Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Para Edilma Rocha, uma quase resposta poética


Uma flor
uma Rosa
Promessa e busca
de perfeição

que buscas
e encontras
no desvão
dos detalhes

Ando pastorando nuvens
sonhando silêncios
onde encontramos
os verdadeiros amigos...


Ao irmão Karimai
o meu silêncio

que ele ouve
tão bem...

Em busca da felicidade – Por Magali e Carlos

* Magali de Figueiredo Esmeraldo
* Carlos Eduardo Esmeraldo

A data de 12 de dezembro de 1972 foi um dia de muitos afazeres para Magali. Para começo de conversa, neste dia ela estava aniversariando. Mas acredito que poucos se lembraram disso, pois ela tinha algo mais importante para fazer: nós dois celebraríamos nosso casamento às nove horas da manhã, pois à noite ela tinha outro evento marcante na vida de qualquer pessoa. Era a colação de grau do seu curso de História. Foi tanta emoção que eu senti quando ouvi Monsenhor Montenegro dizendo: “Carlos, eu te batizei e hoje estou te casando....” As lágrimas molharam minha face. Eram lágrimas de felicidade por estar vivendo aquele momento único na minha vida.

Alguns dos meus parentes gostavam de fazer uns tipos de brincadeiras desagradáveis com os jovens recém casados da nossa família. Para evitar que nós fossemos vitimas, espalhei para todos que iríamos passar os três primeiros dias no Hotel Municipal de Juazeiro, recém inaugurado. Mas um dos meus irmãos cedeu a casa dele, às margens da estrada Crato-Juazeiro. Então passamos três dias maravilhosos, com despesas zero, café, almoço, merenda e jantar enviados por minha mãe. Foi tão bom que até pensei em ficarmos assim para o resto da vida. Mas três dias depois, o trabalho me esperava.

Os laços do amor verdadeiro entre um casal são tão fortes que, como diz a Bíblia “o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher e os dois serão uma só carne”. Foi isso que aconteceu comigo e com Carlos, e logo após os três primeiros dias do nosso casamento, lotamos o bagageiro de um “fuscão branco” e partimos para enfrentar as estradas do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará com destino a Tomé-Açu no Pará, onde Carlos estava trabalhando na construção da estrada Tomé Açu – Paragominas.

Eu com vinte e três anos e ele com vinte sete nos sentíamos pronto para o início da construção de nossa família. Apesar de sair do conforto e da proteção da casa de meus pais e também morar numa cidade como o Crato, ótimo lugar para se viver, onde nasci e estava acostumada. Estava, portanto disposta a juntos superarmos as dificuldades que teríamos pela frente. As estradas sem asfalto eram o que iríamos encontrar e todos os perigos que poderiam ocorrer numa viagem longa. A nossa residência seria numa pequena aldeia, de casas construídas com madeira e localizada na floresta amazônica. “Quatro Bocas do Breu” era o nome desse lugarejo próximo da cidade de Tomé-Açu.

Mesmo enfrentando a falta de conforto, eu estava confiante e decidida a fazer Carlos feliz e, tinha certeza que também ele iria me fazer feliz.

Antes do nosso casamento Carlos já deixou nossa casa alugada. Era uma construção de paredes, piso e telhado de madeira que foi caiada de branco por iniciativa dele, para que se tornasse mais acolhedora. Delicadeza e sensibilidade de quem ama e quer agradar a pessoa amada. A confiança era grande tanto minha quanto dele que estávamos dando os passos acertados para nossa felicidade.

Eu já vivia longe de casa há mais de oito anos e, portanto estava acostumado a uma vida de dificuldades, agravada pelo desconforto e a falta dos entes queridos. Para Magali seria a primeira vez que sairia de casa, agora definitivamente para sempre e, isso me fez vislumbrar uma enorme responsabilidade. Então procurava tratá-la com todo carinho, não ferir sua sensibilidade, atitude mantida até os dias de hoje, quase trinta e oito anos depois.

