Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

domingo, 14 de fevereiro de 2010

É tempo de manga? - Por Claude Bloc

Quando é tempo de manga, a manga aparece em todo lugar.
Quando é tempo de manga, a manga dá cor ao verde cansado de um ano inteiro...

A manga espera, na sombra da tarde, pelos olhos gulosos de menino danado.

A terra salpica, de areia, a manga e a chuva respinga o gosto na boca.

... E a manga espera a mão que a apanha, na terra chovida.

... E a manga se esgueira atrás do capim.

No pé, já madura, a manga aguarda seu tempo e adoça vontades com o sumo e a polpa.

No chão se estatala e rasga os desejos da manga gostosa: coité ou jasmim?

Texto e fotos por Claude Bloc
Transparente
-Claude Bloc -
Sou vidro,
sou água,
sou vento,
sou ar.
Sou tudo o que quero
um ser dividido
translúcido
insípido.

Estou transparente
e ao tempo me entrego,
desfeita,
refeita
e inteira
resisto.

O sol me atravessa
como ao vidro
mais puro
e sua luz me cerca,
antes que o brilho se perca.

E quando amanheço
sou vidro ou cristal,
sou água
sou vento,
sou ar...
por isso não me vês
porque estou transparente
e cega
e muda
de tanta saudade.

.Claude Bloc


A Desconfiança do Cearense - Recebido por e-mail

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de tanto ouvir falar dos CEARENSES,
decidiu convidar um grupo deles para visitar os Estados Unidos. Para mostrar o quanto desejava conhecer os CEARENSES, ele mandou o seu próprio avião apanhá-los em Fortaleza e, ainda, preparar uma grande recepção no hangar presidencial, onde foi instalado um palanque, com banda e cartazes de boas-vindas.
Quando o avião chegou, a banda começou a tocar, os coros a cantar, abriu-se a porta do avião, mas os convidados... não desceram. O presidente, sem entender a demora, mandou seu secretário averiguar. O secretário foi ao avião e regressou dizendo ao presidente: "Senhor,
os CEARENSES não querem descer porque estão com medo do Wel". O presidente, mais confuso ainda, perguntou ao Secretário: "Mas, quem é Wel"? Para saber quem era, o Secretário regressou ao avião e disse aos CEARENSES: "O Presidente quer saber quem é Wel"? E o porta-voz do grupo responde: - Nós também não sabemos. Mas, naquele cartaz tá escrito:
WELCOME CEARENSES...

Comida (Desejo, necessidade, vontade)

por Vera Barbosa

Há coisas sobre as quais refletimos que em nada mudarão nossa vida, justamente porque não podemos encontrar as respostas, mas que nos deixam completamente intrigados. O ovo por exemplo. Quem descobriu que era possível comê-lo, frito ou cozido, utilizá-lo em massas de pães, bolos, tortas ou em um bela fritada com bacon e queijo? Aquele ovinho mexido, no café da manhã, recheando o pão francês? Ou, ainda, para fazer sorvetes, sobremesas e utilizá-lo em neve? Quem bateu a primeira clara e constatou que ficaria do jeito que fica? Que preocupação mais desinteressante, deve estar pensando o leitor. Acontece que tenho trabalho demais e, consequentemente, me alimentado muito mal; então, hoje, acordei com uma tremenda vontade de um arroz fresquinho enfeitado com um ovo frito, a gema mole constratando sobre o branco. Daí, na hora do almoço, enquanto saboreava meu tão simples - mas não menos apetitoso - desejo, divaguei na vã filosofia.

Ao terminar a refeição tão aguardada, depois de pensar nisso tudo, vim para o computador a fim de pesquisar as curiosidades sobre o útil alimento, comumente utlizado pelas famílias brasileiras. Descobri, dentre outras coisas, que o calendário marca 8 de Outubro como o Dia Mundial do Ovo. Vejam só, assim como as mulheres, os afrodescendentes e as enfermeiras, dentre outros, o ovo também tem seu dia "por ser um dos alimentos mais versáteis e necessários do mercado. Não é menos nutritivo que a carne ou o peixe e é rico em proteínas que são essenciais para a construção e reparação dos tecidos". Há quem diga que "o consumo de ovos faz mal à saúde, prejudicando os níveis de colesterol. Contudo, estudos científicos provam que, numa pessoa saudável, cerca de 4 a 5 ovos por semana não provocam qualquer aumento dos níveis de colesterol". E, controvérsias à parte, a gemada continua levantando a moral de muita gente por aí.

