmo espaço, de moças de vida presa, e moças de vida fácil... Achava o máximo!
Na década de 60, já adolescente, carnaval continuou proibido... Fugia para a concentração dos blocos, nas calçadas. Suspirava de vontade de brincar, mas só podia cantar e dançar um frevo, se pudesse imaginá-lo!
Em 70,80... Participei dos meus primeiros bailes, no Crato Tênis Clube. Meu pai, por anos seguidos, foi Diretor Artístico, e cabia-lhe a missão de decorar o clube. Pintava todas as paredes com imagens de colombinas, pierrôs, arlequins, ciganas, piratas... e o diabo a 4!
Ficava lindo! Era muito bom dançar com todos, e não ficar com nenhum!
Geralmente, debaixo de chuva, na quarta-feira de cinzas, acompanhávamos a orquestra até a Praça Siqueira Campos, dançando e cantando a marcha da quarta-feira ingrata, que chegara depressa demais!
Depois, ainda de fantasia, entrávamos na Igreja pra receber a "cinza". Nosso lado profano fora alimentado, até os pés ficarem cheios de calos, e a voz rouca, sem proferir som algum.
"Saudade é isso que a gente sente, saudade é falta que faz a gente alguém que partiu, alguém que morreu, alguém que o coração não esqueceu..."
Pois é... Carnaval comum, nos dias de hoje é ficar plantada na frente da televisão, e assistir o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Pipocas, sem risos...!
" Vou beijar-te agora/ não me leve a mal... Hoje é Carnaval"!

29 de Janeiro - Dia do Jornalista

Homenagem aos profissionais que arriscam com a palavra , dufundir , formar e informar assuntos de interesse geral.
Abraços especiais nos colaboradores :Vera Barbosa , Rosa Guerrera e Herminia , jornalistas de carteirinha , que abraçaram com exclusividade essa nobre profissão.
Por oportuno lembramos alguns dos notáveis do Crato : Vicelmo, Jurandyr Timótheo e Lindemberg de Aquino .

OS GURIS DA RUA CORONEL SECUNDO Por João Marni


Didaticamente, a vida pode ser dividida em três fases: o passado - que já acabou; o presente - em extinção; e o futuro - mera expectativa. Sempre que a vida nos aborrece quando estamos já adultos, sentimos uma necessidade urgente de sorrir e aí recorremos ao passado, se tiver sido bom.


Felizmente, todos nós, da rua Coronel secundo, nos anos cinqüenta, dourados, mesmo os de poucos recursos, gozamos de uma infância feliz, pois tivemos o básico para acharmos a vida prazerosa: um teto, uma família, alimentação suficiente, ótimo ensino público e uma rua, berço e palco do talento de cada um.
Acordávamos cedo e nos recolhíamos pouco depois do anoitecer. Nada havia de mais interessante a fazer do que dormir e sonhar.
Quanto verde havia: o bosque (hoje a Praça Alexandre Arrais), as matas ciliares do rio Granjeiro (das piabas), a mata de Seu Jéferson e o Sítio Lameiro. Sob essas árvores, sombras queridas se foram e vozes se calaram. A beleza simples, suprema benção das coisas e das criaturas, encontramo-la na memória da infância, no areal do bosque e da nossa rua mais bonita, ainda descalça feito nós, local de matanças hoje inconcebíveis, de borboletas, com nossas camisas, e aos gritos de " alô boy, matalê um"!...
Que falta faz a lama e o cheiro desses lugares que pisamos e que nos inundaram até o espírito, a ponto de nenhum banho, ainda hoje, ser capaz de nos lavar. Vejo, admirado, que muitos meninos de agora não mancham as suas roupas com nódoas de caju... Que vida sem graça!
Nos reencontros dos amigos da rua não catamos os sinais de decadência do outro, mas procuramos amavelmente as marcas dos nossos pequenos pés na areia... Usamos a imaginação e viajamos ao tempo em que as águas do rio eram claras, onde lavávamos até nossas almas e voltávamos alegres e felizes pela rua da qual fizemos estribo para a vida.
Hoje as pessoas têm pressa. Não param mais para conversar, como fazem as formigas... mas nós da rua Coronel Secundo, não; pois sempre valorizamos o toque interpessoal, antenados que somos com base nos pilares da formação humana, quais sejam: o amor, o respeito e humildade, da grande família parquense pelo bom Deus.
O escritor João do Rio, em sua obra " A alma encantadora das ruas", faz uma citação belíssima: "...Eu amo a rua; e esse amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos nós. Nós somos irmãos, nos sentimos parecidos e iguais porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este sentimento impertubável e indissolúvel, o único que , como a própria vida, resiste às idades e às épocas".
Assim somos os filhos da Coronel Secundo: Os Bantim, Correia, Figueirêdo, Lóssio, Dantas, Siebra, Martins, Paletó, Chagas, Alencar, Barbosa, Matos, Policarpo, Abath, Pinheiro, Jamacaru...

