Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Arado- Domingos Barroso

Onde se esconderam
os diabinhos da dengue?

Terei forças ao dia caçá-los
e à noite escrever versos?

Sinto-me aliviado
em saber que hoje

minha dor de cabeça
é culpa do sol de novembro.

Ausentam-se da minha mente
ancestrais mediúnicos tagarelas.

De volta ao batente:
bota nova,
os tropeços de sempre.

Comum Paradoxo - Domingos Barroso

Um poema meu
nunca está pronto

com roupa de gala
e brilhantina no cabelo.

Para minha euforia
o maltrapilho

é o mais próximo
da entrada do clube.

As faces mudando de tom
caindo ouro em pó dos bolsos
a voz manjada.

Quando percebo,
é tarde:

eis o maltrapilho
valsando no salão nobre.

O caminho possível

Caminho, na valsa calma
No passo eterno dos doentes
Ombro a ombro com os dementes
Beijo a beijo com as mulheres
Perdidas na noite sem dentes,
Sem sonhos, sem sóis, numa eterna madrugada
Caminho ao lado do cego, do surdo, do mudo
Estudo, a voz latejante do tagarela.
Caminho nessa marcha de malsãos
Nessa madrugada eterna de quimeras reinantes
Nessa névoa de fuligens que fustigam
Meus medos, meus calos nos pés
Meus sonhos outrora tão sóbrios,
Agora delirantes
Caminho, embora o açoite,
Embora seja alvo, embora seja teste
Caminho com o cuidado de levar as mãos
Feito conchas levando os sonhos impossíveis
Embora só seja possível este corpo magro
Cheio de pestes.

Foto: Filomena

Dia 20 de Novembro - Primeiro aniversário de Sophia Bonates




Dia da Bandeira - por Norma Hauer

19 DE NOVEMBRO
HINO À BANDEIRA
Letra de Olavo Bilac

Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.

Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre, sagrada bandeira,
Pavilhão da Justiça e do Amor!

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

Mais um hino que nos leva ao Aurélio para que compreendamos sua letra.
Também, escrita por Olavo Bilac!..
Este também aprendíamos no Colégio e o sabíamos quase de cor.

Na segunda estrofe, o verso certo é:

"em nosso peito VARONIL, mas como éramos estudantes, cantávamos "em nosso peito JUVENIL"
Assim, sem o conhecimento de Bilac, a palavra VARONIL foi transformada em JUVENIL.

A data era commorada no pátio do Ministério da Educação.

Já funcionária, assistia às crianças cantando o hino e hasteando a Bandeira.
E recebendo sorvete Kibon no encerramento da festa.

Nós, funcionários, descíamos ao pátio para saborear um autêntico sorvete Kibon.
(que não era para nós). Mas era tão bom voltar à juventude e saborear um Chica-Bom autêntico.
Quando a Kibon era representada por um grande K e não por esse símbolo internacional.
Será a Globalização?

norma hauer

CONVITE


Programa Cariri Encantado com Salete Libório

Aquela que é considerada a Dama do Teatro Cratense, Salete Libório, será a entrevistada do programa Cariri Encantado desta sexta, 20 de novembro.

A pessoa de Salete Libório confunde-se plenamente com o Teatro. Incontáveis são os anos de sua militância na arte dramática, notadamente em benefício do teatro cratense. A sua montagem da peça Bárbara (texto de José Carvalho), quando interpretou o papel principal, é considerada como uma das eficientes produções teatrais da região. A propósito, a admiração por esta heroína da história brasileira, de quem é descendente direta, é outra paixão que motiva a atriz.

Salete Libório reside atualmente em Fortaleza, mas se encontra na terrinha por conta da realização da Mostra Sesc Cariri de Cultura, acompanhando, árdua e ardorosamente, a programação teatral.