E, por ter tanto a oferecer, o ovo é o ovo. E vem da galinha. E ela, como fica? Será que faz ideia do seu valor? Ora, uma galinha é uma galinha, vão me dizer. O que importa a pobrezinha? E eu respondo: o ovo é produção independente dela. E ela, como fabricante, deveria receber participação efetiva dos lucros ou, ao menos, ter um dia só dela. Afinal, ela guarda e expele o produto, o prepara para nosso prazer. Partindo-se desse princípio, a galinha não é, meramente, uma galinha. E o ovo tem identidade, sabia? Da mesma forma que os indivíduos têm seu RG, "o produto tem um código identificativo do país de origem, do modo de produção, da região agrícola em que é produzido e do respectivo aviário. Uma informação que permitirá ao consumidor optar por ovos nacionais ou de outro Estado-membro, por ovos provenientes da produção biológica, das galinhas ao ar livre, das galinhas no solo ou das galinhas de aviário." (Sem o nome da coitada da galinha) O passaporte do alimento, seu “bilhete de identidade”. Portanto, já deve haver ovos com dupla cidadania; daqui a pouco, estarão clonando os maiores e mais bonitos, enquanto a galinha ignora todo esse cartaz e permanece, anônima e clandestinamente, dando duro no cenário ovulístico. Como ficam seus direitos autorais? Portanto, ovos e galinhas têm suas peculiaridades e as desigualdades, nesse universo, também existem.

Moral da história: há mais mistérios sobre a galinha e o ovo do que julga nosso apetite cotidiano.

*** Curiosidades sobre o ovo:
- Em média, uma galinha poedeira põe 300 ovos/ano.
- Os maiores exportadores mundiais de ovos são os Países Baixos; no entanto, se excluirmos as operações comerciais entre os países da UE, os Estados Unidos são o maior país exportador.
- A Alemanha é o maior importador de ovos.- O consumo de ovos difere de país para país. Segundo a ANAPO, as estatísticas de 2003 revelam que, cada português consome, em média 168 ovos por ano, quantidade ainda reduzida, se considerarmos a média da União Europeia, que atinge 213 unidades, ou o consumo per capita do Japão (330) e no México (303).
- Sabia que um ovo de avestruz corresponde a uma dúzia de ovos de galinha?!- A cor do ovo da galinha pode variar entre o branco e o castanho, tudo depende da sua raça. Não dê importância à cor do ovo, pois esta não influencia a sua qualidade.
- Sabia que a gema do ovo tem outra denominação? Chama-se, também, vitelo!- Sabe como fazer para verificar se o ovo está fresco? A resposta é não?! Nós explicamos. Comece por colocá-lo dentro de um copo como uma solução de água e sal. Se o ovo estiver fresco irá até ao fundo; se ficar a meio do recipiente significa que tem cerca de 4 ou 5 dias; se flutuar na água é sinal que não deve ser consumido. É também possível avaliar a frescura de um ovo depois de cozido. Se este for fresco a gema aparecerá centrada.

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Nota: As frases entre aspas e as curiosidades sobre o ovo foram extraídas do artigo de Cátia Pina, baseado em dados do Instituto do Consumidor, International Egg Commission e Revista Farmácia e Saúde.
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*** O ovo e a galinha
O ovo ou a galinha é uma referência a um dilema de causalidade que surge da expressão O que veio antes, o ovo ou a galinha?. Considerando a galinha nasceu do ovo e o ovo foi colocado pela galinha, é difícil determinar o responsável pela criação original. De acordo com a teoria da evolução, a resposta do paradoxo, é que o ovo veio primeiro. Deve-se considerar que o ancestral da galinha (ainda não é uma) botou o ovo com a mutação que resultaria a moderna galinha. Esta por sua vez, apenas perpetuou essas mutações. Se fizer a mesma pergunta a esse ancestral, chegaremos ao ser mais primitivo que deu origem a toda a vida. Segundo a teoria criacionista, a galinha veio antes, criada por Deus no início dos tempos. Do ponto de vista da biologia, o ovo é o Zigoto dos animais. É uma célula que se forma após a fusão do núcleo do óvulo (pronúcleo feminino, haplóide) com o núcleo do espermatozóide (pronúcleo masculino, haplóide) por cariogamia, o que dá origem à célula diplóide denominada ovo ou zigoto.

Nos Seres Humanos, bem como na maioria dos mamíferos, para que esta célula se forme é necessário que um espermatozóide “atravesse” a zona pelúcida (que reveste o ovócito II e o 1º glóbulo polar) de modo a “introduzir” o seu núcleo no ovócito II que se encontra em metafase II — Fecundação. Em virtude deste “estímulo” termina a meiose originando o óvulo e o 2º glóbulo polar (que irá degenerar juntamente com o 1º glóbulo polar anteriormente formado). Como agora no interior do óvulo se encontra o seu pronúcleo (pronúcleo feminino) e o pronúcleo masculino (oriundo do espermatozóide), vão-se fundir (cariogamia) originando o ovo ou zigoto (diplóide). Algo fundamental na reprodução sexuada. Mórula resulta das mitoses sucessivas a partir do ovo, originando um embrião com mais de 16 células. Já o blastocisto resulta da mórula que depois de sofrer cavitação, apresenta conteúdo líquido no seu interior.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Nota da autora: Quem sabe, num próximo texto, escrevo sobre óvulos e testículos? Daí, uno a fome à vontade de comer.

água pura

Não tenha medo de voar,
não há outra forma:

quando finda a luz
a sombra vai embora.