Partimos do Crato para Tomé-Açu no dia quinze de dezembro, pois Carlos deveria estar em Belém no dia vinte. A despedida foi dolorosa, pois saí chorando, deixei minha mãe também chorando e meu pai e irmãos com saudades. Logo enxuguei as lágrimas, confiante seguimos viagem com a certeza de que facilmente me adaptaria a minha nova vida.

A falta de conforto começava no transporte: um fuscão apertado, repleto de bagagens, sem som e sem ar condicionado, mas nada disso nos afetava, pois a alegria e a confiança nos acompanhavam.

Como não havia som no carro, suprimos essa falta com um toca-fitas portátil. E haja Paulinho da Viola cantando: “minha viola vai pro fundo do baú”; Paul Mauriat com “L’amour est blue”. Ainda hoje, quando ouço a música “Mamy Blue”, sinto-me rasgando aquelas estradas ora poeirentas, ora lamacentas. Horríveis as estradas, inesquecíveis as músicas.

Saímos do Crato à uma hora da tarde, subimos a Serra do Araripe até o “Posto do Exu”, um posto de gasolina localizado antes de se descer a serra para Exu à esquerda e Araripe à direita. Na ladeira, próximo de Araripe uma pedra enorme bateu na barriga do carro e travou a caixa de marcha, de modo que tivemos de andar na terceira até Picos. Lá os mecânicos afirmaram que havia danificado a tampa seletora da caixa de marcha e só no Crato ou Teresina haveria conserto. A sorte é que de Picos até Teresina, a estrada já estava asfaltada, e eu havia trabalhado um ano antes no projeto dessa estrada, de modo que por conhecê-la bem, pudemos trafegar devagar e chegar à capital do Piauí, à uma hora da madrugada. Passamos a manhã do sábado em Teresina e às onze horas o carro já estava consertado. Almoçamos e continuamos a viagem. A estrada estava asfaltada até Peritoró, no Maranhão. De lá entramos numa rodovia sem pavimentação que nos levaria até Porto Franco na Belém – Brasília. Passamos por Presidente Dutra, uma cidade mais ou menos do porte do Crato. Como era ainda dia claro, resolvemos ir mais adiante, até Dom Pedro. Uma cidade velha, sem luz elétrica, cujo hotel era um casarão com banheiro e privada no fundo do quintal. O quarto em que nos colocaram tinha uma cama de casal da marca patente, colchão de estofo de algodão e era separado por uma meia parede dos demais cômodos da casa. Como vocês devem observar, aposento muito adequado para um casal em “lua de mel”...

No domingo viajamos o dia todo, e dormimos em Imperatriz, às margens da Belém-Brasília. No dia seguinte seguimos viagem até Paragominas. Lá almoçamos. Continuamos o restante da nossa viagem pela estrada de serviços da futura rodovia que estávamos construindo. Cem quilômetros nos separavam de “Quatro Bocas do Breu”, nosso ponto final, uma vilazinha de pouco mais de dez casas de madeira e o acampamento da construtora.

Quando avistamos a pequena casinha de madeira com os raios solares do cair da tarde deixando-a mais branquinha do que era, senti a emoção de saber que este seria o nosso lar. Mas nós moramos nela pouco mais de um mês e Carlos foi transferido para Goiás. Outra viagem de Belém até Brasília em estrada de terra.

Anos mais tarde, quando já morávamos no Crato, ao ouvir pelas rádios o cantor Gilson cantando: “Eu queria ter na vida simplesmente. Um lugar de mato verde. Pra plantar e pra colher. Ter uma casinha branca de varanda. Um quintal e uma janela. Para ver o sol nascer.” Lembrávamos dessa casinha de nossos primeiros anos.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo e Carlos Eduardo Esmeraldo

Banho de Amor.