Jacques (Daniel) Boris - um artista plástico sediado em Crato

Para mim ele é Jacques (meu mano). Desde pequeno demonstrou o gosto pelo desenho e seguiu a tendência de alguns dos nossos familiares: a arte (desenho e pintura).

Jacques, porém, aprimorou e diversificou seu dom. Hoje faz trabalhos em MDF (madeira) e executa trabalhos belíssimos com cacos de cerâmica com os quais elabora desenhos diversificados aplicando-os a formatos diferentes.

É um artesão habilidoso e cuidadoso.
Seus trabalhos revelam sensibilidade e delicadeza

Capricha na realização da sua arte e recebe encomendas para trabalhos conforme o pedido.

Detalhe do ateliê - com mural apresentando alguns de seus trabalhos.


Trabalho em MDF (Madeira vazada)

Console sobre tronco. (Trabalho em ceâmica)

Tampo de mesa em cerâmica
Desenho abstrato de sua autoria produzido e MDF
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Jacques tem um ateliê - ARTESSETRA - em Juazeiro do Norte - CE - na Av. Leão Sampaio - 102
(Triangulo Juazeiro do Norte)
Trabalha em Crato na rua José Carvalho - 502 - Centro
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Raimundo de Oliveira Borges - Por Emerson Monteiro

Isso que dizem de ser a vida humana mera fagulha ao vento exige comprovação, sobretudo diante da existência deste amigo, Raimundo de Oliveira Borges, que ora demonstra de perto a experiência firme de viver durante cem anos uma idade plena de realizações. Ele, sim, pode falar do existir e contar da tradição e da peleja de três gerações sucessivas que testemunha com fidelidade e coragem.
Escritor emérito, publicou mais de uma dúzia de livros. Advogado e professor, marcou de jeito indelével a consciência das centenas de alunos, dentre os quais sou, com satisfação, um deles. Tribuno de rara qualidade, porfiou no júri, praticando fala rica, profícua, no êxito de momentosos processos. Líder comunitário, efetivou importantes funções, em Crato, havendo exercido a direção das Faculdades de Filosofia, de Direito e de Ciências Econômicas. Presidente do Instituto Cultural do Cariri, sobreviveu a nossa simpática academia de letras numa fase das mais dificultosas, quando ao seu lado estive. Se bem que cabe, ainda, considerar o seu desempenho virtuoso de pai extremado, fino de trato e humor, tranqüilo, de espírito desarmado, palestrante versado na melhor literatura, poeta dotado de sensibilidade, pessoa exemplar, afeita sob os princípios dignos e imprescindíveis da civilização que usinou durante todo tempo, conhecendo a história do povo, bem relacionado, cordial e valoroso paladino das causas essenciais, na prática política e nos penhores da liberdade consciente.
Doutor Borges, por tudo isto e outros predicados, marca a sociedade cearense interiorana com personalidade ímpar de quem merece privar o convívio honrado e fértil dos justos. Elencar qualidades que lhe são de dever torna-se tarefa leve, aos moldes do estilo e da pena que maneja no exercício da escrita, por meio dos livros que subscreve, dotados de emoção, memórias produzidas no fogo da responsabilidade social que a isto se obrigou exercitar.
Eu, ainda menino, tomei conhecimento de seu talento através dos júris que, na década de 60, de comum, eram retransmitidos através dos microfones da Rádio Araripe de Crato. Admirado, ouvia seus discursos deveras impressionantes, tanto pela cultura vasta, quanto pela facilidade na argumentação, demonstrações de sapiência jurídica e ilustre universalidade. Fora eleito orador da sua turma de 1937, na Faculdade de Direito do Ceará, contemporâneo de figuras destacadas na vida pública posterior do nosso Estado.
Instalou-se em Crato desde 1942 e aqui até hoje permanece conquistando espaço próprio, ao lado da gente boa, ordeira e laboriosa deste lugar abençoado.
No dia 02 de julho do corrente ano de 2007, época exata do transcurso de um século de sua vida, o doutor Raimundo de Oliveira Borges se nos afigura querido em face de todos os que lhe privam da convivência, ele que representa, em breves traços, um desses personagens inesquecíveis e marcantes dos romances imortais, ricos dos atributos puros e sublimes das almas vitoriosas.