Parta de vez
sem querer trégua.

Esqueça os cigarros
se um dia houvera.

Os livros, os discos
nem pense em buscá-los.

Abra firme a porta,
deixe o vento atravessar seu rosto.

Não tem jeito,
quando amanhece
as estrelas acabam dormindo.

Apesar de julgarem mortas
não creia nesse absurdo.

As estrelas como os amores
perdem o brilho um dia

mas acordam mais vivos
amanhã em outros olhos.

domingo de carnaval

Quando se aperta inadvertidamente
o tubinho de detergente da cozinha
e sobe repentina aquela bolinha colorida
penso nas coisas simples carregadas de simbolismo.

O assovio ofegante que faz tremer a língua,
o mero agachar-se para vestir uma cueca,
o desodorante dando um banho de gato nas axilas.

Ao nosso redor reina uma cumplicidade momentânea
que não tem hora para acabar nem dia certo para o milagre.

As plantinhas da varanda
não desejam apenas chuva do regador de plástico
também lhe pedem companhia e um silencioso zelo.

Um rosto na multidão – por Carlos Eduardo Esmeraldo

Alguém me enviou por e-mail essa fotografia de uma grande demonstração de fé do povo cratense. Não acrescentava nenhum esclarecimento sobre o evento, assim como não identificava os rostos de pessoas conhecidas que aparecem participando desse grande encontro. Que festa seria essa? Vou fazer minhas conjecturas Se alguém que nasceu antes da década de 1950 se lembrar dos detalhes, por favor, me corrija. Vou atirar no escuro, pois dos presentes tenho plena certeza do rosto de um homem que me é muito caro.

O local é fácil de identificar: é a Praça da Sé, depois de 1953, pois ela recebeu a configuração que possui hoje após o centenário da cidade. Lembro-me vagamente como a Praça da Sé era antes: apenas um quadro coberto por uma densa camada de capim de burro onde a rapaziada jogava futebol à tardinha e durante as manhãs por lá pastavam ovelhas, cavalos e algumas vacas.

Que evento seria esse? Vou arriscar dando vários chutes. Acredito que o ano deveria ser 1955 ou 1956. Vemos uma procissão do Santíssimo Sacramento, provavelmente em direção ao palanque centro de uma festa celebrativa. Seria o cinqüentenário de ordenação do Bispo Dom Francisco de Assis Pires?

E que pessoas conhecidas que vemos em primeiro plano? Identifiquei apenas o Padre Antonio Feitosa, o famoso Monsenhor Feitosa, uma das maiores culturas do clero cearense. Por trás um seminarista. Não será outro, senão Huberto Cabral? No cantinho da direita, à frente da mocinha de véu, destaca-se a imagem de um senhor austero de paletó e gravata, usando óculos. Foi por causa dele que alguém me enviou essa foto. Este á a pessoa que me é muito cara. Vocês advinham quem é?

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Pensamento para o Dia 14/02/2010



“As pessoas têm educado os olhos, os ouvidos e a língua para o luxo da novidade constante. Agora, você deve ensinar-lhes as tendências opostas. A mente deve estar voltada ao bem e as atividades de cada minuto devem ser examinadas a partir desse ponto de vista. Cada ação é um entalhe pelo qual a rocha da personalidade humana está sendo esculpida. Um golpe errado pode danificar e desfigurar a rocha. Portanto, faça com grande cuidado e devoção mesmo o mais ínfimo dos atos.”
Sathya Sai Baba

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“Se no momento da morte você anseia por atender à língua, isso é prova de que a língua tem sido a mestre de sua vida. Se no momento da morte, uma mulher se lembra de acariciar seu filho, as tendências e ações (Samskara) do amor filial são predominantes nela. O resultado final da vida é o que vem a sua memória durante os últimos momentos de sua vida. A morte é inevitável para todos. Dirija sua vida para a aquisição das tendências e ações (Samskara) que você sinta que sejam o melhor para o último momento. Fixe sua atenção sobre isso dia e noite. Empenhe-se na jornada da vida com boa vontade para com todos, buscando a companhia dos bons e dos piedosos. Mantenha sua mente sempre fixa no Senhor.”
Sathya Sai Baba

Quem são o Pierrô, o Arlequim e a Colombina ?





São personagens de um estilo teatral conhecido como Commedia dell’Arte, nascido na Itália do século XVI. Integrantes de uma trama cheia de sátira social, os três papéis representam serviçais envolvidos em um triângulo amoroso: Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina. O estilo surgiu como alternativa à chamada Commedia Erudita, de inspiração literária, que apresentava atores falando em latim, naquela época uma língua já inacessível à maioria das pessoas. Assim, a história do trio enamorado sempre foi um autêntico entretenimento popular, de origem influenciada pelas brincadeiras de Carnaval. Apresentadas nas ruas e praças das cidades italianas, as histórias encenadas ironizavam a vida e os costumes dos poderosos de então. Para isso, entravam em cena muitos outros personagens, além dos três mais famosos.

