Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 2 de janeiro de 2010

Plural singular
- Claude Bloc -


o papel e a caneta
buscam as mãos
a imagem, a foto
o olhar perdido
entre os sonhos
e os vãos...

escrevo
em plural singular
como mulher
menina alada
e
apresento-me
a qualquer momento:
sou
a semente
deste sentimento
que hoje carrego
seja lá onde eu for.
.
Claude Bloc
.
Serena parte
- Claude Bloc -

Vou no compasso
Descalça e confusa
Um passo na pedra,
na água, no chão.

Vou no caminho,
na estrada da vida
Na terra batida
no seixo do rio
Sou lava ou vulcão?

Vou como o sol
como a rocha
e a água
sou a serena parte
de um todo, sem fim.

Sou a profunda clareza
e a confusão
me encerro sem pressa
em infindáveis certezas
pois
sou o avesso
da noite e da vida
teu lado direito
o extremo do mínimo;
sou a menor parte
o oposto mutante
o amor constante...

Sou a pedra do rio
o sol e a lua
sou a tempestade,
da noite o clarão
e vou no compasso
descalça e cansada
um passo na pedra,
na água, no chão.


Claude Bloc

Senhora D


Marcílio Godoi

(...)
O que esperais de um Deus?
Ele espera dos homens que O mantenham vivo.
E os verdes, os azuis, o chumbo delicado
De umas tardes, a pureza das aves
Os peixes de verniz
Na abertura mais funda de umas águas.
(...)
(Hilda Hilst, "Passeio")


Tenho três galinhas", disse certa vez a professora de aritmética à menina Hilda Hilst. "Uma delas, enquanto eu estava caminhando, se perdeu. A outra, morreu. Quantas galinhas sobraram?". .

A garota, então, desandou a perguntar: "Mas por que a galinha morreu? E a outra? Como se perdeu?". Ela queria a história da galinha perdida, morta, não matemática. Então pediu à mãe que dissesse à freira que a filha era meio doente da cabeça. Mais tarde, a menina viraria mulher. Não temia que a chamassem de louca.

Diziam que era obscena, confundindo-a com uma de suas personagens, a Senhora D, alegando ser temerário unir o baixo calão à mais alta poesia. Mas nela isso não é nada menos que perturbador. O grotesco e o sibilino são como personagens de sua obra. Achava pensar um ato jubiloso e achou nas palavras denken ("pensar") e danken ("agradecer") a prática que as une etimologicamente no alemão e também no inglês.

Arquiteto e jornalista, autor do Pequeno Dicionário Ilustrado de Palavras Invenetas (Sagui, 2007)

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Quando partes parecem o todo

José Luiz Fiorin

Gregório de Matos tem um belo poema sobre as relações entre parte e todo (Péricles Eugênio da Silva Ramos (org.). Poesia Barroca. Melhoramentos, 1966:35):

O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo,

Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em qualquer parte,
Em qualquer parte sempre fica todo.

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,
Um braço que lhe acharam sendo parte,
Nos diz as partes todas deste todo.

Esse soneto estrutura-se sobre uma antítese (parte vs todo), que, ao longo do poema, desfaz-se, já que nele se afirma que a parte é o todo. Expõe-se uma interessante concepção medieval acerca das relações entre a parte e o todo, presente na doutrina católica sobre a Eucaristia. A parte não é fração de um conjunto, mas símbolo dele, ou ainda, mais precisamente, é equivalente ao todo, representa-o.
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Assim, quando se divide a hóstia, nela não está presente um pedaço do corpo de Cristo, mas está o corpo inteiro. O que se parte é só a expressão (a hóstia) de um conteúdo incomensurável e indivisível (o corpo de Cristo). O poema mostra que a antítese existe no nível da expressão, enquanto, no do conteúdo (corpo de Cristo), a parte contém o todo, é o todo. Por outro lado, a concepção da relação entre parte e todo conduzia a outra interessante noção. Na época, não existia o conceito de individualidade..

A pessoa, enquanto tal, não tinha valor pessoal nem direitos individuais. O que lhe dava valor, direitos e privilégios era o grupo social a que pertencia. Quanto mais alto o valor do grupo, maior o da pessoa. Por outro lado, o homem representava todo o grupo a que pertencia. Se cometia um erro, praticava um crime, maculava, desonrava toda a corporação [...].

José Luiz Fiorin é professor de Linguística da USP e autor do livro Em Busca do Sentido: Estudos Discursivos (Contexto)

Fonte: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11907

Canção das Mulheres - Lya Luft


Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

Lya Luft

Santa Terezinha



Teresa de Lisieux, Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, ou Santa Teresinha (1873-1897)
A francesa Marie Françoise Thérèse Martin (Maria Francisca Teresa Martin), nasceu no dia 2 de janeiro de 1873, em Alençon, na França, filha do ourives Luis José Estanislau Martin e da artesã Zélie Guéri. era a caçula de uma família com nove (9) filhos: Maria Luisa, Maria Paulina, Maria Leônia, Maria Helena (faleceu aos 4 anos e meio de idade), José Maria Luis (faleceu aos cinco meses de vida), José Maria João Batista (faleceu antes de completar nove meses de nascimento), Maria Celina, Maria Melânia Teresa (falecida aos três meses de idade) e ela, Terezinha.