O programa Cariri Encantado é veiculado todas as sextas-feiras, das 14 as 15 horas, na Rádio Educadora do Cariri AM 1020, com apoio do Centro Cultural BNB Cariri.
A apresentação é de Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael Dias

Copa 2014 - Estádios brasileiros



Estádio: Cidade da Copa, Recife
Arquiteto responsável pelo projeto: não divulgado pelo Governo de Pernambuco
Características do projeto: prevê a construção de um estádio com capacidade para 46.154 lugares, um conjunto habitacional, um centro comercial e hotel.
Valor estimado do estádio com infra-estrutura: R$ 1,6 bilhão


Copa 2014 - Colaboração de José Nilton Simões

Estádio: Mané Garrincha, Brasília
Escritório responsável pelo projeto: Castro Mello Arquitetos
Características do projeto: o estádio Mané Garrincha deixará de ser olímpico para se tornar uma arena multiuso. Apenas a fachada e a arquibancada superior originais serão mantidas. O novo projeto prevê uma cobertura de tensoestrutura sobre as arquibancadas, estacionamentos e áreas de apoio, vestiários, central médica, lojas e outros empreendimentos. A capacidade será de 60 mil lugares aos torcedores e 10 mil à imprensa, personalidades, staff e convidados.
Valor estimado da obra: R$ 522 milhões

Copa 2014 - Estádios Brasileiros



Estádio: Otávio Mangabeira (Fonte Nova), Salvador Arquitetos responsáveis pelo projeto: Marc Duwe e Claas Schulitz (Schulitz+Partner Architekten)Características do projeto: por conta das más condições do edifício, praticamente todo o estádio será reformado, desde a reformulação das arquibancadas, a instalação de cobertura e a adequação dos espaços para imprensa e áreas vip até a restauração das instalações hidráulicas e elétricas. O projeto só vai manter a forma de ferradura do estádio, com a abertura que dá para o lado sul, para o dique do Tororó. Valor estimado da obra: R$ 231 milhões


Estádio: Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi), São Paulo Arquiteto responsável pelo projeto: Ruy OhtakeCaracterísticas do projeto: o novo estádio do São Paulo Futebol Clube será reformado e receberá um novo centro de imprensa, uma redação para jornalistas, novas salas VIP e vestiários. Na parte externa, será construída uma cobertura sobre as arquibancadas nas cores branco e vermelho. A capacidade será reduzida de 75 mil para 62 mil lugares para atender aos padrões da FIFA. O projeto ainda prevê um edifício-garagem para 4.800 carros.Valor estimado da obra: inicialmente em R$ 180 milhões, mas pode haver alteração


Estádio: Arena das Dunas, Natal Escritórios responsáveis pelo projeto: escritório brasileiro Coutinho, Diegues e Cordeiro Arquitetos em parceria com o escritório inglês PopulusCaracterísticas do projeto: para dar lugar ao novo estádio, o atual Machadão e o Centro Administrativo serão demolidos. O projeto da Arena das Dunas prevê a completa reurbanização do local, com a implantação do novo estádio para os jogos e de um complexo formado por uma arena multiuso, hotéis, teatro, estacionamento para seis mil veículos, prédios comerciais e um shopping, além dos novos Centros Administrativos do Estado e do município.Valor estimado da obra: R$ 300 milhões


Estádio: Jornalista Mário Filho (Maracanã), Rio de Janeiro Escritório responsável pelo projeto: Castro Mello ArquitetosCaracterísticas do projeto: para a Copa do Mundo de 2014 será construída uma nova cobertura no estádio, um prédio para estacionamento com cerca de 3.500 vagas e outras intervenções para melhorar a visibilidade nas arquibancadas. Além disso, o projeto pode ir além da reforma do estádio, incluindo a requalificação da Quinta da Boa Vista, do Museu de São Cristóvão e a reurbanização dos bairros Maracanã e Tijuca.Valor estimado da obra: R$ 460 milhões


Estádio da Copa de 2014 - Colaboração de José Nilton Simões


Estádio: Vivaldo Lima (Vivaldão), Manaus Escritório responsável pelo projeto: o alemão Gerkan Marg und Partner (GMP)Características do projeto: o atual estádio será demolido para dar lugar à nova arena do Vivaldão. O projeto prevê um teto retrátil e a cobertura será feita de forma a simular um cesto de palha e as escamas de répteis para lembrar a fauna amazônica.Valor estimado da obra: R$ 500 milhões


Estádio: Governador Plácido Castelo (Castelão), Fortaleza Escritório responsável pelo projeto: não divulgado pelo Governo do Ceará
Características do projeto: as principais obras previstas para o estádio são a cobertura de todos os assentos, a construção de um estacionamento subterrâneo com 4.200 vagas e aproximação da arquibancada inferior, em 20 metros , em relação ao campo. Por isso, a capacidade do estádio diminuirá de 58,3 mil para 50 mil torcedores. Além disso, o projeto prevê uma nova área com shopping, cinemas, restaurantes e hotel. Os detalhes do projeto serão divulgados após o término da licitação da obra.Valor estimado da obra: R$ 300 milhões