Do lado dos patrões, por exemplo, havia um comerciante extremamente avarento (chamado Pantaleão), um intelectual pomposo (o Doutor) e um oficial covarde, mas metido a valentão (o Capitão). Outros personagens típicos eram o casal Isabella e Orácio (em geral, filhos de patrões) e outros serviçais. Apesar de obedecerem a um enredo predefinido, as peças tinham a improvisação como ingrediente principal, exigindo grande disciplina e talento cômico dos atores, que precisavam responder rapidamente às novas piadas e situações criadas pelo colegas.

"Até hoje, a Commedia dell’Arte é um método de grande riqueza para o aprendizado e o treinamento do ator", afirma a atriz Tiche Vianna, formada pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP), com especialização em Commedia dell’Arte pela Universidade de Bolonha e Florença, na Itália. Um detalhe interessante é que sempre havia, no meio do espetáculo, um intervalo chamado lazzo, que podia ter mais comédia, apresentar acrobacias ou sátiras políticas sem qualquer relação com o enredo. Terminado o lazzo, a história continuava do ponto em que havia sido interrompida. Com esse estilo único, a Commedia dell’Arte influenciou a arte dramática de toda a Europa.

Entre tapas e beijos
Intriga amorosa e sátira social eram os pratos principais da antiga comédia italiana
Pierrô

Seu nome original era Pedrolino, mas foi batizado, na França do século XIX, como Pierrot e assim ganhou o mundo. O mais pobre dos personagens serviçais, vestia roupas feitas de sacos de farinha, tinha o rosto pintado de branco e não usava máscara. Vivia sofrendo e suspirando de amor pela Colombina. Por isso, era a vítima preferida das piadas em cena. Não foi à toa que sua atitude, sua vestimenta e sua maquiagem influenciaram todos os palhaços de circo

Pantaleão

O mais conhecido dos personagens patrões, que representavam a elite da sociedade italiana nas histórias da Commedia dell’Arte, Pantaleão (também chamado de "O Velho") era um "mercador de Veneza" (expressão que deu título a uma peça de Shakespeare). Tirano avarento e galanteador desajeitado, era alvo constante das gozações dos servos e de outros personagens da trama

Arlequim

Também servo de Pantaleão, Arlequim era um espertalhão preguiçoso e insolente, que tentava convencer a todos da sua ingenuidade e estupidez. Depois de entrar em cena saltitando, deslocava-se pelo palco com passos de dança e um grande repertório de movimentos acrobáticos. Debochado, adorava pregar peças nos outros personagens e depois usava sua agilidade para escapar das confusões criadas. Outra de suas marcas-registradas era a roupa de losangos

Colombina

Criada de uma filha do patrão Pantaleão, mas tão bela e refinada quanto sua ama, Colombina era também o pivô de um triângulo amoroso que ficaria famoso no mundo todo - de um lado, o apaixonado Pierrô; do outro, o malandro Arlequim. Para despertar o amor desse último, a romântica serviçal cantava e dançava graciosamente nos espetáculos

www.Submarino.com.br/Livros

Projeto água pra que te quero ! - Nívia Uchôa

Pixinguinha





Pixinguinha
(Compositor, instrumentista e arranjador brasileiro)
23-4-1897, Rio de Janeiro (RJ)
17-2-1973, Rio de Janeiro (RJ)


Alfredo da Rocha Vianna Filho ou Pixinguinha, nome que mistura o dialeto africano "Pizin Din" (menino bom), dado por uma prima, com "Bexiguinha", por ter contraído bexiga, foi um dos músicos mais importantes da fase inicial da Música Popular Brasileira (MPB). Com um domínio técnico e um dom de improvisação encontrados nos grandes músicos de jazz, é considerado o maior flautista brasileiro de todos os tempos, além de um irreverente arranjador e compositor. Entre suas composições de maior sucesso estão Carinhoso (1923), Lamento e Rosa. Neto de africanos, começou a tocar, primeiro cavaquinho, depois uma flautinha de folha, acompanhando o pai que tocava flauta. Aos 12 anos, compôs sua primeira obra, o choro Lata de Leite. Aos 13, gravou seus primeiros discos como componente do conjunto Choro Carioca: São João Debaixo D'Água, Nhonhô em Sarilho e Salve (A Princesa de Cristal). Aos 14, estreou como diretor de harmonia do rancho Paladinos Japoneses e passou a fazer parte do conjunto Trio Suburbano. Aos 15, já tocava profissionalmente em casas noturnas, cassinos, cabarés e teatros. Em 1917, gravou a primeira música de sua autoria, a Valsa Rosa, e, em 1918, o choro Sofres Porque Queres. Nessa época, desenvolveu um estilo próprio, que mesclava seu conhecimento teórico com sua origem musical africana e com as polcas, os maxixes e os tanguinhos. Aos 20 anos formou o conjunto Os Oito Batutas (flauta, viola, violão, piano, bandolim, cavaquinho, pandeiro e reco-reco). Além de ter sido pioneiro na divulgação da música brasileira no exterior, adaptando para a técnica dos instrumentos europeus a variedade rítmica produzida por frigideiras, tamborins, cuícas e gogôs, o grupo popularizou instrumentos afro-brasileiros, até então conhecidos apenas nos morros e terreiros de umbanda, e abriu novas possibilidades para os músicos populares. Na década de 1940, sem a mesma embocadura para o uso da flauta e com as mãos trêmulas devido à sua devoção ao uísque, Pixinguinha trocou a flauta pelo saxofone, formando uma dupla com o flautista Benedito Lacerda. Fez uma parceria famosa com Vinícius de Moraes, na trilha sonora do filme Sol sobre a Lama, em 1962.

