Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Chumbrega

Chumbrega vendia uma cachacinha a granel em Matozinho. Comprava em alguns alambiques da redondeza, engarrafava, após hidratá-la um pouco para aumentar o volume e o lucro, e distribuía bodega a bodega, meio às escondidas. Comerciante de parcos recursos, não tinha nenhuma condição de selar os vasilhames, já que isso significava recolhimento de imposto. O negócio funcionava como uma espécie de contravenção. Algumas vezes fora pego de calças curtas, multado e tivera a carga apreendida. Continuava , porém na luta, já que não tinha outro meio de vida às mãos e, também, com o tempo, viciou-se a driblar os fiscais, a dobrar a esquina, a esconder-se à aproximação do fisco. Aquilo se tornara uma espécie de esporte e punha um pouco de adrenalina no dia-a-dia repetitivo de Chumbrega. Vidinha de esforços desde a pobre infância, cujo fardo se foi tornando mais pesado com o passar dos anos. Casara por volta dos vinte e os filhos se foram enfileirando casa a dentro: oito. D. Ritinha, a sua companheira, viera ,como ele, da manjedoura. E sem o incenso a mirra ... e o ouro? Nem pensar! Afeita aos trabalhos domésticos, a esposa tinha uma enorme empresa para administrar, com muitos funcionários: parca em recursos e rica em problemas. O casal tocava com maestria aquela vida de pobre... e administrar miséria não é obra para principiantes. Carece de técnicas de mágico e artes de contorcionista.
Ritinha se lhe fizera a esposa ideal. Trabalhadora, controlada, sistemática, fazia render cada centavo do pouco dinheiro arrecadado por Chumbrega. Os filhos, como um general para o batalhão, mantinham-os debaixo de ordens. Havia apenas um entrave no relacionamento dos dois. Ritinha , por trás da carapaça de durona, sempre fora muito nervosa. Queixava-se de muitas doenças e dores as mais variadas. E mais, absorvia, como uma esponja, as moléstias de todos : vizinhos, amigos, atores da televisão. Bastava a notícia que alguém morrera tuberculoso em São Paulo que, na mesma hora, Ritinha já começava a tossir e a definhar. E esta mania, com a sucessão dos anos, se foi acentuando. Tanto e tanto que aquilo terminou por somar quilos no fardo já quase insuportável do nosso varejista de aguardente. Chumbrega passou a ter uma vida mais reclusa e já não transparecia a alegria , mesmo contida, de outros tempos.
Já sessentão, um dia, a mola pareceu ter esticado até o limite. Chumbrega caiu doente , queixava-se de uma infinidade de infortúnios e quase já não saía com sua carrocinha para a distribuição das garrafas. Os vizinhos entenderam que nosso comerciante entrara na curva descendente da vida e, como um estrela cadente, parecia já ter se consumido no último brilho. Aguardavam, a qualquer momento, uma notícia catastrófica sobre ele. O tempo, no entanto, é mestre em armar emboscadas nas esquinas da existência. Pois a velha da foiçona lançou sua lâmina onde não se esperava. As queixas mil de Ritinha, durante toda a vida, vai ver que tinham lá suas razões. Um dia ela dormiu na terra e acordou no céu. Tivera apenas um pequeno mal estar na noite anterior. Chumbrega lhe preparara um chazinho de jalapa e imaginou que tudo estaria resolvido no dia seguinte. Que nada! O mundo de Chumbrega veio abaixo. Perdera a companheira de tantos e tantos anos e lá ficava ele com uma récua de filhos já graúdos, é certo, mas que, como sempre, nunca param de dar trabalho. Além do mais, com saúde abalada já há vários anos, como enfrentaria os novos desafios?