Estádio: Governador Magalhães Pinto (Mineirão), Belo Horizonte Escritórios responsáveis pelo projeto: Gerkan Marg & Partner (GMP) e Gustavo Penna Arquiteto & AssociadosCaracterísticas do projeto: o estádio será transformado em um complexo cultural, esportivo e de lazer. No interior do estádio, as maiores intervenções serão o rebaixamento do gramado em 3,5 metros , a construção de camarotes e de uma cobertura feita de metal e membranas de policarbonato para a arquibancada. O projeto ainda prevê pavimentos subterrâneos com espaço para shoppings, centros comerciais, área de eventos, equipamentos culturais, hotéis e estacionamentos. Valor estimado da obra: não divulgado


Estádio: Governador José Fragelli (Verdão), Cuiabá (MT)Escritório responsável pelo projeto: Castro Mello ArquitetosCaracterísticas do projeto: as principais intervenções serão a criação de um grande parque ao redor do estádio, a diminuição da capacidade para 48 mil torcedores e a construção de uma área com camarotes, tribuna de honra e gabinetes de imprensa.Valor estimado da obra: R$ 350 milhões



Estádio: Estádio José Pinheiro Borda (Beira-Rio), Porto Alegre Arquitetos responsáveis pelo projeto: Fernando Balvedi, Gabriel Garcia e Maurício Santos da Hype StudioCaracterísticas do projeto: com a reforma já iniciada, o projeto procura aproveitar ao máximo a estrutura já existente do estádio. Entre as poucas intervenções, estão a cobertura do complexo, a reforma e ampliação da arquibancada inferior, construção de camarotes e reformulação interna (administração, tribuna principal, restaurantes etc). A capacidade será aumentada de 56 mil para 60 mil lugares. Valor estimado da obra: R$ 150 milhões


Estádio: Arena da Baixada, Curitiba Escritório responsável pelo projeto: Vigliecca AssociadosCaracterísticas do projeto: considerado o estádio mais moderno do Brasil atualmente, a arena receberá poucas modificações para a Copa de 2014. Entre elas, o aumento da capacidade de 21 mil para 41 mil torcedores, alterações na cobertura, melhoria da iluminação, eliminação de pontos cegos e dos fossos e a abertura de novas saídas, nas esquinas do estádio.Valor estimado da obra: R$ 140 milhões

Um dia em Ouro Preto ...- por Socorro Moreira


Numa manhã de um dia qualquer dos anos 80, aportei em Ouro Preto na companhia de Teresa ( minha irmã) e uma colega de Banco( Maria). Malas pesadas , com muitos acessórios femininos... E a gente a carregá-las ladeira abaixo , na falta de um taxi. Conseguimos enfim , nos alojar numa pousada. Tomamos um banho e pegamos a primeira ladeira pra conhecer a cidade. Depois de um dia inteiro perambulando por entre igrejas , museus e lojinhas , resolvemos descansar um pouco , no hotelzinho. Surpresas , descobrimos que não sabíamos o endereço , nem sequer o nome da pousada... Estávamos perdidas ! Voltamos até à rodoviária( com uma sobrecarga em pedra sabão adquirida no passeio) pra descobrir o primeiro caminho percorrido. As ruas pareciam-nos todas iguais, e as casas também.Ouro preto é um labirinto pra quem não a conhece.E foi perdida , literalmente, que descobri e conheci essa cidade , aparentemente tão igual, mas tão diferente.
Da próxima vez vou sem malas, e com sandálias confortáveis, pra curtir o ouro guardado nessas minas, que as Gerais iluminam !
Depois de muito penar , resgatamos as nossas malas , mas o cansaço era tanto, que fretamos um taxi para Belo Horizonte , imediatamente. A surra que levamos em Ouro Preto , precisaria de um século de descanso ... Ontem foi aniversário de morte do Aleijadinho , e não pude deixar de recordar essa história.
socorro moreira