Era uma vez um 31 de Julho
de 2010 que já começara dia 30.
E a "menina" que fazia aniversário
neste dia, recebeu um verdadeiro
banho de AMOR das colegas e amigas:
Socorro, Claude e Edilma; fora as comen-
ristas do Blog Cariricaturas.
Ainda respiro carinho,
Ainda sinto o cheiro da ternura,
Ainda bebo goles de afeto.
Hoje continuo sob o efeito
desses sentimentos; ou seja, repleta
de aconchego.
Ah! O AMOR!....

CLIQUE - Por Edilma Rocha

Lágrimas de cristal
que relutam em ficar imóveis
suspensas por um fio de firmeza
e carregadas de dor.
São belas, são frias,
são delicadas...
Acumularam no tempo a dor do esplendor,
da admiração, da fortaleza;
E que a um simples sopro
caem ao chão em estilhaços minúsculos
jamais unidos outra vez
Edilma Rocha

O silêncio e a mágoa - Por Edilma Rocha



noites e  dias vagando
na despedida que a muito se fez
não existe  novidade no  agora...
por trás do sorriso ,sempre existiu a lágrima
que se confundia no  fechar dos olhinhos acanhados..
a alegria era contagiante e superior à mágoa 
guardada à  sete chaves...
não podia ser tremula, medrosa e singular
precisava ser forte, corajosa e companheira de todos...
a paz era momentânea e aparente aos olhos alheios,
enquanto a agonia me consumia,
ardendo em chamas , por falta de revelação .
se havia um companheiro entre panos brancos e perfumados
era puro sonho escondido, e não brincadeira de gato e rato.
recebendo  a luz da manhã 
escapava ilesa das máculas ,que o sono na noite prendera ...
fugia furtivamente e sem barulho 
para encarar  mais um dia de rotina,
caseira e artística ,
que me ocupasse a tempo e a alma...
contos de emoções ? 
- faz  tempo não os vivo !


 por Edilma Rocha

A vida depois da vida - por Victor Hugo - Colaboração de Armando Rafael


“A VIDA DEPOIS DA VIDA”


“ Quando morreu, no século XIX, Victor Hugo arrastou nada menos que dois milhões de acompanhantes em seu cortejo fúnebre, em plena Paris. Lutador das causas sociais, defensor dos oprimidos, divulgador do ensino e da educação, o genial literato deixou textos inéditos que, por sua vontade, somente foram publicados após sua morte. Um deles fala exatamente do homem e da imortalidade e traduz-se mais ou menos nas seguintes palavras:

A morte não é o fim de tudo.

Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra.

Na morte o homem acaba, e a alma começa.

Que digam esses que atravessaram a hora fúnebre, a última alegria a primeira do luto.

Digam se não é verdade que ainda há ali alguém, e que não acabou tudo?

Eu sou uma alma.

Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser.

O que constitui o meu eu, irá além.

O homem é um prisioneiro.


O prisioneiro escala penosamente os muros de sua masmorra, coloca o pé em todas as saliências e sobe até o respiradouro.

Aí, olha, distingue ao longe a campina, aspira o ar livre, vê a luz. Assim é o homem.

O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade.

Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída?

Porque não possuirá ele um corpo subtil, etéreo, de que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro?

A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é desse mundo.

É por demais pesada para esta terra.

O mundo luminoso é o mundo invisível.

O mundo do luminoso é o que não vemos.

Os nossos olhos carnais só vêem a noite.

A morte é uma mudança de vestimenta.

A alma, que estava vestida de sombra vai ser vestida de luz.

Na morte o homem fica sendo imortal.

A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a Terra, pelo que faz nela.

A morte é uma continuação. Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade.

As almas passam de uma esfera para a outra, tornando-se cada vez mais luz, aproximando-se cada vez mais de Deus.

O ponto de reunião é o infinito.

Aquele que dorme e desperta, desperta e vê que é homem.

Aquele que é vivo e morre, desperta e vê que é Espírito.”

Brisa

Ao entrares nesta casa:
tira as sandálias,
bate os pés,
sacode os ombros.

Este lar é sagrado.