P. S. EM 28 DE JANEIRO DE 2010: Ser humano de reconhecida capacidade para a concretização dos seus ideais. Profissional de sucesso como advogado, administrador de instituições universitárias, professor, escritor, intelectual, líder comunitário, pai de família. Em tudo desenvolveu raros modelos de exemplares conquistas. Sempre jovial, bem humorado, otimista, alegre, laborioso, amigo, dotado de sentimentos benfazejos, valiosos, Raimundo de Oliveira Borges significou dignidade para sua geração e passa à história cearense qual pessoa de ricas e nobres virtudes.

Recordando David N, de "O Cruzeiro" (Brasil)


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O semanário O Cruzeiro foi uma das mais conhecidas e divulgadas revistas brasileiras, também muito popular em Portugal.
Pertencente ao grupo dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand (o Chatô), publicou-se entre 1928 e 1975.
Pela suas páginas desfilaram nomes e figuras como Carlos Lacerda, Rachel de Queiroz, Carlos Estêvão, Millôr Fernandes, O Amigo da Onça, Jean Manzon e muitos, muitos mais...
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... tal como David Nasser (foto abaixo), fantástico jornalista, repórter, cronista - e, também, compositor musical (Nêga do Cabelo Duro...).
Filho de imigrantes libaneses, nasceu em 1917 e faleceu em 1980.
Distinguiu-se sobretudo pelas suas crónicas polémicas, de uma coragem, contundência e paixão incomuns.
Profissional controverso, usando métodos por vezes pouco ortodoxos, acabou por tornar-se figura incontornável do jornalismo brasileiro.
Continua a ser hoje um prazer passar os olhos pelo seu estilo vergastante e inconfundível.
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Publica-se adiante uma prosa de homenagem que José Cândido de Carvalho (grande escritor!) lhe dedicou em 1964. Respeita-se a grafia brasileira.
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David Nasser
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"Uma tarde, lá pelos tempos de 1937, dava entrada na redação de “A Noite” um moço de andar marinheiro, meio adernado no vestir, de fala mansa e olhar de relâmpago. O velho Castelar de Carvalho, com suas longas barbas de judeu das Escrituras, disse mais ou menos assim:
- Se eu fôsse dono desta baiúca (a baiúca era o seu querido jornal) botava êsse sujeitinho de 20 anos na balança e pagava o pêso dêle em ouro. Vale por uma redação inteira e equipada.
Olhei para o lado. O sujeitinho que Castelar de Carvalho queria contratar, a poder de barras de ouro do Banco do Brasil, era David Nasser em pessoa, de paletó-saco e jornal na mão.
Agora o velho Castelar é uma saudade e o ano de 1937 apenas uma lembrança de calendário. Mas a frase ficou:
- Vale por uma redação inteira.
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É claro que outros anos passaram e outras tardes morreram. A profecia do velho Castelar havia de ganhar corpo e alma. David Nasser firmou nome como um dos grandes mestres do jornalismo nesta e noutras praças nacionais e mundiais, incluindo Europa, Paris e Bahia.
Sua geografia perdeu a noção de fronteiras – o mundo passou a viajar na mala de David, ao lado de suas escôvas e passaportes.
Uma noite estava em Lisboa, na Havaneza de Eça de Queiroz. Outra noite, ao lado de uma fogueira, num naco do Saara, entrevistando um rei do areal qualquer.
O assunto às vezes não prestava. Mas o talentão de David recauchutava tudo, emprestava tonalidades de ouro (e ouro de lei) ao latão mais desmoralizado.
Nessas suas andanças de Marco Pólo há bilhetes e cartas de príncipes com trono e sem trono, de milionários, de mágicos, de ministros, de poetas e bandidos.