Náufragos - Por Rosa Guerrera


Mergulhaste o rosto em meus cabelos
E eu cingi numa carícia o teu corpo ...
.
Senti tuas mãos úmidas de suor
Quando entrelaçaste as minhas .
.
E no silêncio compreendemos
A imensidão do leito ao nosso redor.
O mesmo leito que antes parecera
pequeno demais para a nossa paixão .
.
E ternamente enxergamos nos nossos lugares
Duas crianças exaustas de carinhos.
.
E as brancas mãos da madrugada
Fecharam as cortinas
De mais um maravilhoso naufrágio de amor !


rosa guerrera

Na Semana da Música ... "O Karaokê "


História do Karaokê

O Karaokê é originário do Japão. Nasceu na cidade de Kobe. Em 1970, um fã do cantor japonês Inoue Daisuki pediu que ele o acompanhasse durante uma viagem empresarial e tocasse numa festa. Por estar muito ocupado, Inoue decidiu criar uma máquina que tocasse automaticamente as músicas de uma fita cassete gravada. O músico não patenteou a idéia, deixando de lucrar muito com as máquinas de karaokê, que rapidamente foram copiadas por diversas empresas – mas continuou no ramo, inventando até pesticida contra pragas que destroem máquinas de karaokê.
A palavra Karaokê (カラオケ) é formada pelas palavras kara (空, “vazia”) que vem de karappo, e ōkesutora (オーケストラ, “orquestra”), significando, portanto, “orquestra vazia”.Entre as inovações tecnológicas atuais como o vídeo-laser, o CD, etc, surgiu também o aparelho Karaoke-Player que rapidamente invadiu os lares do Japão e tornou-se um dos entretenimentos mais populares e, agora, difundido em todo o mundo.
A música japonesa surgiu no Brasil com a chegada dos primeiros imigrantes, os quais, com o natural gosto pelo canto. A grande variedade de músicas, provenientes das distintas regiões de origem dos imigrantes colaborava para minorar a saudade da pátria-mãe, envolvendo a todos das comunidades, bem como aos brasileiros convidados. Embora uma enorme distância, quase 18.000 quilômetros separe o Japão do Brasil, a música, especialmente o “Karaokê” tem o poder de eliminar a distância física, mas também a histórica e a cultural.
A música era ouvida nas festividades da colônia nipo-brasileira, nos galpões dos líderes comunitários ou até mesmo informalmente, nas canções de ninar. Mas, havia uma grande dificuldade a ser superada: o som, a obtenção de um áudio, devido às limitações técnicas da época e ao custo, impraticável para os imigrantes. Mas o amor à música superou isto, improvisando-se o som com a marcação do ritmo com as palmas das mãos, único acompanhamento do cantor e, posteriormente, com instrumentos musicais improvisados. O gosto pelo canto fez o “Karaokê” disseminar-se rapidamente, com seus diversos gêneros a organizar-se.
A primeira gravação de música japonesa no Brasil, embora amadora, veio a ocorrer somente em 1946, no pós- guerra com o surgimento de conjuntos amadores que, em 1946 gravaram pela primeira vez números originais e melodias populares japonesas.
Mas o evento que marcou época foi o NODO-JIMAN (nodo significa garganta ou a voz que canta e jiman, orgulho portanto, nodo jiman pode ser traduzido como orgulho de cantar). Na prática, o NODO-JIMAN era uma variante do conhecido show de calouros, onde populares tentavam tornar-se astros durante o breve tempo de apresentação.
Gradualmente, os cantores passaram a preferir o acompanhamento mecânico, de melhor qualidade às “orquestras humanas” de baixa qualidade. Além disso, a gravação era geralmente meio ou um tom abaixo do original, facilitando cantores menos preparados.
A estrutura básica do mundo do “karaokê” pouco mudou desde a fase do nodo-jiman, exceto que com o playback, o sistema, com o passar do tempo, evoluiu tecnicamente, popularizou-se e sofisticou-se.
O “karaokê”, tal como conhecemos atualmente, surgiu nos anos 60 no Japão e nos EUA, com a aparelhagem eletrônica que começou a surgir, inicialmente as junke box e posteriormente, com a natural evolução tecnológica: a fita cassete, a fita de vídeo, depois o CD e atualmente o DVD, existindo inclusive aparelhos com músicas em áudio e microfone, o “karaokê” portátil.
A moderna tecnologia de áudio começou a ser introduzida no Brasil por volta de 1975 e em poucos anos, o “karaokê” tornou-se uma febre nacional, muito além da comunidade japonesa, com músicas de todas as nações e gêneros. A disseminação ocorreu pela praticidade, reduzido custo e o natural gosto de cantar dos japoneses, democratizando o ato de cantar e colaborando decisivamente para a divulgação da cultura musical japonesa. Atualmente, existem programas de computadores e sites inteiramente dedicados ao “karaokê”.
A grande popularização ocorrida nos anos 80, incentivou a realização dos primeiros concursos nas próprias comunidades e entre as mesmas, com uma crescente melhoria no padrão de qualidade dos eventos e dos cantores, surgindo associações específicas de “karaokê” (aikokais), crescendo o número de eventos realizados, com diferentes regras.
Neste cenário, surgiu em 1991, a União Paulista de Karaokê (UPK), agente propulsora da cultura musical, para coordenar estas atividades no Estado de São Paulo, a qual conta atualmente com 250 entidades filiadas e o extraordinário número de 10.000 cantores integrados nas mesmas, dedicados à prática do “karaokê”. Os concursos anuais organizados pela UPK, há 13 anos ininterruptamente, são uma grande tradição não apenas no estado de São Paulo, tendo repercussão nacional e até mesmo internacional, face às suas qualidades técnicas e organizacionais que os tornaram um padrão de qualidade neste tipo de evento.
Fontes
http://www.upk.org.br/internas.php?menu=1043&interna=12390
http://mobbrasil.wordpress.com/2009/10/27/a-origem-do-karaoke/