Apesar das fissuras nas paredes
das nódoas no teto
da poeira, dos bichos
e dos sonhos:
este lar é sagrado.

Se não gostas da minha voz
não suportas o meu silêncio
odeias minha poesia:

tira as sandálias,
bate com mais força os pés
e lança distante teus ombros.

Eu te darei um abraço em brasa
que te queimará a alma
e desabará tua mente
em frangalhos.

Se pensas meu inimigo
logo deixarás de sê-lo.

Reflete,
pois se vier
ao teu coração receio:

vai-te,
põe-te para fora

e leva com o vento
o suor da tua mão

que tocara
minha porta.

Tribo

Socorro, Claude e Emerson,

No livro eu me senti parte de uma tribo muito especial, caminhando com cada um dos autores, assim como na foto da capa.
Ainda uma vez me dei conta do quão raro e precioso é o acontecimento do livro em si, reunindo gerações, ultrapassando tempo e geografia.
Ficou muito bonito! Estou lendo aos poucos, saboreando a vida e os laços que há nele.
O modo como vocês cuidaram de tudo fala em cada detalhe.
Quem dera o mundo em que vivemos pudesse ser assim cuidado!

Grande abraço e mais uma vez obrigada!
Ana Cecília

P.S. Este livro é um abraço.

BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS

A história que Bisaflor conta agora reforça o dom essencial da tradição oral: a transmissão da força da palavra, que se faz presente através dos tempos. Essa história foi contada no livro “O dom da história: uma fábula sobre o que é essencial”, de Clarissa Pinkola Estés. No final da história, a autora considera que “o dom essencial da história tem dois aspectos: que no mínimo reste uma criatura que saiba contar a história e que, com esse relato, as forças maiores do amor, da misericórdia, da generosidade e da perseverança sejam continuamente invocadas a se fazerem presentes no mundo”.

O DOM DA HISTÓRIA

O amado Bal Shem Tov estava à morte e mandou chamar seus discípulos.
- Sempre fui o intermediário de vocês, e agora, quando eu me for, vocês terão de fazer os rituais sozinhos. Vocês conhecem o lugar na floresta onde eu invoco a Deus? Pois bem, fiquem parados naquele local e ajam do mesmo modo. Vocês sabem acender a fogueira e sabem dizer a oração. Façam tudo isso, e Deus virá.
Depois que o Bal Shem Tov morreu, a primeira geração obedeceu exatamente às suas instruções, e Deus sempre veio. Na segunda geração, porém, as pessoas já haviam esquecido de como se acendia a fogueira do jeito que o mestre ensinara. Mesmo assim, elas ficavam paradas no local especial da floresta, diziam a oração, e Deus vinha.
Na terceira geração, as pessoas já não se lembravam de como acender a fogueira nem do local da floresta. Mas diziam a oração assim mesmo, e Deus ainda vinha.
Na quarta geração, ninguém se lembrava de como se acendia a fogueira, ninguém sabia mais em que local exatamente da floresta deveriam ficar e, finalmente, não conseguiam se recordar nem da oração.
No entanto, havia uma pessoa que ainda se lembrava da história sobre tudo aquilo e a relatou em voz alta.
E Deus ainda veio.
**************************************************

Essa música é a cara de Nacélio . Ofereço-lhe !

Feliz Aniversário, Nacélio Oliveira !

LUIZ kARIMAI - um pintor - Edilma Rocha

Foi nessa passividade que o conheci.
Expressão de paz
a calma era uma caracteristia própria.
Dono de nuances de cores vivas e movimentos hilaricos
Sua pintura rica por desenhos arabescos e sonhos imaginados.
Um só trabalho seu compreendia uma vasta exposição
em valores e temas diversos.
Seu atelier era repleto de trabalhos que representavam
o seu prazer em pintar mesmo que que não saísse do seu lugar de direito,
suas próprias paredes...
Não lhe interessava a venda e sim o prazer da admiração.
A última exposição que tive a oportunidade de conferir
foi na inauguração do Sobrado do Dr. José Lourenço em Fortaleza,
e ali se aglomeravam a maior parte dos visitantes.
Sua pintura era de encher os olhos.
Me apaixonei por uma tela intitulada DILUVIO
mas pelo alto custo não pude adquirir o trabalho,
Acho que era a maneira de ficar com o quadro que considerei a sua
Obra-Prima.
Esteve e estará sempre entre nós apreciadores da arte
nas cores e nos desenhos inconfundíveis
Minha admiração e meu respeito ao verdadeiro artista.
Edilma Rocha