Quando nasceu, era muito franzina e doente. Desde o nascimento exigia muitos cuidados. Desde cedo, revelava-se marcada pelo senso de amor, pelo semblante de serenidade e pelo contentamento de sua alma com a grandeza de Deus. Aos 2 anos já pensava na idéia de ser religiosa, para a alegria de sua mãe, mas para o desconsolo de seu tio Isidore Guérin (seu futuro tutor sub-rogado).

A família

Pai
Em agosto de 1876, a Sra. Zelie toma conhecimento de que padece de um câncer. Quando ela falece, o Sr. Martin muda-se com as quatro filhas para Lisieux em 1877.

A prematura morte de sua mãe, quando ela tinha 4 anos fez com que ela se apegasse a sua irmã Pauline, que elegeu para sua "segunda mamãe". A repentina entrada dessa irmã no Carmelo, fez a jovem Thérèse, adoecer. Curada pela ‘Virgem do Sorriso', imagem da Imaculada Conceição que seus pais tinham afeição, tomou uma forte resolução de entrar para o Carmelo.

Entrou para ser aluna na Abadia das Beneditinas de Lisieux, e lá permaneceu por cinco anos, porém após sofrer muitas humilhações, de lá saiu e passou a receber aulas particulares.

Quase ao completar 14 anos, no Natal de 1886, Teresa passa por uma experiência que chamou de "Noite da minha conversão". Ao voltar da missa e procurar seus presentes, percebe que seu pai se aborrece por ela apresentar comportamento infantil. A menina decide então a renunciar a infância e toma o acontecido como um sinal inspirador de força e coragem para o porvir.

Carmelo..

Seis meses depois, Próximo de completar 15 anos, Teresa decide que quer entrar para o Carmelo de Lisieux -Por isso, é carinhosamente chamada de Terezinha de Lisieux - (Ordem das Carmelitas Descalças). Como a pouca idade a impede, é levada por familiares, em novembro de 1887, para uma audiência com o Papa, em Roma, para pedir a exceção. Em abril do ano seguinte é aceita. Concedida a autorização ingressou em 9 de abril de 1888 e tomou o nome de Thérèse de l´Enfant Jesus.

Fez sua profissão religiosa, em 8 de setembro de 1890, e tomou o nome de Thérèse de l´enfant Jesus et de Sainte Face, mas ficou conhecida pelos franceses após sua morte como Thérèse de Lisieux.


Inclinada por temperamento à calma e a tristeza, Thérèse com lindos olhos azuis, cabelos louros, traços delicados, alta e extraordinariamente bonita, quando escrevia no seu diário “Oh! Sim, tudo me sorrirá aqui na terra”, era uma época em que estava experimentando injustiças e incompreensões. Já atingida pela tuberculose pulmonar, debilitada nas forças, não rejeitava trabalho algum e continuava a “jogar para Jesus flores de pequenos sacrifícios”.

Após seis anos na ordem, em 1894, almejando o caminho da santidade, Teresa percebe que não conseguiria pelas tradicionais mortificação, disciplina e sacrifício observadas pelos santos a quem se dedica a estudar. Inspirada nas palavras de um padre, Teresa adota a "Pequena Via", um caminho pequeno e reto para a santidade, que consiste simplesmente em se entregar ao amor de Jesus Cristo, para que Ele conduza pelo caminho.

Faleceu em 30 de setembro de 1897, com apenas 24 anos. Disse, na manhã de sua morte: “eu não me arrependo de me ter abandonado ao amor”. No dia 4 de outubro de 1897, foi sepultada no cemitério de Lisieux.

Sua obediência era a prova de que se fazia a menor entre as menores. Sua irmã, Paulina, também carmelita, publicou em 1898 os escritos autobiográficos de Santa Teresinha, intitulados "História de uma alma".


Ficou conhecida pelo seu amor ao Menino Jesus, seguramente pelo que escreveu nos seguintes termos: “Eu havia me oferecido a Jesus Menino como um brinquedo, e lhe havia dito que se servisse de mim como uma coisa de luxo, que as crianças se contentam em guardar, mas como uma pequena bola sem valor, que ele pudesse jogar na terra, empurrar com os pés, deixar em um canto, ou também apertar contra o coração, quando isso lhe agradasse. Numa palavra queria divertir o Menino Jesus e abandonar-me aos seus caprichos infantis.”