Pensamento para o Dia 19/11/2009


“O que precisamos salvaguardar e proteger atualmente são a Verdade e a Retidão, não a nação. Quando a Verdade e a Retidão forem protegidas, elas protegerão a nação. Portanto, a Retidão deveria ser nutrida em cada lar. Um lar não é um lugar trivial: ele é a morada da Retidão (Dharma), que protege e salvaguarda o país. O lar é o farol que ilumina e sustenta o mundo. As mulheres deveriam compreender que, independentemente de sua educação ou de sua posição, sua obrigação principal é proteger o lar. Onde as mulheres são honradas, há prosperidade e felicidade. As mulheres nunca deveriam ser menosprezadas ou tratadas com desrespeito. Um lar onde uma mulher derrama lágrimas estará privado de toda prosperidade.”
Sathya Sai Baba

COMPOSITORES DO BRASIL


Por Carlos Rafael e Zé Nilton

Luiz Carlos Salatiel é um dos mais importantes, atuantes e influentes artistas do cenário cultural cearense. Nado e criado no Cariri cearense, é desse solo, onde estão fincadas suas raízes familiares e culturais, que ele cria, recria, inova, revigora e vanguardiza sua arte extraída das entranhas multiculturais do povo cariri.

Cantor, compositor, ator de teatro e cinema, poeta, comunicador, militante e produtor cultural desde os anos de 1970, fazendo ainda incursões esporádicas no campo das artes plásticas e gráficas.

Iniciou sua carreira artística já no final dos anos de 1960 como “crooner” da banda de baile The Hunters, de Juazeiro do Norte.

Viveu intensamente os anos sessenta e setenta, antenado nas revoluções musicais (ouvia Beatles, Rollingstone, Jimmy Hendrix, Jane Joplin, Luiz Gonzaga e iniciou o gosto pela música cubana e caribenha... acompanhou daqui os ecos do Festival de Woodstock), feminina ( fazia eco aos revolucionários apelos de Bette Friedman em favor da libertação da mulher), estudantil ( maio de 1968 na Europa e seus desdobramentos no Brasil e no mundo) e, principalmente, foi um fiel admirador da contracultura hippie.

Achamos mesmo que Luiz Salatiel encarnou todas as determinações que criaram um novo mundo e suas múltiplas tendências, pela permanência dos fartos cabelos e barba, sem falar no modo de se vestir, sempre solto e descompromissado, que muito o destaca na seara humana e cultural desses Cariris.