LUIZ GONZAGA - 21 ANOS DE SAUDADES - Por Marcos Barreto de Melo




A identidade de Luiz Gonzaga com o Nordeste e, principalmente, com a terra que o viu nascer, o torna indubitavelmente o maior símbolo do sertão. Luiz Gonzaga é a expressão mais viva e autêntica do homem sertanejo, de sua vida e de seus costumes. A sua obra é um patrimônio que transcende as fronteiras de Exu, no sertão de Pernambuco, para atingir toda uma Nação, além de constituir-se num documento histórico de significado inconteste, no momento em que registra os sentimentos e a alma dessa gente simples e sofrida da terra nordestina. Luiz Gonzaga é o sertão em corpo e alma. Como já disse o renomado mestre e folclorista Luis da Câmara Cascudo, "Luiz Gonzaga é um documento da cultura popular. Autoridade da lembrança e idoneidade da convivência. A paisagem pernambucana, águas, matos, caminhos, silêncio, gente viva e morta. Tempos idos nas povoações sentimentais voltam a viver, cantar e sofrer quando ele põe os dedos no teclado da sanfona de feitiço e de recordação". Luiz é uma bandeira do sertão nordestino que tremula no Brasil inteiro, no momento em que ele faz gemer os 120 baixos de sua sanfona branca. Uma sanfona mágica, de esperanças e recordações.
Luiz Gonzaga é a imagem do retirante nordestino, que foge da terra seca e exaurida pelo sol causticante da caatinga, deixando para sempre o seu tão pobre e querido torrão natal. Do retirante que vende tudo o que tem, que joga a família em um pau-de-arara e parte rumo ao Sul na busca ilusória de melhores dias. Luiz é o sertanejo que planta, replanta e não perde as esperanças de um bom Inverno. É o nortista forte e valente, mas que, chegada a hora de partir, esquece a sua rudeza nativa e se deixa levar pela emoção. É o caboclo que chora, quando se sente condenado a deixar o seu pedaço de chão.
Luiz Gonzaga é o vaqueiro das caatingas do Nordeste, de chapéu de couro, gibão e perneiras, destemido e forte como uma aroeira, que anda no coice da boiada e corre no carrasco, no marmeleiro fechado ou entre espinhos de mandacaru no encalço de uma rês desgarrada. É o vaqueiro que laça, derruba e domina uma rês enfezada. É o vaqueiro afamado e bom de campo que arranca aplausos da multidão nas festas de vaquejada quando, ligeiro como um corisco, derruba o boi mandingueiro e cobre a pista de poeira. Que acorda antes do sol e sai para o campo ainda de madrugada, que almoça farinha com rapadura, que bebe da água represada nas lagoas e que toma cachaça no chocalho. Luiz Gonzaga é o vaqueiro que, no cansaço da luta, descansa à sombra de uma barriguda e que, no fim do dia, junta o gado, sacode o pó do marmeleiro e vai para junto do seu bem.
Luiz Gonzaga é o caboclo da roça, homem simples e trabalhador, que acredita no canto agourento da acauã chamando a seca, no canto triste do vim-vim e na profecia do pássaro carão, que quando solta o seu canto é sinal de muita chuva no sertão. É o caboclo esquecido, de mãos grossas e calejadas e que traz o rosto marcado pela vida árdua do campo. É o roceiro que faz experiências com as pedras de sal, que espera ansioso pela barra do sol no dia de Natal e que só se convence da seca quando vê passar sem chover o dia de São José, o santo de sua devoção.
Luiz Gonzaga é o sertanejo de fé, que reza por uma chuva e pede a Deus pra não ter seca, que faz promessa ao Padim Ciço pra se curar de uma doença e que vai para as missões pedir uma bênção a frei Damião. É o caboclo que nasceu na caatinga e que dali não quer sair, porque para ele não existe lugar melhor. É ali que está enterrado o seu umbigo e é neste mesmo chão que ele quer morrer. Ser enterrado à sombra de um velho umbuzeiro, vestido de vaqueiro e com uma cruz de madeira amarrada com cipó, no meio da caatinga onde tanto aboiou e onde, infelizmente, o seu grito de aboio ficará para sempre esquecido.
Luiz Gonzaga é o morador de pé-de-serra, que trabalha de sol a sol durante toda a semana, mas que não abre mão de um samba de latada com o chão de barro batido e a luz mortiça do candeeiro, onde triângulo, zabumba e uma sanfona de oito baixos comandam a alegria. Um forrozinho onde a cabroeira brinca, dança e se diverte, enquanto a poeira sobe e o tocador, animado, vai castigando a sua concertina.
É o caboclo reimoso, esperto, brincalhão e prosista, com muitas estórias engraçadas para nos contar, com aquela maneira que lhe é particular.
Luiz Gonzaga é o caminho que nos traz de volta aos pés-de-serra do sertão nordestino através de xotes, baiões e toadas que tão bem retratam a nossa terra. Luiz é a energia que mantém viva em cada retirante a lembrança do seu longínquo sertão e a esperança derradeira de um dia ainda voltar para ele.
Luiz Gonzaga é tudo aquilo que emana do sertão. É a expressão de uma terra pobre e sofrida, ora seca e triste, ora verde e alegre. De uma terra esquecida e castigada, mas infinitamente bonita pela pureza de sua gente.
Luiz Gonzaga é a Asa Branca que volta correndo para o sertão quando ouve o ronco das primeiras trovoadas; é o cheiro gostoso da terra molhada; é o juazeiro com o seu eterno verde esperança; a peitica que, na copa do umbuzeiro, canta alegre com a chegada do inverno; é o riacho que corre vorazmente, arrastando árvores com as águas da primeira chuva; é o açude que sangra após anos de seca; é um fole velho gemendo numa palhoça, alegrando o São João na roça; é a rama verde da gitirana que, quando nasce, faz renascer o sertão.
Luiz Gonzaga é o filho de Januário que nasceu em Exu, em pleno sertão pernambucano, nas terras dos Alencar, e que aprendeu com o pai a puxada da sanfona. Luiz é aquele moleque que fugiu de casa em 1930, para tornar-se, um dia, o grande e insuperável Rei do Baião. Luiz Gonzaga é o sanfoneiro do Riacho da Brígida, de rosto redondo e riso largo, que deixou o sertão do Araripe para ser o dono de um reinado que não tem fim, posto que, o seu canto é eterno.

