Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A loucura de Geraldo e o delírio de tantos

Geraldo não sabe bem de onde surgiu o sobrenome que o faz famoso no Cariri. Ele o acompanha bem antes de fazer das calçadas seu quintal e da marquise do Banco do Brasil de Juazeiro , seu lar. Geraldo Doido é feliz e não podia ser diferente. Tem tudo de que precisa na sua casa , é um Diógenes dos nossos tempos. Confortável cama de papelão, travesseiro de jornais, iluminação doméstica a luz de mercúrio e a brisa da noite como ar condicionado, alguns Restaurantes próximos lhe servem de Cozinha. Não lhe faltam interlocutores a quem contar as suas peripécias e alimentar seus delírios.Quase nada é preciso para abrir seu sorriso sem tramelas, sorriso de banguelo, com porteira escancarada.
Os transeuntes riem , quando interpelado afirma que aquele Banco é seu e já está se preparando para aumentar o patrimônio, comprando um outro na circunvizinhança. Como não imaginar que o Banco é seu? Geraldo dorme na sua frente, ali defronte se alimenta , na vidraça do BB faz a sua maquiagem e, ao contrário dos funcionários e banqueiros, ali permanece as vinte e quatro horas. Poderia até requerer a posse por usucapião. Chegou a reclamar, alguns meses atrás, quando, sem sua expressa permissão, andaram demitindo e transferindo vários bancários, dizendo que era por causa de uma tal de Reengenharia. Geraldo Doido sabe, mais que os homens que se dizem sãos, que o que faz uma instituição não é a construção nem os equipamentos existentes nela, mas são as pessoas que lhe dão vida e a fazem eterna ou efêmera.
Quantos riem de Geraldo, do seu delírio de grandeza! Há uma certa nobreza, porém, trespassando aqueles molambos. E um risível contraste: o Capital e a vítima da sua selvageria dormindo no mesmo leito, em franca e amigável convivência. Dois Brasis antagônicos e díspares sob o mesmo teto: O Brasil do acúmulo de riqueza e o Brasil da fome e da miséria. Dois Brasis separados por um abismo!
A alucinação de Geraldo é muito comum entre nós. Quantas pessoas trabalham , dissipando sua juventude e vão acumulando riqueza, sem usufruí-la, com o único fito de mostrar orgulhosamente para os outros e se vangloriarem de ricos e soberanos? São os pobres ricos, cheios de jóias e de saldo bancário volumoso, mas que, exatamente como Geraldo, sentam vigilantes diante da riqueza e passam a vida observando e apontando aos amigos, sem a coragem de dissipá-la. Nem tentam a dificíl a alquimia de trnasformar dinheiro em felicidade. Alimentam uma loucura , exatamente como Geraldo Doido sob a Marquise do BB!
Os paises são também acometidos, às vezes, de crises de megalomania. Vejam o Brasil, de repente estabeleceram uma política econômica visando, única e exclusivamente à atração do capital estrangeiro para o país. A partir daí passamos a nos sentir ricos e prósperos, porque estávamos sentados diante do capital especulativo das nações ricas, vendo-o reluzir e pensando que era nosso, exatamente como Geraldo Doido, no seu delírio de grandeza. De repente os donos verdadeiros do dinheiro o levaram e ainda cá estamos, sob a marquise contando para todas as nações do mundo que somos ricos e afortunados , a mesma história de trancoso que Geraldo Doido conta diuturnamente a todos os que dele se aproximam. Se há loucura na história de Geraldo , o mundo todo é um hospício.


J. Flávio Vieira

P.S- Este artigo foi escrito em 1998. Recentemente “Geraldo Doido” foi barbaramente assassinado, enquanto dormia, na calçada do Banco de que se achava proprietário.

D. Marisa


Marisa Letícia Lula da Silva, palavras que precisavam ser ditas


por Hildegard Angel*


Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de “a Cara” por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa. À “companheira” número 1 da República, muito osso, afagos poucos.Dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de tudo – os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família?Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve. Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade.Depois, implicaram com o silêncio dela, a “mudez”, a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão?Ah, mas tudo que “eles” queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar pomposo de doutorados e mestrados.Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia.E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom? Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade.Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto.Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar “emergentes” metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo “arrodeado” de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada.No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita.Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor! Cobraram de Marisa Letícia um “trabalho social nacional”, um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social.Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo.Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam. Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos.Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.