Ao longo da década de 1970, Luiz Carlos Salatiel desponta, enfim, para toda região, como vencedor de vários festivais da canção, que aconteceram em Crato. Simultaneamente, participou do Grupo de Artes “Por Exemplo”, ao lado de Rosemberg Cariry, Cleivan Paiva, Jackson Bantim, Jefferson Júnior e outros, movimento cultural que sacudiu a cena local com a publicação de antologias de poesia e conto. O ponto alto de sua inquietação cultural foi a promoção do histórico Salão de Outubro. Esse acontecimento chamou a atenção do mundo cearense e selou o Crato como “capital da cultura”.

Ainda na década de 1970, participou como cinegrafista e produtor de vários projetos cinematográficos realizados na região, a exemplo de um documentário sobre Patativa do Assaré. Como ator, em 1992, fez papel de destaque no Filme “Corisco e Dadá”, do premiado cineasta caririense Rosenberg Cariry.

Obrigado a migrar para outros centros urbanos, como Recife, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro,- Salatiel, não obstante, sempre se manteve conectado com o que acontecia no Cariri. No final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, foi um dos fundadores e principais colaboradores do jornal Nação Cariri, que além de editar o referido periódico, editou discos, filmes e livros, e promoveu diversos eventos artísticos de integração dos artistas do Cariri com artistas de outras regiões.

Retornando ao Cariri, em meados dos anos de 1980, Salatiel integrou-se de corpo e alma ao movimento cultural que se desenvolveu em torno do Jornal Folha de Piqui. Apresentou o hoje lendário programa radiofônico Terra Brasilis e fundou a OCA - Officinas de Cultura e Artes & Produtos Derivados – responsável dentre outras realizações, pela gravação e edição de Avallon, primeiro disco do cantor e compositor cratense Abidoral Jamacaru.

Nos últimos vinte anos, Salatiel mantém-se incansável na sua militância cultural, mas com o diferencial de ter retornado aos palcos, atuando em eventos musicais e teatrais, a exemplo dos shows “Soy Loco por ti América Latina” e “Contemporâneo.” Eeste último tendo como base o repertório do disco homônimo que lançou em meados desta década.

Este homem de muitas faces e produto de muitas fazes é um exemplo de generosidade e de desprendimento. Debaixo dos caracóis de seus cabelos há uma cabeça voltada para viver a vida, mas, com responsabilidade. Foi, por muitos anos, um exemplo de servidor público, exercendo destacadas funções no Banco do Brasil.

Vamos estar, hoje, a partir das 14 horas, na Rádio Educadora, conversando e tocando as músicas desse excelente compositor brasileiro, no Programa COMPOSITORES DO BRASIL.

Limite (Pachelly Jamacaru e Luiz Carlos Salatiel),com Luiz Carlos Salatiel (Disco “Contemporâneo”, de Luiz Carlos Salatiel)
Dona Rute, Meu Amor (Luiz Carlos Salatiel e Geraldo urano),com Luiz Carlos Salatiel (Disco “Contemporâneo”, de Luiz Carlos Salatiel)
Luar de Oslo (Luiz Carlos Salatiel e Geraldo Urano),com Luiz Carlos Salatiel e João do Crato (Disco “Contemporâneo”, de Luiz Carlos Salatiel)
Leia na minha camisa (Luiz Carlos Salatiel e Geraldo Urano),com Pachelly Jamacaru (Disco “Com as palavras, as músicas”, de Pachelly Jamacaru)
Besame Mucho (Consuelo Velásques),com Luiz Carlos Salatiel (Disco “Fui”, de Manel D’Jardim)
Porque não cantar? (Pachelly Jamacaru),com Luiz Carlos Salatiel (Disco “Balaios da vida”, de Pachelly Jamacaru)
Visões do Paraíso (Zé Nílton),com Abidoral Jamacaru, Zé Nilton e Luiz Carlos Salatiel (Disco "De onde olho”, de Zé Nilton )
Sagração de Mateus (José Flávio Vieira e Luiz Carlos Salatiel),com Abidoral Jamacaru (Disco “Bárbara”, de Abidoral Jamacaru)
Girassóis (Calazans Callou e Geraldo Urano),com Luiz Carlos Salatiel (Disco “Perfeita mistura”, de Calazans Callou)
Limite -(Pachelly Jamacaru e Luiz Carlos Salatiel),com Banda Tchopo – RJ (Disco “Crias minhas”, inédito, de Pachelly Jamacaru)
Nossa Canção (Luiz Ayrão),com Luiz Carlos Salatiel (Disco “Timbres”, de Manel D’jardim)

Quem ouvir, verá!