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Pergunto a David, num dia de confidências, quais os tipos de sua predileção:
- Os vagabundos.
Sim, ele tem um fraco todo especial, todo davidiano pelos vagabundos, pelos andarilhos, pelos humildes. As melhores histórias que gosta de contar são as histórias simples do povo, dos joões da silva, dos joaquins pereiras que falam maravilhosamente pela pena dêsse mestre da crônica e do panfleto.
Nisso, David está com a Bíblia: o reino dos céus não foi feito para os comerciantes de atacado, nem para os açambarcadores de feijão e açúcar. E nem para os burros.
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Com o tempo, excelente mestre de estilo e vivência, David perdeu certas asperezas e mandacarus. Sua prosa de hoje tem claridades de cristal lavado. Cintila. É um poderoso escritor a serviço do jornalismo.
Sua crônica semanal é lida, e guardada, por milhões de brasileiros. No seu elenco há figuras de drama e de circo-de-cavalinho. A injustiça funciona nêle como mordida de cobra. Seja a injustiça no varejo ou no atacado, feita a um pequeno funcionário do montepio mais municipal ou ao político caído em desuso. Os moinhos de vento de Dom Quixote estão sempre às ordens de David Nasser. Sancho Pança não faz parte de sua família espiritual. Nunca comeu de seu pão nem bebeu de seu vinho.
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Certo político caixa-baixa, esperto como um esquilo, queria por fôrça ser destratado, em prosa ou em verso, por David Nasser. Procurei saber os motivos. O homenzinho, piscando o olhinho miúdo, foi taxativo:
- Levo uma sova, meu caro, mas todo mundo vai tomar conhecimento da minha existência. Viro vedete nacional.
Engano do pobre político municipal. David não bate em gente de meio metro. Suas paradas, as mais ruidosas do Brasil, são na base dos jotas: JK, Jânio ou João Goulart. Não faz por menos. Sua pólvora não é para passarinho de vôo curto. Ou águia, ou tiro ao alvo.
Cá entre nós: gosto de ver David Nasser nessas batalhas campais. Há nelas cintilar de espadas, brilho de aço em noites de lua cheia. David é um mestre perfeito no ataque-arte que êle domina como ninguém neste país. Desmonta o adversário como um velho relojoeiro desmonta um relógio.
O tal político municipal, um esquilo de esperteza, tinha razão. Levava meia dúzia de brilhantes sarrafadas, mas comprava lugar na glória. Mesmo a poder de arnica e esparadrapo.
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Pois vos digo que são essas as minhas pequenas memórias de David Nasser. Todos nós, jornalistas de pequena cabotagem ou das largas navegações, temos um pouco de D’Artagnan, de personagem de capa e espada. Alguns, no rolar dos anos, deixam o chapéu de plumas e o florete. Vão ser funcionários do Fomento Rural ou do Instituto da Piaçava. David não. Nasceu herói de Alexandre Dumas e vai até ao fim dos tempos, assim, cada vez mais mosqueteiro, cada vez mais D’Artagnan.
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Um dia, que espero em Deus esteja longe, baterá David às portas de São Pedro. O velho chaveiro, já um tanto gasto em anos e em santidade, não tirará as trancas do reino eterno com a presteza que merece uma figura e a sensibilidade de David Nasser. E já estou vendo o mosqueteiro sacar da espada e gritar bem alto:- Pedro, acautelai-vos!
É assim, glorioso e armado, que David entrará no céu." (*)
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(*) - Autor: José Cândido de Carvalho (Publicado em O Cruzeiro, Rio de Janeiro, Brasil, 18 de Julho de 1964).