Imaginou-se que em poucos meses Ritinha não estaria só na cova. Ao contrário do que toda Matozinho esperava, passado o luto oficial de trinta dias, aconteceu com Chumbrega uma ressurreição. Criou alma nova, deixou as queixas de lado, empenhou-se no trabalho com o vigor dos primeiros anos. Passou a cuidar mais do visual, embebeu-se de extratos novos e começou a freqüentar algumas festinhas. Percebia-se, claramente, que Ritinha, nos últimos anos , funcionara como um parasito, sugando-lhe a seiva vital . Agora, já sem o parasitismo, ele florescera como um marmeleiro seco com as primeiras chuvas.
Mal completara seis meses de viuvez, o coração de Chumbrega, que antes dera sinais de entupição no carburador e folga no virabrequim, engatou, novamente, a primeira. Começou a namorar uma vendedora de feira, vinte anos mais nova. Doninha , como era conhecida, era voluntariosa, despachada e não tinha as prendas domésticas de Ritinha. As más línguas diziam que seu taxímetro já tinha virado a bandeirada umas duas ou três vezes. Juntaram os panos de bunda, antes do natal.
A princípio, o relacionamento parece ter andado bem, tangido pelo cheiro de carne nova e pelo mel da lua que, percebeu Chumbrega, já estava mais para quarto minguante que para cheia. Ardido o primeiro fogo, começaram a aparecer , como sempre, os primeiros defeitos de lado a lado. Doninha não se adaptara bem no comando da tropa taluda deixada por Ritinha. Era mais independente do que o marido esperava. Viajava para feiras nas cidades vizinhas e nem todo dia dormia em casa. O esposo teve que, assim, compartilhar com ela afazeres totalmente estranhos: cozinhar, passar, lavar prato. Doninha, por outro lado, acostumara-se a uma variedade maior de parceiros, mais novos e fogosos e , rápido, enfastiou-se daquele repetitivo prato de todo dia.
Passados uns dois anos, Chumbrega começou novamente a ficar capiongo, meio borocoxô. Alguns diziam que talvez fosse o peso de umas antenas novas da Sky que Doninha parecia estar comprando para ele. Caiu adoentado, voltou à reclusão e não queria conversa com ninguém. Os que já o conheciam de longa data imaginaram que aquilo era uma fase, pois a vida é tecida assim mesmo entre vales e depressões. Matozinho se surpreendeu, pois, quando recebeu a notícia : Chumbrega dormira no domingo com as queixas de sempre e, na segunda feira, quando Doninha foi chamá-lo descobriu que já não morava nesta dimensão .
À noite, no velório, uma Doninha chorosa, entre um e outro soluço, explicava o inexplicável. Antes de dormir, Chumbrega lhe pedira um copo de leite quente. Queixou-se de azia e acreditava que tinha sido uma tapioca que comera no jantar. Ela, cuidadosamente lhe preparou e ele tomou tudo: glute-glute-glute. Quando uma vizinha lhe perguntou se depois disso ele não se tinha queixado de mais nada, Doninha , entre lágrimas concluiu;
--- Não, ele não se lamentou de mais nada. Acho que a azia passou! Até porque eu coloquei no leite um pouco de um chá de jalapa que ele tinha preparado prá mim ontem e que eu , morrendo de sono, terminei me esquecendo de tomar...

