Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

domingo, 17 de junho de 2012

Discutir pra quê? ou “Quid est veritas?” Por Mateus Mota Lima


Tomar uma cerveja e debater nunca foi tão difícil. Tente tratar de um assunto mais complexo ou incômodo e verá do que falo. Pior ainda: tente criticar uma teoria, um comportamento ou discorde do seu interlocutor apresentando firmes argumentos e logo sinta-se um malfeitor, perturbador de uma ordem que se define por não ser ordem alguma.

Um dos colegas vai logo fazer uma careta e ignorar-lhe solenemente. Outro iniciará uma conversa – não retrógrada como a sua – a respeito dos últimos acontecimentos da novela das oito. Os demais, perplexos por sua incivilidade, vão sentenciar sua deplorável conduta com palavras que sequer sabem o significado – inquisidor, intolerante, orgulhoso, fascista, preconceituoso, etc.. – e voltarão às suas casas com a cândida certeza de terem prestado um serviço à humanidade, reprimindo o sub-humano que teimava em não aceitar o que Dráuzio Varela e Jô Soares já haviam revelado aos simples mortais.

Tudo por causa de seu nefasto intuito de usufruir da função milenar dos bares.

É claro que a ignorância de muitos é um dado sociológico que explica várias das razões que levam as pessoas a agirem de tal modo, mas acredito que há antes um fator mais decisivo: o desprezo pela verdade.

Uma lição que tomei em minha vida - e que me empenho em cumprir – é que devo sempre aceitar a verdade – seja sobre as coisas, teorias ou sobre mim – mesmo que me seja dita pelo pior inimigo, da forma mais odiosa possível. Isso porque deve-se aproveitar de tudo para ser melhor e somente a verdade é capaz de apontar o caminho certo a ser seguido e o errado a ser evitado.

O que vejo entre muitas pessoas com quem convivo é precisamente o oposto: despreze tudo, mesmo que seja a mais reluzente verdade, para que as idéias que você elegeu – por comodidade ou apego emocional, sem qualquer investigação racional séria – não sejam questionadas e você possa seguir a vida inteira, uma vez turvada a inteligência, sob o império dos mais baixos desejos, os quais se tornam a fonte da “verdade”.

Não é que tais pessoas estejam simplesmente enganadas, mas que elas não se importam em estar ou mesmo evitam descobrir se estão. Talvez seja este o principal motivo de tantos se dizerem agnósticos… Sem querer generalizar, a maior parte dos agnósticos que já conversei a respeito de sua posição não sabem em que e porque desacreditam e em que e porque acreditam, além de não fazerem o mínimo esforço para saírem da cômoda situação de um agnosticismo teórico e de um ateísmo prático.

É essa falta de interesse por saber o que é verdadeiro que conduz muitos a evitarem as perguntas que, no fundo, suscitam-lhes a certeza de que estão errados. É por isso que é bem mais fácil aceitarem a tão em moda ditadura do relativismo. É por isso que as boas companhias para se tomar uma cerveja se tornam cada dia mais raras.

Esse desprezo, no entanto, não é nada novo e se queremos aprender com a história é bom lembrar que foi um “Quid est veritas?” que levou a humanidade a cometer seu maior crime.

Fonte: http://revistavilanova.com

(Postado inicialmente no Blog do Crato, por Antônio Sávio)