Informação.
Programa Compositores do Brasil
Pesquisa, Produção e Apresentação de Zé Nilton
Sempre às quintas-feiras, a partir das 14 horas
Rádio Educadora do Cariri – 1020 klz
Apoio Cultural: CCBN

Ademar Casé - Por Norma Hauer

Foi em Pernambuco que ele nasceu no dia 9 de novembro de 1902. Já com 17 anos alistou-se no Exército e veio para o Rio de Janeiro, ficando lotado na Vila Militar. Deu azar. Embora não nascesse para ser soldado e muito menos revolucionário, foi preso em 1922, porque seu batalhão lutou contra a posse de Arthur Bernardes na Presidência da República. Foi mandado,preso, para São Paulo e não viu "nascer" aquilo que seria sua vida :o rádio, cuja primeira experiência deu-se em 7 de setembro de 1922.
Vários empregos ele tentou depois que deixou a caserna, mas nada dava certo. Regressou a Pernambuco, mas também ali não conseguiu se manter,pois não encontrara, ainda, seu destino.

Seu destino era o Rio de Janeiro, onde, involuntariamente, até 171 ele foi, por trabalhar em uma firma farjuta, que vendia lotes de terrenos inexistentes.

O emprego que lhe abriu as portas foi o de agenciador de anúncios das revistas então na moda:"Careta";" Revista da Semana";"O Malho";"A Cena Muda"...

O rádio, apesar de "nascido" oficialmente em 23 de abril de 1923, durante os anos 20 pouco se desenvolveu. No início dos 30 a fábrica holandesa Philips, acreditando na possível força do veículo, passou a vender rádios importados, de sua marca.

E foi aí que Casé se deu bem.
Com sua experiência como agenciador de anúncios, passou a vender rádios, "bolando" uma idéia genial. Era um tempo em que só os mais abastados possuíam telefone.
Que fez Ademar Casé?

Selecionava possíveis clientes nas listas telefônicas e,com seus endereços, esperava o dono da casa sair. Certo que seria recebido com sua novidade, mostrava um
aparelho para a dona da casa dizendo que seu marido estava interessado nesse
aparelho. Deixava-o com a "madame", como experiência, Sintonizava-o na Rádio
Sociedade, que tinha os programas mais variados e dizia que voltaria depois de uma semana para reaver o aparelho.

Logicamente, a "madame", adorando a novidade, insistia com o marido para que
adquirisse aquele aparelho "misterioso".
Eram outros tempos. Hoje ninguém abriria as portas de suas casas para um desconhecido.

Mas foi dessa forma que Ademar Casé vendeu tantos aparelhos que o representante da Philips no Brasil quis conhecê-lo.
Já nessa época, a empresa holandesa criou a Rádio Philips, para divulgar seus produtos. Mas uma vez Ademar Casé "bolou" algo espetacular. Alugaria um horário na emissora para apresentar um programa variado.

Foi aceito e, no dia 14 de fevereiro de 1932, por sinal domingo de carnaval, entrou no ar o PROGRAMA CASÉ. Foi um sucesso! Algo diferente fora lançado naquele tempo em que tudo era monótono porque o rádio seguia o "mote" de Roquette Pinto:"para a cultura dos que vivem em nossa pátria, pelo progresso do Brasil".

Nessa época já existia na Rádio Mayrink Veiga o "Esplêndido Programa", bastante movimentado,mas Casé fez algo diferente, apesar de não entender de rádio. Como colaboradores teve um cantor de nome Sílvio Salema, que conhecia Almirante (Henrique Foreis) que se tornaria "a maior patente do rádio". Ambos levaram para o PROGRAMA CASÉ idéias novas e pessoas que já labutavam no "metiê".

O PROGRAMA CASÉ foi a porta aberta para o rádio moderno.

Na época não eram permitidos anúncios no rádio e este tinha de ser "educativo". Casé então dividiu seu primeiro programa em duas partes: a primeira popular e a segunda clássica. Durante a primeira,o telefone da emissora não parou de tocar: era o público pequeno, mas desejoso de novidades que dava sua opinião a respeito do novo programa. Na segunda parte(a clássica) os telefones emudeceram.