J. Flávio Vieira

Dê-me um cheiro meu bem! - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Um dia, nos sertões do Fidelis, em Potengi, fazia um inverno exuberante. Um amigo sobre a parede de pedra e cimento de uma barragem examinava, sentado com olhar atento, a placidez enganosa das águas naquela manhã fria. Aquelas águas transparentes eram, também, densas, quase escuras, embora se vissem as piabas nadando. Talvez a profundidade adensasse aquela transparência. Por isso mesmo as águas convidavam meu amigo a se agasalhar no seu frio leito. O sol do sertão já se apresentara com todo o vigor.

Ele inteiramente dividido, um olho na água e outro para os que já estavam em pleno mergulho, nadando, dando cambalhotas no ar e tibungo no líquido da vida. Quase mais ninguém deixara de pular na água, apenas ele numa postura curiosa. Entre o recolhimento e lançar-se ao espaço. Era coreografia complicada, merecedora da dança moderna, a clássica não se dividiria assim, pois apenas é. Uma única coisa e meu amigo eram duas. Uma vontade de pular e outra de se resguardar do frio.

Eis que de sua mais profunda reflexão veio, pelas vias tortas da psicologia de primeiro ano de faculdade, toda a explicação para aquela contradição. Disse ele: o ego quer, mas o superego não deixa. Pois é disso que falo: o ego quer a transformação, mas o superego quer a conservação. Um dia me agarrei a um neologismo que inventara para a ocasião cineperservação. É com isso que me divido.

Quando foi a última vez que você já viu alguém pedindo um cheiro? Pois era habitual, especialmente no nordeste, se pedir um cheiro. Cheirar o outro. Sentir o prazer dos odores naturais que se exalava nele. Quando quem cheirava era colibri e quem se deixava cheirar era flor da humanidade.

Um cheiro profundo, querendo capturar todo o espectro do aroma que ia da derme, atravessava todo o corpo e chegava aos sentimentos mais afetivos que existiam. Os mais velhos, olhando aquelas crianças em reboliço a dizer: dá cá um cheiro, meu bem! E da agitação mesmo em que se encontrava, ela expunha a sua cabecinha e o adulto, ao cheirá-la, quase que novamente a batizava com as palavras do amor. E lá ia ela, sabendo-se protegida, mas não interrompida em seu correr.

Mas veio o cinema americano com aqueles beijos de final de cena. Confesso que sempre os interpretei como a conciliação de tantas tentativas frustradas na narração. Os beijos eram a senha para o desfecho. Quando mais nada resta para contar. E as cortinas se fechavam, as luzes se acendiam com toda a exuberância da mesmice cotidiana.

Quando a linguagem erótica penetrou a cena, o beijo se tornou a volúpia do desejo sexual. O começo de longas e repetidas cenas de prazer e desejo. A estética se resolveu na linguagem do ato sexual e o beijo foi além. Passou a ser troca de saliva, confusão de lábios e línguas, não um saboreio, mas a digestão dos sentimentos de ambos. No final apenas o restolho digestivo.

E com isso ninguém mais pede um cheiro, cheira e captura a essência dos perfumes do outro. Agora, como bem diz o cinema americano, é o beijo. E o que mais choca que enquanto o cheiro era a expressão de um sentimento através dos sentidos do olfato, igualmente não se pode afirmar que seja o beijo relacionado a qualquer sentido. Existem as apelações dos cremes e óleos, mas aí nem mais beijo é.

Salada de bacalhau com Grão de Bico




INGREDIENTES:
600g de Bacalhau Desfiado Dessalgado
( ou 500g de Bacalhau Desfiado Salgado e Seco )
500g de grão de bico
2 cenouras
1 xíc. de coentro
1 xíc. de salsa
2 cebolas
2 dentes de alhos
Grãos de Pimenta do Reino
Azeite Extra-Virgem
Sal e Pimenta-do-reino a gosto
Salada de folhas
MODO DE PREPARAR:
( Se o bacalhau é salgado e seco, deve antes ser dessalgado conforme as instruções. )
Deixar os grãos-de-bico de molho na geladeira por 24h. Retirar os grãos-de-bico e cozinhá-los em água até amaciarem. Escorrer e temperar com um pouco de sal.
Deitar o bacalhau em uma travessa, regar com azeite e salpicar o coentro bem picadinho. Tampar e deixar apurar por 3 horas.
Colocar o bacalhau em água aromatizada, onde foram pré-cozidas as cenouras, a salsa, a cebola, o alho e a pimenta-em-grão. Após 10 minutos de fogo brando, retirar o bacalhau com uma escumadeira e escorrer. Cortar os vegetais em pequenos cubos. Dispor o bacalhau com os grãos-de-bico e os vegetais em uma travessa, regar com azeite extra-virgem de oliva e pulverizar com pimenta-do-reino. Servir acompanhado de uma salada de folhas.
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Adega do Bacalhau
Chuva
- Claude Bloc -

Choveu bastante aqui hoje. Para melhor dizer, choveu um mundo inteiro. A água ligeira, foi caindo musicada e generosa, por entre as brechas que o tempo inventa.