wikipédia

Molière



Molière
15/01/1622 (data do batismo), Paris, França
17/02/1673, Paris, França

Mestre da sátira, Jean-Baptiste Poquelin imortalizou-se como Molière

Jean-Baptiste Poquelin, conhecido pelo pseudônimo de Molière, nasceu em Paris, a 15 de janeiro de 1622, morrendo na mesma cidade a 17 de fevereiro de 1673. Filho de um rico mercador de tapetes, recebeu educação privilegiada: estudou no Colégio de Clermont, dos jesuítas. Atraído pela literatura e pela filosofia, é provável que tenha chegado a se formar em direito.

Em 1643 já se dedica ao teatro, unindo-se a uma família de atores por cuja filha, Madeleine, se apaixona. Funda, assim, o grupo L'Illustre Théâtre, que por dois anos se apresentou em Paris e, com o fracasso, as dívidas e a prisão temporária do próprio Molière, passa a excursionar pelas cidades do interior da França.

Durante cerca de 14 anos a companhia excursionou, representando obras do repertório clássico e algumas peças curtas de Molière. Em uma dessas viagens, o príncipe de Conti, governador do Languedoc, se tornou mecenas do grupo (de 1653 a 1657), dando o seu nome à companhia.

Em 1658 os atores representaram, diante do rei Luís 14, a obra "Nicomède de Corneille" e uma peça curta do próprio Molière, "O médico apaixonado". Devido ao êxito, a companhia passou a se chamar Trupe de Monsieur (uma referência ao irmão do rei, duque Filipe de Orléans) e, com a ajuda do novo mecenas, juntou-se a uma companhia italiana dedicada à commedia dell'arte.

A companhia apresentou em Paris "As preciosas ridículas", uma crítica à afetação e maneirismos da época. Em 1660, o grupo estabeleceu-se numa sala do Palais-Royal. A partir de então, Molière apresentaria em Paris - e ocasionalmente em outros lugares - obras próprias e de diversos autores, e enfrentaria com freqüência acusações de imoralidade e proibições impostas às suas obras.

A inveja e a hostilidade dos seus rivais encontram ótimo pretexto quando se casa com uma suposta irmã de Madeleine, talvez filha dela, vinte anos mais moça que o dramaturgo. Mas Molière tem, nessa época, as boas graças do rei Luís 14, e satiriza no palco os seus adversários, tirando partido de um conflito entre o poder real e a Companhia do Santo Sacramento, também chamada de "cabala dos devotos", um grupo da alta sociedade francesa que protesta contra o excessivo realismo e a irreverência das peças de Molière.

Só com a derrota e a dispersão dessa associação religiosa, depois de quatro a cinco anos de hesitações, o rei autoriza a encenação de "O tartufo", escrita em 1664, mas encenada apenas em 1669. O artista, contudo, se encontrava minado pela doença, por tragédias familiares e muitas dívidas. Poucos anos depois, já sem o apoio do rei, Molière morre poucas horas depois de uma representação de "O doente imaginário".

Na época, os atores não podiam, por lei, ser sepultados nos cemitérios normais, já que o clero considerava tal profissão a "representação do falso". Contudo, o rei conseguiu que o enterrassem durante a noite no cemitério reservado aos não-batizados. Em 1792, seus restos mortais foram levados para o Museu dos Monumentos Franceses e, em 1817, transferidos para o cemitério de Père Lachaise, em Paris.

Libertino e libertário

Representante máximo da comédia de língua francesa e um dos mais significativos dramaturgos da literatura universal, Molière é o mestre dos espetáculos divertidos, impregnados de uma viva trama do cotidiano e uma aguda visão satírica dos costumes, denunciando os caminhos e descaminhos da sociedade francesa do século 17 - e de todos os tempos.

Entre a ascensão do absolutismo e a expansão econômica da burguesia - da qual, aliás, era filho -, Molière exprime uma consciência irreverente desse processo, jogando com o humorismo de suas situações particulares e recompondo com ironia as aventuras humanas.

Para isso, Molière orienta-se por uma razão que é pós-cartesiana e pré-revolucionária, tendo de um lado o senso da justeza, da medida certa, e do outro uma inquietação que é crítica e sutilmente demolidora. O resultado é um equilíbrio que se percebe nas diretrizes da sua moralidade: ele acompanha os moralistas, mas só até certo ponto, pois sua valorização da experiência e natureza humanas está voltada para o futuro e antecipa, ideologicamente, a Revolução Francesa.