Marcos Barreto de Melo

Sonhos - por Socorro Moreira

madrugo
quando corro ao encontro da luz
o sonho se despede,
e parte numa nave azul
ficam cenas
olhares, sorrisos
e uma lágrima vertente
que molha  o dia
preciso dessa paz
que as auroras me trazem
minha cama me chama
pra mais um conto pirotécnico
onde as emoções brincam,
e se escondem,
no meu travesseiro,
num surto lúdico.

A menina diferente - Por Isabella Pinheiro


Laira era uma menina de 16 anos com dificuldade auditiva, precisava usar aparelho para escutar. Os pais dela moravam em uma cidadezinha perto de Belém e eram pobres, o pai vendia salgadinho e gomas de mascar, a mãe trabalhava em um mercado. O pai ganhava por dia valores diferentes e a mãe ganhava por mês 100 reais. O pai conseguiu um emprego de zelador em uma escola que pagava 465 reais em uma cidade longe, São Paulo. Ele pensou em sua filha Laira e achou que era uma boa para ela porque Laira poderia estudar em uma escola particular com a bolsa que ia conseguir. Só não pensou na dificuldade auditiva da filha. Eles alugaram uma casinha e fizeram a mudança. A casa era muito ajeitadinha tinha 2 banheiros, 3 quartos, 1 sala, 1 cozinha e um jardinzinho.