No segundo programa, no domingo seguinte, fortuitamente, ele eliminou a parte clássica com novos "quadrinhos", o que deixou os ouvintes entusiasmados e assim prosseguiu, mas precisava de dinheiro para manter no ar, todos os domingos, um
programa desse teor .

Que fez Casé? Um vencedor não poderia "deixar a peteca cair".

E não deixou! Mais uma idéia veio à cabeça de Casé.
Casé, já então casado,passou com sua esposa em uma padaria na Rua Voluntários da Pátria e ela adorou o pãozinho vendido ali. Casé, "com a cara e a coragem" imaginou fazer propaganda daquele pão e propôs ao dono da padaria um acordo:faria um anúncio da padaria ;se ele gostasse, pagaria, caso contrário não.

É aí que Antonio Nássara entra no assunto. Casé pediu a Nássara que "bolasse" uma propaganda para tal padaria. Sem querer, Nássara compôs o primeiro "jingle" apresentado no rádio. Era assim:

Oh, padeiro desta rua,
Tenha sempre na lembrança,
Não me traga outro pão,
Que não seja o Pão Bragança"

Foi gravado pelo cantor Jorge Fernandes.

O dono da padaria adorou e Casé faturou algum para dar prosseguimento ao seu já vitorioso programa.

DRAGÃO.
Muitos foram os "jingles" feitos para o "Dragão". Assim:

Este de Noel Rosa:
No dia que fores minha,
Juro por Deus, coração.
Te darei uma cozinha,
Que vi ali no Dragão.

Este de Marília Batista:
Morros do Pinto e Favela,
São musas do violão.
Louça, cristal e panela,
Só se compra no Dragão.

O Dragão era chamado "a Fera da Rua Larga" e sempre os locutores perguntavam:"A Light fica em frente ao Dragão ou o Dragão fica em frente à Light"?

O PROGRAMA CASÉ foi transmitido por várias emissoras mas seu apogeu foi na Rádio Mayrink Veiga,onde ficou de 1938 a 1948. Aos domingos todos os rádios ficavam
ligados no Programa Casé. Foram ali lançados peças teatrais, pequenos esquetes,
teatro de mistérios, quase todos os cantores daquela época, enfim, antes de a Rádio
Nacional dominar o meio radiofõnico,o Pragrama Casé, na Mayrink Veiga era o de
maior audiência no rádio.
Em 1948 o PROGRAMA CASÉ saiu da Mayrink, indo para a Globo e depois para a Tupi.
Com o advento da televisão (em 1950) o rádio começou a perder sua força e, em 1951 Ademar Casé o deixou e foi apresentar na TV Tupi, alguns programas, como :Convite à Música", "Show Cássio Muniz", "Show Regina" e "Tele Semana."
Seu último programa foi na TV Rio, onde lançou, com grande orquestra o "Noite de Gala", já em companhia de seu filho Geraldo Casé.
Norma Hauer

Famigerado- Guimarães Rosa

Foi de incerta feita — o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranqüilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.

Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados, de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavaleiro esse — o oh-homem-oh — com cara de nenhum amigo. Sei o que é influência de fisionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.

Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografia. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.

Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:

"Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada..."

Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.

— "Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras... Estou vindo da Serra..."

Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mortes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:

— "Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso... Saiba que estou com ele à revelia... Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade... O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado..."

Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.

O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, inseqüentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:

— "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-megerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?

Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— "Saiba vosmecê que saí ind'hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro..."

Se sério, se era. Transiu-se-me.

— "Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo — o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam... A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?"

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

— Famigerado?

— "Sim senhor..." — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— "Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho..."

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

— Famigerado é inóxio, é "célebre", "notório", "notável"...

— "Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?"

— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos...

— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?"

— Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito...

— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?"

Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:

— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!...

— "Ah, bem!..." — soltou, exultante.

Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — "Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição..." — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d'água. Disse: — "Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!" Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — "Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não..." Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — "A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças... Só pra azedar a mandioca..." Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.


Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 13

Lili Marlene

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um pouco de luz














um pouco de luz no coração
um pouco de luz no sonho
um pouco de luz entre os dedos
um pouco de luz no medo

um pouco de luz na cidade
para limpar as farpas do dia
sobre as calçadas nomes esgarçados
projetos mortos morta melodia

um pouco de luz é tudo o que se quer
quando os olhos mal sabem o que é poesia
poesia é dor ou será júbilo?
poesia é um grito no escuro?


poema e foto: chagas