*Hidegard Angel é colunista social no Rio de Janeiro, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel Jones; trabalhou como atriz no cinema e na televisão na década de 1970, dedicou-se ao colunismo social no jornal O Globo e desde 2003 no Jornal do Brasil.

BRUNO PEDROSA - UM ETERNO RETIRANTE - Por Edilma Rocha


O que se sabe de Bruno Pedrosa é muito. A quem interessar possa. Bruno é artista brasileiro, desenhista e pintor, com quadros em vários países, onde expôs com sucesso, que tem biografia e registro a partir de 1970, quando por obra do Divino Tribunal do Santo Ofício, chegaram ao Recife os seus antepassados, batizados de nomes novos, cristãos recentes, recuperados que eram. Amém. Assim, depois de breve adaptação às coisas e clima do Brasil, seus primeiros cromossomos foram dizimar, eucarísticamente é claro, os índios Inhamuns, no sertão cearense. Um tal de Bernardo Duarte Pinheiro, em 1717, no dia 20 de Fevereiro, ganhou de sua Majestade El Rey de Portugal, uma sesmaria, juntamente a terra habitada desde tempos imemoriais pelos pobres e indefesos índios.
Os Pinheiros viveram de gado que iam vender na feira de Tracunhaém, Pernambuco, Zona da Mata, hoje conhecida pelos seus artistas, que fazem imagens de barro. Quem sabe se  os dotes artísticos do povo de Tracunhaém não foram herança dos mesmos fornecedores dos cromossomos de Bruno ?
Quem sabe ? Mas isso é outra história.
O fato é que indo e vindo do sertão dos Inhamuns até Tracunhaém, pelo caminho um Pinheiro cruzou com uma Pedrosa, família também cristã, advinda e banida, pela Santa Inquisição, cuidando de gado pelos lados da Paraíba. Só faltava ter matado seus indiozinhos para fazer um casamento perfeito e, pelo jeito, não deu outra.
Quem vê Bruno pela primeira vez não imagina estar diante de um sertanejo. Vê mais um semita. Muito osso e pouca carne, nariz adunco e sempre de chapéu. Para ser rabino só falta o terno preto. Na realidade, conforme contei, Bruno é tudo isso, nordestino e semita, duplamente retirante, eterno romeiro em busca da Terra Prometida.
Tomara que ache.

Aristélio de Andrade

A Menininha - Por Alexandre Lucas

Vou ganhar essa noite
Desvendar o cheiro de enlatados
Cobrir-me de cansaço
Avermelhar os olhos
Jogar pedras como se jogasse bolas
Na retaguarda silenciosa dos postes guardiões das noites
Refletir sobre os sapatos gastos
E os pratos vazios
E o arco para o qual me deparo
Paro,
Lembro-me do sorriso de uma menininha suja
( cinco anos)
Que a coloquei nos meus braços
ou ela me colocou nos seus frágeis bracinhos
Como se o seu silêncio fosse um grito
Para banhar a sociedade que lhe sujava.

Alexandre Lucas

A FILOSOFIA PERENE DA EVOLUÇÃO


Todo e qualquer ser humano precisa passar por três etapas de evolução: a) se arrastar na ignorância e no prazer instintivo; b) se levantar na sabedoria da consciência esclarecida; c) (somente) brilhar e se iluminar na conquista da unidade do Amor Transcendental - o Amor Universal de Deus. Essas três etapas são fundamentais para se responder: Quem sou Eu? Qual é o sentido da vida material-espiritual? O que é o Verdadeiro Amor? De onde emana o princípio Criador e Transformador de tudo e de todos? De onde eu vim? Para onde eu vou? Qual é o Verdadeiro Caminho de Evolução?

A disciplina material e espiritual é fundamental para a passagem de uma etapa para outra. Poucos são aqueles que têm consciência desse processo e por isso uma multidão segue na escuridão da ignorância e do prazer impulsivo e egoísta – este é o caminho da ilusão. Uma pequena parcela de pessoas disciplinadas conseguiu vislumbrar a terceira etapa derradeira – este é o caminho da transcendência humana. As expressões transmutação, transformação de si, evolução espiritual, transcendência do eu e Amor Universal são palavras chaves como marcos da trajetória pessoal e perene.