Eles ajeitaram toda a casa em dois dias. O pai foi para o trabalho e Laira para a escola. Ela pegou a agenda, a farda escolar e os cadernos. Chegando lá a professora abriu a porta e disse: bem vinda, mas eu não fui avisada que teríamos uma aluna nova. Qual o nome dela? Laira, ela disse. Quando entrou, todos foram recebê-la. Como era muito simpática, falou com todos e ninguém percebeu que ela tinha a dificuldade auditiva. Laira também conheceu a Viman que virou sua melhor amiga. Bruno, o menino mais bonito da sala estava gostando dela, mas Luciene ficou com muito ciúme e começou a investigar. Passou uma semana e ninguém notou. Uma terça-feira Laira foi de trançinha e Luciene observou o aparelho no ouvido dela, foi ao auditório, reuniu todo o colégio da 5ª para cima e disse: a Laira, aquela bonitinha e simpática que o bruno gosta, aquela tão inteligente tem um segredo: é MOUCA. Escuta em um aparelho sem graça, acreditem. Eu vou provar. Ela vem aqui pensando que é uma feira de ciências e vocês vão ver. Chamou Laira e ela entrou. Quando chegou perto da Luciene ela disse: gente, aqui está a mouca que usa um aparelho brega. Para escutar, Ela depende dele kkkkkkkkkkkkk todo mundo riu. Ela saiu correndo e foi ao banheiro. Viman ouviu tudo e foi consolar a amiga. Chegando lá Laira disse: eu não tenho culpa, todos me criticam, mas nasci assim. O aparelho foi a única solução para poder escutar algo. Eu daria tudo para ser como vocês, perfeita, do pé a cabeça, mais infelizmente eu não posso e vocês que podem não aproveitam. Eu tenho que me conformar porque sou assim, mas vocês não me ajudam, só me humilham. Laira correu antes que Viman pudesse dizer algo. Chegando em casa viu a mãe e a mãe tentou conversar com ela mais não houve jeito. Ela não queria mais ir a escola. Já tinha passado um mês e ela só comia pão e água todo dia . O pai decidiu voltar para a vida de antigamente, mas não tinha casa para eles irem, já tinha entregue a que eles moravam antes, que era alugada. Resolveram conversar com a diretora. O pai de Laira falou: bom dia senhora, estou aqui para fazer uma reclamação sobre os amigos da minha filha, principalmente pela deficiência dela. Me mudei para cá pensando em um futuro melhor para mim, para minha mulher e para minha filha, a Laira. Na 1 semana foi bem recebida mas ninguém sabia que ela tinha essa deficiência, então Luciene fez o favor de avisar a todos. Ela sofreu, chorou muito. A gente tem uma bolsa aqui e mesmo os bolsistas têm que ser bem tratados. A diretora olhou nos olhos da menina e disse: vou ter uma reunião com todos e conversarei sobre esse assunto.
A diretora se levantou e disse: bom se o caso é só esse, a conversa terminou e deu adeus acenando para o pai. Ele acenou de volta, pegou a menina pela mão e foi para casa. Chegando lá a menina falou: pai todos tem preconceito comigo. No dia seguinte ela foi para a escola e assim que entrou todos riram, menos o Bruno que, ao contrario, correu atrás dela. Luciene, que não estava gostando, disse: eu vou tirar essa mouca daqui.
Bruno correu antes e disse a Laira: olha, eu não me importo com isso, você é bonita, inteligente, compreensiva e muito mais. Para mim não faz diferença se você usa aparelho auditivo ou não. Quero ser seu amigo, te conhecer melhor. A menina olhou para ele, sorriu e ficou sem palavras. Então ela correu para sala de aula e sentou em um banquinho que tinha para esperar o sinal. Quando o sinal tocou, ela entrou e sentou em uma mesa que tinha lugar para dois. Assim que Bruno entrou se sentou lá e repetiu: eu quero muito te conhecer, você vai me dar essa chance. Ela olhou para ele sorriu.
Quando a aula terminou, como fazia todos os dias, Laira sentou em um banco perto da capela que ficava no final do colégio. Bruno sempre sentava em outro banco, perto dali.