No dia 17 de maio de 1925, Teresinha foi canonizada pelo Papa Pio XI. O mesmo Papa a declara Patrona Universal das Missões Católicas em 14 de Dezembro 1927. Por ocasião da celebração do Centenário de sua morte, em 19 de Outubro de 1997, o Papa João Paulo II a declarou “Doutora da Igreja”.
DATA COMEMORATIVA:

A memória de Santa Terezinha merece ser resgatada como exemplo cotidiano. Todavia, o nosso calendário reserva o dia 01 de OUTUBRO como data especial em sua homenagem.
ORAÇÃO DE SANTA TEREZINHA


A Vós, Santa Terezinha
Através das Vossas súplicas e do Vosso exemplo de santidade,
Intercedeis para que fiquemos sempre mais perto do Senhor Jesus,
E fazeis com que as vossas preces, sempre tão agradáveis ao Menino Jesus,
Descortine nossa visão, para que possamos contemplar a face do Justo Senhor
E para que, assim, sejamos abençoados em nossa caminhada de fé.

Assiste-nos, meiga e afetuosa eleita, para que o Senhor Jesus,
Estendendo sobre nós a resignação dos justos,
Faça prosperar em nossas almas a virtude do amor.
Rogamos, ainda, que pela força do nosso clamor,
Sejamos amparados pelo teu obsequioso auxílio
Que o Senhor Jesus, com a vossa insigne intervenção,
Mantenha-se a controlar nossas alegrias e aflições,
Dando-nos o firme impulso para a nossa vocação missionária.
Amém.

http://victorpalmeira.sites.uol.com.br/orar.htm

Parla !

Pois é , amigos ouvintes, após o capão minguado do Natal, a Cidra espumante nos copos descartáveis , o ribombar das bombas rasga-latas, os presentinhos (de coração) do “Mundão do Real” e os abraços e preces dos familiares , eis , por fim, que mergulhamos nas esperanças de 2010.O ritual de passagem adocica um pouco o amargor passado e entreabre no nosso espírito as venezianas para um novo tempo. É como se passássemos o apagador no quadro negro e o deixássemos virgem , ávido por novas aquarelas. As mãos cerradas durante todo o ano se abrem para o aperto fraternal, os cenhos graves desarmam-se. Todos, de alguma maneira, descobrem a mágica possibilidade do recomeçar. Termina-se por se fazer também um balanço de cada vida, computando-se perdas e receitas, não na área financeira, mas na nossa fina contabilidade interior. Aprende-se com as derrotas , é certo, mas antes de tudo, a passagem de ano administra-nos o bálsamo encantador do esquecimento. O passado cai em exercício findo e esvai-se perdido na sua implacável imutabilidade. O Ano que se inicia surge, sempre , brilhante à nossa frente, como um eldorado perfeitamente visível e alcançável.Esmaecem-se as agruras passadas, as decepções , os devaneios antigos, as ilusões plantadas no inverno anterior e que feneceram antes da colheita prevista. A vida apresenta-se adiante como uma massa de moldar esperando que nossas mãos sábias lhe dêem a forma e o sopro criador: “Parla !”
Este ar de início de jornada, propiciado pelo Ano Novo, torna o caminho cheio de surpresas e expectativas. Talvez, seja por isso mesmo, que medram, nesta época, as pitonisas, os videntes, os Nostradamus. Todos se arvoram de adivinhadores, como se fosse factível prever o destino de um sem número de estradas possíveis que serão abertas , pouco a pouco, por incontáveis operários , através da vária lâmina do sonho e do volúvel gume da vontade humana.Alguns ficarão inevitavelmente à beira do caminho, poucos atingirão a meta traçada e a grande maioria aguardará outros anos e outros recomeços: esta é a única previsão infalível para 2010.
O mais importante de tudo : não perder a dimensão do ritual. A essência da vida resume-se no sonho e não no despertar.O encanto da procura é bem mais completo que a visão efêmera e orgásmica do encontrar.No fundo , talvez, a existência seja apenas uma quimera, um simples devaneio, um sonho com suas fantasias , seus fantasmas, suas oníricas alegrias , vezes com seus pesadelos tremendos e que acaba quando nossa bêbada individualidade se mescla à força sonhadora de toda a natureza. Aí sonharemos junto com todo o universo.

J. Flávio Vieira

Divisórias - por Ana Cecília S.Bastos


Tenho palavras esvisceradas.
Caracóis que nada queiram contar,
para que ainda eu seja em algum lugar
secreta.
Tudo que eu sei de mim permanece
incomunicável.

Quero é ficar em desvãos
entre as telas desse micro,
navegar entre telas,
tudo sempre igual e se criando
em caracóis,
sem nunca o outro.
Ana Cecília
Serra Verde
- por Claude Bloc -

Serra
Sinuosa lembrança
Arfando saudades.
Dias insanos
De trancos e troncos
Noites serenas
Lua faceira
Sol inquieto
Doce aragem.

A vida passa nessa serra
Onde não mais estou...
Sussurros sibilam
Por entre a folhagem
Em busca de mim

Serra Verde
Serra
Verde
Ver-te
Como eram os sonhos
Como era a vida
Dessa criança
Que fui
Que sou.
.
***
Texto: Claude Bloc
Foto: Bertrand Bloc