Molière se contrapõe aos dogmas católicos e situa suas esperanças - e suas desesperanças - na pura e simples natureza humana. Do caráter falível dessa natureza emergem duas características essenciais e fecundamente contraditórias da sua comédia: a matéria do riso e a matéria da melancolia. Melancolia que, muitas vezes, se aprofunda nos momentos de humor e escurece a máscara - às vezes trágica - da comédia.

Saboroso crítico da hipocrisia, das convenções repressivas, da beatice dos devotos, da falsa ciência e da estupidez sentenciosa dos médicos, Molière trabalha com intrigas simples, conduzindo seus personagens com uma lógica inflexível, de que extrai os efeitos cômicos. Em suas peças, o racional se diverte com o irracional. Seu pensamento é, de um lado, metódico, equilibrado - e, de outro, libertino e libertário.

Entre suas peças, destacam-se: "O misantropo", "O tartufo", "Escola de mulheres", "O doente imaginário", "A escola dos maridos", "Don Juan", "As sabichonas" e "O burguês fidalgo".

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional.

Paulo Moura



Paulo Moura (São José do Rio Preto, 17 de fevereiro de 1933) é um compositor, arranjador, saxofonista e clarinetista brasileiro de choro, samba e jazz.

Em 1982, compôs a trilha sonora do filme "O Bom Burguês", dirigido por Oswaldo Caldeira.

Em 2005 fez turnê nacional e internacional do espetáculo "Homenagem a Tom Jobim", ao lado de Armandinho, Yamandú Costa e Marcos Suzano.

Participou do documentário "Brasileirinho", do finlandês Mika Kaurismaki, que em 2005 foi uma das atrações da mostra Fórum do Festival de Berlim. Sua última apresentação foi no Copacabana Palace em um evento da Sachal Records.

Wikipédia

Benedito Lacerda



Benedito Lacerda (Macaé, 14 de março de 1903 — Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1958) foi um compositor, flautista e maestro brasileiro.

Nasceu em Macaé do estado do Rio de Janeiro, e desde pequeno freqüentou a Sociedade Musical Nova Aurora.
Filho da lavadeira Dona Lousada, Benedito sempre foi muito ágil em suas questões. Em 1920, quando sua família foi morar na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no Estácio, Benedito já em idade de servir se alista e passa a pertencer a banda da corporação. Une sua vivência em bandas de música no interior do estado (pelo menos dez anos) ao convívio com músicos da capital, principalmente os chorões e sambistas do Estácio. Em pouco tempo no posto de flautista da corporação passa numa prova em primeiro lugar para flautista de primeira classe ao tocar toda a parte de flauta do "Guarany" de Carlos Gomes. Por esse tempo estudou flauta no Instituto Nacional de Música com Belarmino de Sousa, pai do compositor Ciro de Sousa.

Benedito ficou cinco anos na carreira militar, e, em 1927 pediu baixa e mergulhou música popular. Em 1928 foi tocar com o grupo regional Boêmios da Cidade, acompanhando Josephine Baker, tocando em cinemas, orquestras de teatros, dancings, cabarets. Atuou também como saxofonista em algumas orquestras de jazz.

Ao findar os anos vinte e iniciar a década de 1930 Benedito Lacerda organizou um grupo com ritmos brasileiros, batizado de Gente do Morro. O "Gente do Morro" caracterizava-se pelos efeitos de percussão, convensões espertíssimas e solos de flauta. O grupo durou pouco e fez uma viagem á Campos acompanhando Noel Rosa[carece de fontes?].Como o "Gente do Morro" não vingou Benedito chamou o Horondino do violão(Dino Sete Cordas), que era do "Gente do Morro", e Canhoto do Cavaco e começaram a arregimentar mússicos para trabalhar com eles era o embrião do Conjunto Regional Benedito Lacerda. Com seu regional acompanhou nomes como Carmen Miranda, Luis Barbosa, Mário Reis Francisco Alves, Sílvio Caldas[carece de fontes?] além de atuar com êxito como compositor.

Na década de 1940, tocou nos cassinos que agregavam a música nacional e perpetuou uma série de gravações antológicas em parceria de flauta e sax com Pixinguinha, privilegiando o repertório de choro. Por conta do trabalho que a dupla empreendeu em cerca de 40 gravações mais as edições de músicas e lançamentos de álbuns de partituras Benedito fez com que a hipoteca da casa de Pixinguinha fosse paga e salvou o mestre de ser despejado.Em sinal de gratidão e por motivos de contrato, São Pixinguinha transformou Bené em parceiro de pérolas como Sofres por que queres, Naquele tempo e Um a zero (esta feita muito antes por ocasião do gol de Friedenreich no Campeonato de Futebol Sul-Americano de 1919). Mas o que importa é destacar os arranjos e contrapontos executados pela dupla, que revolucionaram a instrumentação brasileira e influenciaram até hoje os novos talentos musicais.