Lembrando David Nasser

Correio musical - Cheiro de Saudade com Lúcio Alves

David Nasser - por Norma Hauer


Iniciando o ano novo de 1917, nasceu em Jaú,no interior de São Paulo , o jornalista e compositor David Nasser.

Ainda muito criança, mudou-se com sua família para São Paulo, viveu algum tempo em Mato Grosso e em 1935 já se encontrava no Rio, onde exerceu a função de jornalita no jornal "O Globo".

Mais tarde ingressou em "O Jornal", no "Diário da Noite e em "O Cruzeiro".

Como jornalista gostava de explorar as desavenças alheias numa verdadeira imprensa marrom.

Nessa posição, explorou dois casos rumurosos acontecidos com artistas conhecidos: o de Herivelto Martins com Dalva de Oliveira e o de Franscisco Alves , em relação a seus filhos. Pura "imprensa marrom".

Como compositor, teve sucesso logo em seu primeiro samba, composto em 1935, mas só gravado, por Aracy de Almeida, em 1939:"Chorei, Quando o Dia Clareou".

Daí partiu para "Canta Brasil"; "Minha Sombra"; Todo Mundo Reclama"; Camisola do Dia", Algodão"; "Mãe Maria"; "Coroa do Rei"; "A Mulher e a Rosa"; "Confete" e inúmeras outras música, quase sempre sucesso.

Gravou com todos os cantores famosos em sua época e fez parceria com quase todos os compositores, mas só vou destacar aqui a valsa "Exilado", lindíssima, gravada por Carlos Galhardo e feita em parceria com o compositor russo Georges Moran.

David Nasser faleceu em 10 de dezembro de 1980, aos 63 anos.
por Norma Hauer

Lúcio Alves por Norma Hauer


Ele nasceu no dia 28 de janeiro de 1927,em Cataguases-MG, mas apenas com 7 anos já estava no Rio .
Nessa época já tocava violão, que aprendera com o pai, integrante da Banda de Guataguases.

Seu nome Lúcio Cinbelli Alves, que ficou conhecido como LÚCIO ALVES.

Fez parte, ainda com 14 anos, do grupo "Namorados da Lua", que se apresentava nos Cassinos Copacabana e Urca.

No Teatro República, cantando "Nós os Carecas" venceu um concurso de carnaval e
foi ainda premiado no programa de calouros de Ary Barroso, sendo, assim, convidado para atuar na Rádio Tupi.

Nessa época, com Haroldo Barbosa teve seu samba "De Conversa em Conversa", gravado por Isaurinha Garcia, obtendo seu primeiro grande sucesso.

Vários outros compositores deram sucessos para Lúcio Alves, como Caymmi; Dolores Duran; Alcyr Pires Vermelho;até Flávio Cavalcanti, co-oautor de "Manias", um samba que marcou sua carreira.

Em 1947 o grupo se desfês e sozinho passou a ser mais conhecido, obtendo, no decorrer de sua vida, inúmeros sucessos, como "Manias"; "Solidão" (versão do bolero Sim`Palabras"); "Bolinha de Papel"; "Nunca Mais";"Sábado em Copabcabana"; "Na Paz do Senhor"; "Tereza da Praia";"Nova Ilusão" e seu maior sucesso :"Valsa de Uma Cidade".

Nos anos 60, 70 fez parte das produções da TV Educativa, onde liderou um programa de entrevistas que, em, 1972, entrevistou Carlos Galhardo, ao lado de Nássara e Luiz Cláudio.

Gravou vários LPs, um de músicas só com nomes de mulhjeres,: "Rosa";"Carolina";"Maria": "Januária" e outros.

Em 1978 fez parte do Projeto Pixinguinha, ao lado de Doris Monteiro.

Em 1988 lançou outro LP denominado "Há Sempre um Nome de Mulher", em benefício do programa nacional de aleitamento, patrocinado pelo Banco do Brasil.

Lúcio Alves faleceu em 3 de agosto de 1993, aos 66 anos.
por Norma Hauer