Pois é, a chuva chegou cedinho, atravessou a hora e esbanjou espaço. Fez como todas as chuvas que correm coração adentro. Feito lágrima em queda livre. Feito poesia recortada em milhares de sonhos. Sem qualquer tristeza. Simplesmente chuva. A chuva benfazeja e sua orquestra inundando hoje esse mar da poesia.
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Foto e texto por Claude Bloc

Trova - por Ulisses Germano

Quando vim morar no Crato

Não sabia o que fazer

Das histórias que são tantas

E dão enorme prazer

Na pedra da Batateira

Vi nascer uma roseira

Que chamava por você.

Para Ulisses Germano !

Feliz Aniversário, Ulisses Germano !

Ulisses em companhia de Seu Antonio e Gelson - foto Dedé
Ulisses com Mestre Aldenir - foto Nívia Uchôa
Ulisses Germano Leite Rolim é um cratense, nascido no Iguatu. Comum encontrá-lo nas ruas da cidade com sua flauta mágica ou instrumento similar. Ele inventa instrumentos, ele arranca sonoridade de tudo e de todos. Cordelista, artesão, professor de música, poeta, homem das artes e da Educação...Vai pra esse moço amigo , no dia de hoje , o nosso abraço cheio de carinho e admiração.




Reinventando a esperança
Acalentando a sorte
De ter nascido outra vez
(Ulisses Germano)

Francis Bacon



Francis Bacon, também referido como Bacon de Verulâmio (Londres, 22 de Janeiro de 1561 — Londres, 9 de Abril de 1626) foi um político, filósofo e ensaísta inglês, barão de Verulam (ou Verulamo ou ainda Verulâmio), visconde de Saint Alban. É considerado como o fundador da ciência moderna.

Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida política, na qual exerceu posições elevadas. Em 1584 foi eleito para a câmara dos comuns.

Sucessivamente, durante o reinado de Jaime I, desempenhou as funções de procurador-geral (1607), fiscal-geral (1613), guarda do selo (1617) e grande chanceler (1618). Neste mesmo ano, foi nomeado barão de Verulam e em 1621, barão de Saint Alban. Também em 1621, Bacon foi acusado de corrupção. Condenado ao pagamento de pesada multa, foi também proibido de exercer cargos públicos.

Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científica e do empirismo, sendo muitas vezes chamado de "fundador da ciência moderna". Sua principal obra filosófica é o Novum Organum.

Francis Bacon foi um dos mais conhecidos e influentes rosacruzes e também um alquimista, tendo ocupado o posto mais elevado da Ordem Rosacruz, o de Imperator. Estudiosos apontam como sendo o real autor dos famosos manifestos rosacruzes, Fama Fraternitatis (1614), Confessio Fraternitatis (1615) e Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz (1616).
Wikipédia

Charles Baudelaire



Charles-Pierre Baudelaire (Paris, 9 de Abril de 1821 — Paris, 31 de Agosto de 1867) foi um poeta e teórico da arte francês. É considerado um dos precursores do Simbolismo, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.

Nasceu em Paris a 9 de abril de 1821. Estudou no Colégio Real de Lyon e Colégio Louis-Le-Grand (de onde foi expulso por não querer mostrar um bilhete que lhe foi passado por um colega).

Em 1840 foi enviado pelo padrasto, preocupado com sua vida desregrada, à Índia, mas nunca chegou ao destino. Pára na ilha da Reunião e retorna a Paris. Atingindo a maioridade, ganha posse da herança do pai. Por dois anos vive entre drogas e álcool na companhia de Jeanne Duval. Em 1844 sua mãe entra na justiça, acusando-o de pródigo, e então sua fortuna torna-se controlada por um notário.

Em 1857 é lançado As flores do mal contendo 100 poemas. O livro é acusado no mesmo ano, pelo poder público, de ultrajar a moral pública. Os exemplares são presos, o escritor paga 300 francos e a editora 100, de multa.

Essa censura se deveu a apenas seis poemas do livro. Baudelaire aceita a sentença e escreveu seis novos poemas "mais belos que os suprimidos", segundo ele.

Mesmo depois disso, Baudelaire tenta ingressar na Academia Francesa. Há divergência, entre os estudiosos, sobre a principal razão pela qual Baudelaire tentou isso. Uns dizem que foi para se reabilitar aos olhos da mãe (que dessa forma lhe daria mais dinheiro), e outros dizem que ele queria se reabilitar com o público em geral, que via suas obras com maus olhos em função das duras críticas que ele recebia da burguesia.