Foi compositor de carnaval premiado e pela atuação como fundador da União Brasileira de Compositores (UBC) e dirigente da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM). Morreu no Rio de Janeiro, vítima de câncer de pulmão, antes de completar 55 anos.


FONTE: ACERVO BENEDICTO LACERDA - MACAÉ RJ

Abel Ferreira


Abel Ferreira foi autodidata, e não apenas na música, pois a família impediu seus estudos, obrigando-o a trabalhar desde pequeno em diversos ofícios. Tanto a escolaridade quanto a educação musical vieram às escondidas; o aprendizado da música nasceu do estímulo de escutar a banda filarmônica de sua cidade.

Há registros de que aos cinco anos tocava gaita; aos sete, flauta de bambu; e aos 12 anos, depois de ter-se iniciado por conta própria em teoria musical através de um método da década de 1920 chamado “Artinha”, experimentou pela primeira vez uma clarineta de 13 chaves, sob a orientação de um obscuro professor de Coromandel, de nome Hipácio Gomes. "Esparramei os dedos do menino no instrumento", comentou Hipácio Gomes, 30 anos mais tarde. Abel Ferreira não teve nenhum outro professor de música, nem antes, nem depois. O contato com o saxofone veio aos 15 anos de idade; conta-se que, sabendo da existência de um sax alto numa outra cidade de Minas Gerais, Abel Ferreira viajou horas de trem apenas para conhecer o instrumento, que nunca havia visto. Aprendeu sozinho. Embora intuitivo, Abel tinha ouvido absoluto e aprendeu a escrever música, dominava a teoria musical, fazia arranjos e tocava piano.

O fato é que Abel trouxe a música dentro de si e dela não mais se separou. Nem de seu instrumento, o clarinete, que carregava para todo lado, lembrando os tempos de moleque em que desmontava peça por peça para tê-lo sempre nos bolsos. Aos doze estreou na banda de sua cidade e mais tarde começou a se destacar nas orquestras que tocava, sendo notado certa vez por Carmem Miranda num show em Poços de Caldas. Tendo passado por Belo Horizonte e Uberaba, foi aconselhado depois pelo maestro Gaó a seguir para São Paulo, onde conseguiu finalmente se profissionalizar.

Gravou seu primeiro choro, 'Chorando baixinho', em 1942. No ano seguinte foi para o Rio tocar nos Cassinos e nas rádios. Fez duetos memoráveis com Zé da Velha e com Pixinguinha, com quem gravou 'Ingênuo' em 1958. Nas contas do próprio Abel, compôs mais de cinquenta músicas, entre elas 'Acariciando', 'Luar de Coromandel' e 'Chorinho do Suvaco de Cobra'. Viajou o mundo todo e até seus últimos anos de vida continuou soprando o instrumento, em shows com Copinha e Raul de Barros. Morreu no Rio de Janeiro (RJ) no dia 12 de abril de 1980.

Abel Ferreira, instrumentista / compositor, nasceu em Coromandel MG em 15/2/1915 e faleceu no Rio de Janeiro em 13/4/1980. Com cerca de 12 anos começou a aprender música e clarineta com José Ferreira de Resende e Hipácio Gomes, em sua cidade. Aos 17 mudou-se para Belo Horizonte MG e passou a tocar sax alto e tenor, apresentando-se na Rádio Guarani.

Em 1935 foi para São Paulo, ingressando na orquestra de Maurício Cascapera. Em seguida mudou-se para Uberaba MG, onde se tornou diretor artístico da emissora de rádio local. Nessa época participou de um show em Poços de Caldas MG, em que acompanhou as irmãs Carmen e Aurora Miranda.

De volta a Belo Horizonte, tocou em 1937 com J. França e sua Banda. Com o mesmo grupo apresentou-se em São Paulo, em 1940, e mais tarde com Pinheirinho e seu Regional, na Rádio Tupi paulistana. Gravou suas primeiras composições, o choro Chorando baixinho, em solo de clarineta, e a valsa Vânia, em solo de saxofone, em 1942, na Columbia de São Paulo, com o acompanhamento do regional de Pinheirinho.

No ano seguinte mudou-se para o Rio de Janeiro RJ, onde passou a tocar com Ferreira Filho e sua Orquestra, no Cassino da Urca, lançando em 1944 uma nova gravação de suas primeiras composições, dessa vez com Claudionor Cruz e seu Regional. Em 1945 e 1946 tocou, respectivamente, nas orquestras de Vicente Paiva e Benê Nunes, apresentando-se em cassinos e na Rádio Globo.

Com esses conjuntos musicais, e com o seu grupo, formado em 1947, acompanhou vários cantores importantes da época, como Sílvio Caldas, Francisco Alves, Augusto Calheiros, Orlando Silva, Marlene, Emilinha Borba e outros.

Em 1949 ingressou na Rádio Nacional, onde passou a se apresentar como líder da Turma do Sereno; tocou no mesmo ano com Rui Rei e sua Orquestra, gravando na Todamérica seu choro Acariciando (com Lourival Faisal). Com Paulo Tapajós, seu companheiro na Rádio Nacional, formou em 1952 a Escola de Ritmos, que viajou por todo o Brasil.