Quando o pai dela foi buscá-la, depois de largar do trabalho, Bruno correu e deu um abraço nela e disse até amanhã. Ela ficou mais envergonhada e assim passaram dias e dias, semanas e semanas. Um dia, quando ela já estava solta com ele, falavam de tudo, ela estava na capelinha e ele no banco, a mãe dele chegou e antes dela se aproximar, o menino correu, tropeçou numa pedra e caiu em cima dela. Eles ficaram juntinhos e foram se aproximando e de repente se beijaram. Logo depois o pai chegou e disse: vamos filha. Eles pararam e se olharam e ela disse: tchau e ele respondeu até segunda, no sábado ele ligou para ela chamando para sair e ela aceitou. Foram para um restaurante e conversaram bastante. No domingo era a festa de Luciene. Ele ligou para laira ir com ele. Ela aceitou. Laira se arrumou, passou batom e botou uma linda roupa. Ele foi pegar ela e apresentou a menina a mãe e ao pai.
Ela estava linda e Luciene morreu de ciúmes. Outro dia ele chamou Laila para irem a uma chácara tomar banho de rio. Ela aceitou. Chegando lá tomaram banho e foram para umas rochas onde ele se declarou para ela. Ela respondeu que sempre gostou dele e se beijaram.
Lição da história: todos nós somos iguais
Não importa se tem deficiência ou não, todos somos iguais.

Pérola da MPB . Adoro Aldir Blanc !

Resposta Ao Tempo
Aldir Blanc

Batidas na porta da frente
é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter
argumento
Mas fico sem jeito, calado
ele ri
Ele zomba de quanto eu chorei
porque sabe passar
e eu não sei

Num dia azul de verão sinto vento
há folhas no meu coração é o tempo
recordo um amor que eu perdi
ele ri
Diz que somos iguais
se eu notei
pois não sabe ficar
e eu também não sei

E gira em volta de mim
sussurra que apaga os caminhos
que amores terminam no escuro
sozinhos

Respondo que ele aprisiona,
eu liberto
Que ele adormece as paixões
e eu desperto
E o tempo se vai com inveja
de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
me esquecer

As palavras e o mito




Irmão

Estrondeia livremente por onde passa.
Tivesse botas de sete léguas
Seria o jaburu planando sobre as águas.
Sabe a gabiroba no entardecer,

Sabe o beiço roxo da amora.
Tudo festagens da felicidade.
Quer rasgar todas as palavras,
Sabe o nome das coisas sem palavra no meio.

É um gigante que ninguém sabe,
Mato sabe e comunga.
Nasce um lago onde pisa
Com bagres e tizius floridos.

É criança e chora com todos os dentes
E ri com todos os olhos.
Tem doze olhos na ponta dos dedos,
Mais um para ver por dentro.


Irmã

Sentava no jardim.
Mastigava pétalas de rosa,
Comia bocados de terra,
Alguma raiz.

Quebrava caracol nos dentes,
Saboreava.
Estudava horas com o sapo
Meneios da língua,

Palavra em larva.
Atrás de casa desovava
Uma lagarta de fogo.
A pedra floresce do limo,

Do meu cuspe verde-negro.
Comia um carreiro de formigas.
Formiga na língua esperta a palavra,
Palavra com gosto de formiga inebria.

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Estes poemas têm dez anos mais ou menos.