Morre em 1867, em Paris, e seu corpo está sepultado no Cemitério do Montparnasse, em Paris.

wikipédia

François Rabelais



Além de escritor, François Rabelais também teve atuação destacada na medicina de seu tempo
Não se sabe ao certo quando François Rabelais nasceu, o ano mais provável é o de 1484, na cidade de Chinon, no oeste da França. Segundo algumas fontes, seu pai era proprietário de vinhedos, segundo outras, advogado. Da mesma maneira, não existem informações precisas sobre a infância de Rabelais e o período em que ele foi enviado à Abadia de Seuillé para estudar.

Tornou-se noviço no Convento de La Baumette, onde se tornou colega dos irmãos De Bellay que o ajudariam em sua vida futura. Tornou-se um monge franciscano em 1521. No monastério, estudou grego, latim, direito e astronomia. Quando as autoridades eclesiásticas da Universidade de Sorbonne começaram a confiscar os velhos livros gregos, Rabelais endereçou uma petição ao papa, solicitando para juntar-se à ordem de São Bento, mais dedicada à cultura.

No hospital beneditino de Saint Denis começou a estudar medicina, mas abandonou a vida clerical para dar prosseguimento a seus estudos na Universidade de Paris e bacharelar-se, em 1530, em Montpellier. Nessa cidade, leu os antigos textos médicos de Hipócrates e Galeno, dissecou cadáveres e tornou-se um especialista em diversas doenças. Também inventou aparelhos para tratamentos de hérnia e fratura de ossos, além de publicar edições próprias dos clássicos médicos da Grécia e de Roma.

Em 1532 estabeleceu-se como médico num hospital de Lyon. No mesmo ano publicou sua famosa comédia "Pantagruel" sob o pseudônimo de Alcofribas Nasier, um anagrama de seu próprio nome. Lyon era na época o centro cultural da França, famosa por seu comércio internacional de livros. Segundo se dizia, seu "Pantagruel" chegou a vender mais exemplares do que a Bíblia. Dois anos depois, com o mesmo sucesso, ele publicou "Gargantua". Os livros, entretanto, foram condenados pela Sorbonne e pelo Parlamento.

Rabelais mudou-se para Roma onde se tornou médico do Cardeal De Bellay, recebeu perdão do papa pelo abandono da ordem religiosa e, em 1537, recebeu o grau de doutor, passando a exercer a medicina em várias cidades. Em 1546, o rei Francisco 1o da França, lhe concedeu autorização para publicar o terceiro livro da série Gargantua-Pantagruel, que foi dedicado a Margarida de Navarra, a irmã do rei.

A época, porém, era conturbada pelas reformas protestantes. A corte francesa procurava agir moderadamente e praticar a tolerância. Francisco 1o chegou a defender o filósofo Erasmo de Roterdã dos ataques dos teólogos católicos. Contudo, a saúde do rei estava em declínio, e Rabelais - um defensor de suas idéias humanistas - achou melhor deixar Paris.

Em 1547, De Bellay tornou Rabelais o cura de Saint-Christophe-de Jambet e depois de Mendon, próxima a Paris. O quarto livro da série Gargantua-Pantagruel apareceu em 1552, um ano antes da morte de Rabelais. Um quinto livro, de autoria duvidosa, foi publicada em 1564.

Rabelais misturou elementos de diversos gêneros narrativos em seus livros - crônica, farsa, diálogos, comentários, etc., temperando-os com um humor bem popular. Suas idéia e anedotas enaltecem os prazeres físicos da vida: a comida, a bebida e o sexo, e satiriza o ascetismo religioso. "Beba sempre e você nunca vai morrer", escreveu no primeiro volume de "Gargantua".

Uoleducação

Coisas que a gente gosta de ouvir


"Ganhaste meu coração

com um só de teus olhares

com um só pingente

dos teus colares


Como tuas doçuras são belas,"*

***

*" Haroldo de Campos (1923-2003), poeta brasileiro,

na transcrição do Cântico dos Cânticos, do livro Éden (perspectiva)