Viajou em 1957 com seu conjunto em tournée por Portugal e em 1958 integrou o grupo Os Brasileiros, do qual também participavam Shuca, Trio Yrakitan, Dimas, Pernambuco e o maestro Guio de Morais, em excursão de divulgação de música brasileira em vários países europeus, gravando ainda o LP Os brasileiros na Europa. Viajou pelos EUA e Havaí, com o pianista Benê Nunes, em 1960, e pela Argentina com Waldir Azevedo, em 1961.

Voltou à Europa em 1964-1965, gravando nesse último ano o disco Abel Ferreira e sua turma. Visitou a URSS e outros países europeus em 1968. Na década de 1970, principalmente a partir do lançamento do LP Pra seu governo, de Beth Carvalho, na etiqueta Tapecar, tornou-se um dos músicos mais requisitados em gravações e shows, como acompanhante, no sax e na clarineta.

Legítimo herdeiro da categoria do clarinetista Luís Americano, aposentou-se no rádio em 1971, tendo durante esses anos composto vários choros que se incorporaram aos clássicos instrumentais: Doce melodia é um exemplo.

Com a redescoberta do choro e a criação do Clube do Choro, no Rio de Janeiro, em meados de 1975, voltou à atividade, passando a apresentar-se, ao lado de Raul de Barros e Copinha, em vários shows de teatro.

Quando se fala de clarineta, no Brasil, o primeiro nome que aflora à memória costuma ser o de Abel Ferreira. Não só pela ordem alfabética, mas pelo papel fundamental que exerceu na construção de um repertório brasileiro, baseado no choro e na seresta, e na herança deixada por um modo de tocar, profundo e envolvente.

Nascido em 1915, em Coromandel, MG, Abel teve as influências de todo menino de interior: a bandinha do coreto, as eventuais orquestras de baile, o rádio. Através deste conheceu o mestre Luiz Americano e o mágico Pixinguinha, que o levaram a se dividir entre a clarineta e os saxes.

Em 1935 mudou-se para São Paulo, para viver de música. Acompanhou várias orquestras e cantores em excursões pelo Brasil, e em 43 se fixa no Rio de Janeiro, tocando no famoso Cassino da Urca. Músico requisitado, compareceu a centenas de gravações acompanhando nomes famosos como Carmen Miranda, Orlando Silva, Francisco Alves, Emilinha Borba, Marlene e mais uma enorme lista, que alcança contemporâneos como Beth Carvalho ou Chico Buarque de Holanda. Quando morreu, em 1980, era considerado um mestre maior da clarineta brasileira. Luiz Americano, desaparecido 20 anos antes, havia deixado poucas gravações de boa qualidade, e no final da vida o vigor de seu sopro já não era o mesmo. Abel era soberano, e encantou jovens platéias pelo Brasil todo quando excursionou, junto com Ademilde Fonseca, no Projeto Pixinguinha, em 1976.

Tão importante quanto o intérprete é o Abel compositor. Algumas de suas invenções, muitas vezes transpassadas por uma melancolia que lhes imprime um caráter intimista, tornaram-se clássicos. Acariciando, Doce Melodia, Levanta Poeira, Chorinho do Sovaco de Cobra e, principalmente, Chorando Baixinho, são melodias de tal forma identificadas com a alma musical brasileira que não há quem não se encante ao ouvi-las, pela enésima vez, numa roda de choro.

Abel tem algumas gravações lançadas em CD, onde se encontram diversas versões de seus maiores sucessos. "Brasil, Sax e clarineta" (Discos Marcus Pereira), de 76, tornou-se um de seus trabalhos mais premiados. Há também gravações coletivas antológicas, com Artur Moreira Lima e o Época de Ouro, e o excelente "Chorando na Praça" com Paulo Moura, Copinha, Zé da Velha, Joel Nascimento e Waldyr Azevedo.

Abel Ferreira, mineiro de alma derramada como o luar de sua Coromandel, que homenageou numa valsa, é daqueles transmitem a boa sensação de permanência da música brasileira. Chorando baixinho, para sempre.


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Engenho

Quem escreve
principalmente
de madrugada
sabe da mágica
quando se volta
o pescoço
e os olhos
assustados
tremem.
Algo se pesca:
um objeto caseiro,
o ruído da cadeira,
até o sopro do ventilador.
Sabemos,
ou sabe quem escreve
sobretudo de madrugada,
que não é lá grande coisa
o poema que se desmembra.
Podemos dizer que é uma gelatina
com a luz da geladeira sobre seu dorso mole.
Sua alma dança amorosa, fria, delicada.
Ainda úmida dos pingos da gavetinha da carne.
Quem escreve de madrugada também entende
o momento de retirar os olhos pesados
da tela do computador.
Antigamente,
eram os dedos
os primeiros a tombar
entre o infinito duelo
do papel e da caneta.